CARTAS DOS LEITORES
Pagar ou não pagar seguros
Fala-se muito em reduzida taxa de penetração do seguro em geral na sociedade angolana, mas pouco ou nada se fala sobre as reais causas que levam as pessoas a não anuírem como se previa aos referidos serviços. Noutras realidades, em função da forma eficiente como o seguro funciona, como os segurados se sentem efectivamente “seguros”, falar deste tipo de serviço pressupõe abordar algo intrinsecamente ligado à segurança das famílias, pessoas, bens e serviços. Em África, mais nalguns casos que noutros, a ideia de seguros para um caminho de um só sentido, em que as seguradoras saem sempre a ganhar, com facturações que raiam à imoralidade, enquanto os destinatários dos seus serviços continuam a pagar por préstimos, na maioria dos casos, muito mal prestados.
Na nossa realidade, o seguro não é ainda encarado como um serviço digno do referido nome, na medida em que as modalidades em que o serviço costuma ser prestado tem deixado muito a desejar. A julgar pelas reclamações de utentes dos serviços de seguros, e aqui particularizando o ligado ao ramo dos automóveis, nas suas variadas modalidades, as queixas sobre o trabalho deficiente das seguradoras é monumental. Basta calcularmos, ainda que por estimativas, o número de veículos que circula em Luanda, não menos do que dois milhões e a cobertura que envolve ou não os referidos carros em circulação, para termos uma ideia da anuência ou não. Muitos automobilistas insistem, com alguma razão se calhar, que voluntariamente não se predisporiam a pagar o seguro automóvel por causa da má prestação do serviço em caso de algum sinistro. Outros inclinam-se mais para regularizar o seguro contra terceiros, optando por assumir eles próprios os eventuais danos contra as suas próprias viaturas, poupando tempo e recursos. Há outros que, com alguma ironia e paradoxo, alegam pagar o seguro apenas para se verem livres das abordagens policiais nas estradas. Todas essas situações, ao lado da reduzida taxa de penetração do seguro na sociedade, e aqui particularizando-se o do ramo automóvel, além de demonstrar a insignificância do serviço, deviam merecer um estudo da parte de quem de direito.
Não há cultura de seguro entre nós, ainda mais quando a esta realidade se associa o mau serviço das seguradoras que, como se sabe, na verdade, nunca cobrem tudo e nunca pagam tudo, em caso de sinistros.
Há seguradoras cuja franquia, o valor percentual imputado ao segurado para pagar, é tão significativa que as pessoas chegam a interrogar-se de que é que vale ter seguro se em caso de necessidade ainda assim o segurado ter de desembolsar um valor que poderá não ter no momento de sinistro. E não se trata de “alguma quantia” porque, em muitos casos, o valor costuma ser alto demais. Pessoalmente, sou de opinião que os seguros nunca deviam ser obrigatórios, numa realidade como a nossa em que estes serviços funcionam como meras plataformas para retirar dinheiro aos pacatos cidadãos. O seguro devia ser sempre facultativo, anui quem quiser e quem não quiser que se seja livre de assumir as consequências desta decisão. Afinal, de contas, vai ser o próprio a cobrir os danos contra si mesmo em caso de sinistro, logo faz pouco sentido que se obrigue a alguém a anuir a um serviço de seguro que, na verdade, não lhe dá nenhuma segurança.