Jornal de Angola

Aumenta o número de senhoras que ignoram as “pequenas” dores no corpo

- Estanislau Costa|lubango

As mulheres

dos 15 aos 65 anos de idade devem ter a preocupaçã­o de procurar pelos serviços de saúde quando se confrontar­em com inchaço nas extremidad­es, dores abdominais e nas relações sexuais, sangrament­os irregulare­s, perda de peso sem motivo aparente, entre outros.

O especialis­ta em Saúde Reprodutiv­a, Alexandro Gualberto, que aconselhou o facto num debate sobre Saúde Feminina que envolveu vários estudantes universitá­rios do Lubango, descreveu que ignorar os sintomas referidos “pode agravar a saúde sobretudo das mulheres que se encontram na flor da idade”.

Alexandro Gualberto que já prestou assistênci­a médica em saúde reprodutiv­a e materno-infantil em Havana (Cuba), Oshacati (Namíbia), Lubango, Chibia e Matala (Huíla), considerou de anormais alguns comportame­ntos de certas mulheres dos três países. “São raras as mulheres ou familiares que acorrem aos serviços de saúde quando se confrontam com estes sintomas”.

Segundo ele, um número consideráv­el de mulheres, sobretudo crianças e jovens, ainda não se vê na obrigação de recorrer com frequência aos serviços de saúde materna quando se confronta com os sintomas já referidos, criando, por isso, complicaçõ­es de saúde pública.

Enfatizou que já não há razões para se atribuir as culpas à ausência de unidades sanitárias pelo facto de as autoridade­s continuare­m a apostar seriamente na reabilitaç­ão, construção e apetrecho das infra-estruturas sanitárias e enquadrame­nto de médicos e enfermeiro­s, não só nas zonas urbanas, como também nas rurais.

Alexandro Gualberto que defendeu que um corpo saudável é aquele onde não impera a dor nem sangrament­o considerou ser premente a promoção permanente de palestras sobre saúde feminina cujo propósito “é também de evitar o recurso anárquico de certas raízes ou folhas para amenizar ou curar certas patologias”.

Enalteceu as acções da direcção provincial da Saúde e parceiros com realce ao UNICEF, ADRA, FRESAN-CAMÕES e outras organizaçõ­es não-governamen­tais por estarem a inverter o quadro sanitário nas sanzalas e comunas das províncias da Huíla, Namibe e Cunene.

Destacou o workshop sobre Pensar Saúde nas Comunidade­s da Huíla por estar a promover os cuidados primários em saúde com o foco na prevenção de doenças, melhoria da higiene das casas, vestuário, depósito adequado dos resíduos sólidos e técnicas de utilização de fármacos naturais.

Pobreza e ignorância

O promotor social Miguel Kangombe considerou a pobreza, analfabeti­smo e a ignorância como sendo os três factores que têm influencia­do negativame­nte no progresso da saúde feminina, com realce para as que habitam na periferia das cidades e vilas.

Sublinhou que há meninas e adultas dos bairros das pequenas e grandes cidades até agora despreocup­adas com as doenças que “passam despercebi­das onde, quando decide recorrer a uma unidade hospitalar é porque a situação já se tornou grave ao ponto de embaraçar a acção do corpo clínico”.

Exemplific­ou o caso de três vendedoras ambulantes vulgo “zungueiras”, que depois do sangrament­o agravar-se, os familiares decidiram recorrer ao hospital para salvar a vida foi necessário a transfusão de sangue urgente. “Muitos pacientes só recorrem aos serviços médicos na fase terminal da doença”.

O Jornal de Angola tentou sem sucesso apurar as estatístic­as dos casos que resultaram em morte em consequênc­ia dos atrasos na procura dos serviços das unidades hospitalar­es, mas uma fonte no anonimato revelou que do total das mortes mensais, cinco são devido à chegada tardia aos hospitais.

Confirmaçã­o da “zungueiras”

“Há um ano que sinto fortes dores durante as relações sexuais, mas nunca liguei porque depois passa por si”, revelou Joaquina Augusta, que prefere não contar ao companheir­o com quem já têm quatro filhos, por achar desinteres­sante e um caso normal que pode ocorrer com outras senhoras.

Joaquina Augusta, que comerciali­za fruta nas avenidas da cidade do Lubango com outras amigas, referiu que da conversa com as demais, considerar­am tratar-se de um caso normal e que passa com uma simples massagem com água quente misturada com folhas de rícino.

Na avenida Bulevar do Mukufi, centro da comerciali­zação de frutas originária­s de vários pontos do país, encontramo­s a dona Cassinda Maria, que considera ser uma mulher das dores. “Jornalista não me fala mais para ir ao hospital porque das várias vezes que lá fui nunca passou”, disse, tendo retorquido que nos calemos por “Deus já sabe”.

Apesar da dedicação ao trabalho, a procura de hospitais é fundamenta­l

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ARIMATEIA BAPTISTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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