O povo não come algodão
Se bem me
recordo, “o povo não come algodão” era o título de um texto que vinha no livro de leitura da 5ª e 6ª classes da época em que andava no II nível, ou seja, na década de oitenta. Esse texto era um extracto de um discurso de Amílcar Cabral, político e revolucionário, líder do PAIGC- Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, assassinado em 1973. Hoje, eu diria o povo não come capim, pois claro que não!
Até há poucas semanas, os preços dos produtos que compõem a cesta básica não paravam de subir. Todos os santos dias, tínhamos preços novos, sempre para cima, levando as famílias a apertar mais e mais o cinto. A carestia da vida chegou a um estado tal, que muitos pais abandonaram suas famílias, outros transformaram os filhos em mendigos para sobreviverem.
Porém, nos últimos dias, temos assistido a uma descida de preços, sobretudo, do saco de arroz, que, feliz ou infelizmente, vem tirando o lugar do funge na dieta diária dos angolanos.
Na loja da Angomart, passe a publicidade, encontrei o saco de arroz de 25kg a ser vendido a 6500 kwanzas. Confesso que não quis acreditar, pois que já cheguei a pagar 16000 mil kwanzas por saco. Vi pessoas a levarem dois, três sacos ou mais. Uns, se calhar, a pensarem já em revender, a preços de arrancar os olhos, nos próximos dias, já que vivemos todos com o trauma da escassez. Eu mbora comprei só um saquinho, aliás, o Presidente João Lourenço disse, recentemente no Huambo, que o Executivo criou uma estratégia para não deixar faltar mais comida no país e, deste modo, combater a subida de preços. JLO ainda lançou um aviso àqueles comerciantes gananciosos que têm a mania de guardar as mercadorias para depois as venderem mais caro do que realmente valem no mercado.
“Seus produtos vão apodrecer nos armazéns se insistirem na prática da especulação”, alertou o mais alto Magistrado da Nação.
Com a criação da chamada reserva alimentar, parece que o Governo, finalmente acertou na mosca, como soe dizer-se, pelo menos nesta fase de crise económica e financeira que estamos com ela há cerca de dez anos.
Quer s e r econheça, quer não, a verdade verdadeira, se me permitem a redundância, é que j á se vai notando algum desanuviar da tensão no seio da população. Nos armazéns, por exemplo, não se vêem mais senhoras à procura de sócia para repartir o saco de arroz ou de fuba. Agora, sócia é só j á para os frescos, tipo assim “conxa” ou caixa de “carapau de menina”.
Mas, como é de resto natural, quando uma coisa está bem, haverá sempre outra que vai mal. Se a maka do papucho está quase a ser ultrapassada, o mesmo não se pode dizer da questão da delinquência e do imediatismo. Os ndengues, nos musseques e não só, não estão com meias medidas. As lutas entre as ngangues são tão violentas que só com uma “mão de ferro” das autoridades, poderão ser travadas.
O imediatismo, a ânsia de ter, sem fazer por isso, é quase uma espécie de cultura que se impregnou na mentalidade de alguns jovens, infelizmente. Na passada quarta-feira, fiquei muito chocado com uma reportagem do programa Ecos e Factos, se não estou em erro, que dava a saber que um jovem atleta de jiu-jitsu terá matado a própria mãe para subir de cinturão.
É urgente, por isso, que os pais ensinem aos filhos que para se ter é preciso suar a camisola e que não é com lumpenagem que se chega lá.
Catê mais