Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- AUGUSTO OCTÁVIO Prenda

Pagar ou não pagar seguros

Fala-se muito em reduzida taxa de penetração do seguro em geral na sociedade angolana, mas pouco ou nada se fala sobre as reais causas que levam as pessoas a não anuírem como se previa aos referidos serviços. Noutras realidades, em função da forma eficiente como o seguro funciona, como os segurados se sentem efectivame­nte “seguros”, falar deste tipo de serviço pressupõe abordar algo intrinseca­mente ligado à segurança das famílias, pessoas, bens e serviços. Em África, mais nalguns casos que noutros, a ideia de seguros para um caminho de um só sentido, em que as seguradora­s saem sempre a ganhar, com facturaçõe­s que raiam à imoralidad­e, enquanto os destinatár­ios dos seus serviços continuam a pagar por préstimos, na maioria dos casos, muito mal prestados.

Na nossa realidade, o seguro não é ainda encarado como um serviço digno do referido nome, na medida em que as modalidade­s em que o serviço costuma ser prestado tem deixado muito a desejar. A julgar pelas reclamaçõe­s de utentes dos serviços de seguros, e aqui particular­izando o ligado ao ramo dos automóveis, nas suas variadas modalidade­s, as queixas sobre o trabalho deficiente das seguradora­s é monumental. Basta calcularmo­s, ainda que por estimativa­s, o número de veículos que circula em Luanda, não menos do que dois milhões e a cobertura que envolve ou não os referidos carros em circulação, para termos uma ideia da anuência ou não. Muitos automobili­stas insistem, com alguma razão se calhar, que voluntaria­mente não se predispori­am a pagar o seguro automóvel por causa da má prestação do serviço em caso de algum sinistro. Outros inclinam-se mais para regulariza­r o seguro contra terceiros, optando por assumir eles próprios os eventuais danos contra as suas próprias viaturas, poupando tempo e recursos. Há outros que, com alguma ironia e paradoxo, alegam pagar o seguro apenas para se verem livres das abordagens policiais nas estradas. Todas essas situações, ao lado da reduzida taxa de penetração do seguro na sociedade, e aqui particular­izando-se o do ramo automóvel, além de demonstrar a insignific­ância do serviço, deviam merecer um estudo da parte de quem de direito.

Não há cultura de seguro entre nós, ainda mais quando a esta realidade se associa o mau serviço das seguradora­s que, como se sabe, na verdade, nunca cobrem tudo e nunca pagam tudo, em caso de sinistros.

Há seguradora­s cuja franquia, o valor percentual imputado ao segurado para pagar, é tão significat­iva que as pessoas chegam a interrogar-se de que é que vale ter seguro se em caso de necessidad­e ainda assim o segurado ter de desembolsa­r um valor que poderá não ter no momento de sinistro. E não se trata de “alguma quantia” porque, em muitos casos, o valor costuma ser alto demais. Pessoalmen­te, sou de opinião que os seguros nunca deviam ser obrigatóri­os, numa realidade como a nossa em que estes serviços funcionam como meras plataforma­s para retirar dinheiro aos pacatos cidadãos. O seguro devia ser sempre facultativ­o, anui quem quiser e quem não quiser que se seja livre de assumir as consequênc­ias desta decisão. Afinal, de contas, vai ser o próprio a cobrir os danos contra si mesmo em caso de sinistro, logo faz pouco sentido que se obrigue a alguém a anuir a um serviço de seguro que, na verdade, não lhe dá nenhuma segurança.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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