Jornal de Angola

Taxa de gravidez da adolescênc­ia é de 163 partos por mil raparigas

Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a População, divulgados, em Luanda, Angola tem cerca de dez milhões de meninas e mulheres em idade reprodutiv­a

- Alexa Sonhi

A taxa de gravidez da adolescênc­ia no país é de 163 nascimento­s por mil raparigas entre 15 e 19 anos, constituin­do-se numa das mais altas da região, revelou, ontem, em Luanda, o repres entante do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP).

Madie Byaie, que falava durante a I Conferênci­a Nacional sobre a Menstruaçã­o, realçou que a falta de escolarida­de é um dos factores que faz com que as raparigas engravidem e tenham filhos de forma precoce.

Por exemplo, realçou que Angola tem cerca de dez milhões de meninas e mulheres em idade reprodutiv­a, sendo que 75 por cento dessas raparigas frequentam apenas o ensino primário e só 15,15% se encontram no ensino médio ou secundário.

Madie Byaie avançou, ainda, que 58% das mulheres que não concluíram nenhum nível de escolarida­de já iniciaram a vida reprodutiv­a, cifras que reduzem em pessoas do sexo feminino com ensino médio ou superior, compreende­ndo apenas 25%.

Na conferênci­a, que decorreu sob o lema “Meu corpo, minha vida, meu mundo”, o diplomata explicou que, infelizmen­te, em Angola não existem indicadore­s precisos que ajudem a medir qualquer tópico relacionad­o com a Saúde Menstrual e, assim, apoiar o problema e integrar as mulheres e raparigas nos papéis de tomada de decisão.

Essa situação, referiu, acrescento­u significad­o aos programas que o FNUAP está a i mplementar, ao g e r a r evi dências para influencia­r a criação de políticas nacionais que promovam a saúde menstrual e manter as meninas na escola adiando, assim, a primeira gravidez.

Madie Byaie acentuou que o FNUAP tem apoiado o fortalecim­ento da Saúde Menstrual, através da distribuiç­ão de produtos para mulheres e meninas gerirem a sua menstruaçã­o, e no apoio à formação de 54 formadores dessa área que, em 2020 e 2021, alcançaram seis mil raparigas e rapazes dos 12 e 19 anos.

Depois da formação, foram partilhada­s informaçõe­s sobre Saúde Sexual e Reprodutiv­a e Saúde Menstrual, distribui-se calcinhas de menstruaçã­o e relógios menstruais a meninas que permitem que elas possam gerir com conforto e dignidade os seus ciclos menstruais.

Madie Byaie considerou que a gestão de saúde menstrual pobre, incluindo a falta de saneamento, saúde, autonomia corporal de mulheres e meninas, estigmatiz­ação e l i mitação de práticas sociais, culturais ou religiosas, podem i mpactar negativame­nte na vida dessa camada da sociedade.

Programa regional

O representa­nte do FNUAP em Angola, explicou que existe o Programa Regional de Salvaguard­a de Jovens 2021-2022, com duração de cinco anos, que visa cont ribuir para o alcance e acesso universal à saúde sexual e reprodutiv­a e à realização dos direitos reprodutiv­os de 60 mil jovens e adolescent­es de Luanda, Huíla, Namibe, Cunene e Cuando Cubango.

Esclareceu que FNUAP e os seus parceiros institucio­nais, com o apoio da Embaixada do Reino dos Países Baixos, desenvolve­u uma actividade de formação para 32 formadores das cinco províncias alvo, com o objectivo de alcançar 15 mil meninas e cinco mil rapazes dos 10 aos 24 anos.

Madie Byaie realçou que, nesta formação, foram apresentad­as materiais que permitam às meninas gerirem a sua menstruaçã­o e, ao mesmo tempo, manter-se na escola, e aos rapazes fortalecer o seu conhecimen­to sobre Saúde Sexual e Reprodutiv­a e o ciclo menstrual, promovendo assim a igualdade do género.

Expansão do projecto “Jiro”

O secretário do Estado da Juventude, Fernando João, referiu que o Ministério de tutela está comprometi­do com a causa do empoderame­nto das meninas e, por isso, está a expandir para os municípios o projecto Juventude Informada, Responsáve­l e Organizada (Jiro), para ajudar a informar mulheres e meninas que carecem de mais esclarecim­entos sobre saúde sexual.

Fernando João sublinhou que o Jiro já conta com mais de 700 j ovens activistas voluntário­s em todo o país, o que permitiu a milhares de adolescent­es e jovens terem acesso a informaçõe­s técnicas e habilidade­s para que saibam tomar atitudes correctas, com realce para a Saúde Sexual e Reprodutiv­a.

O secretário de Estado avançou que está em funcioname­nto um Call Center do projecto “SMS Jovem”, na Casa da Juventude de Viana, em Luanda, que, em tempo real, responde às dúvidas e inquietaçõ­es de adolescent­es e jovens.

Fernando João disse que esta plataforma foi preparada para que seja possível realizar a recolha, análise directa e rápida de dados, com vista a permitir que as instituiçõ­es públicas, ONG nacionais e internacio­nais e a imprensa possam utilizar informaçõe­s recolhidas para o desenvolvi­mento de políticas e programas que beneficiem os adolescent­es e jovens.

A presidir a conferênci­a, a secretária de Estado para a Família e Promoção da Mulher, Elsa Bárber, destacou que o Ministério a que pertence vai continuar a trabalhar no sentido de empoderar, cada vez mais, as mulheres, dotando-as de conhecimen­tos que permitam que elas defendam os seus direitos.

“A educação sexual é i mportante para que as meninas conheçam o seu próprio corpo e saibam qual o momento c e r t o para começarem a vida reprodutiv­a”, realçou a secretária de Estado.

O Dia Mundial da Higiene Menstrual é celebrado a 28 de Maio, por correspond­er aos ciclos menstruais, que duram, em média, 28 dias, sendo que as mulheres menstruam, geralmente, cinco dias, número que representa o quinto mês do ano.

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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Executivo aposta na educação sexual de raparigas para reduzir os casos de gravidez precoce

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