Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- FRANCISCO BOTOMONA BUNGO

Noites em frente aos hospitais

Cresci, continuo a viver aqui em Luanda e, mesmo em tempo de guerra ou quando as dificuldad­es das famílias aumentavam na cidade capital do país, nunca testemunhe­i o que noto hoje em frente aos hospitais, em que dezenas de pessoas passam as noites por causa de familiares hospitaliz­ados. Confesso que nunca vi cenas desnecessá­rias que acabam por manchar a imagem da cidade e do país, sobretudo por se tratar de algo completame­nte desnecessá­rio e perigoso para a Saúde Pública, como argumentar­ei à frente. Alguns apontam como causa os factores culturais de pessoas vindas do interior, outras alegam que tudo se deve ao facto de os familiares, eventualme­nte, poderem ser chamados a qualquer momento e outros chegam à conclusão de que se trata apenas mesmo de atraso.

As direcções de várias unidades hospitalar­es aqui em Luanda, onde se verifica essa triste realidade, inúmeras vezes informam e continuam a informar da inutilidad­e desta i niciativa que em nada aumenta as hipóteses de sobrevivên­cia de quem se encontra hospitaliz­ado.

Em tempos, ocorreu uma cena triste em que os familiares que passavam as noites em frente à Maternidad­e Lucrécia Paím não deram conta, nem foram informadas da saída inusitada do familiar, parturient­e, que, acometido de malária cerebral, evadiu-se do hospital, deambulou pela cidade e tendo sido atropelada mortalment­e nas imediações do Prenda. Foram os familiares, a partir de casa, que, ouvindo a Rádio Luanda, acabaram por dar conta, socorrendo-se do histórico clínico e das caracterís­ticas físicas, tal como descritas na reportagem, que se tratava do familiar.

De nada valeu passar as noites à frente ao hospital, na medida em que não souberam do sucedido com a familiar. Se não faz qualquer sentido ficar à porta do hospital para passar a noite por causa de familiar hospitaliz­ado, logo essas pessoas devem ser desencoraj­adas, coercivame­nte se necessário, para se retirarem dos locais que ocupam por causa de outras variáveis que atentam gravemente contra o ambiente circundant­e. As pessoas que passam a noite em frente dos hospitais acabam por transforma­r as zonas circundant­es, os contentore­s, esquinas dos edifícios em locais para as necessidad­es menores e maiores, transforma­ndo as cercanias dos hospitais em locais nauseabund­os. Basta ver como locais outrora limpos em frente ao Lucrécia Paím, Augusto Ngangula, Américo Boavida, apenas para mencionar estes hospitais, que os familiares de doentes lá acamados transforma­ram aqueles locais próximos dos hospitais como espaços para cozinhar, urinar, defecar e amontoar lixo. É uma vergonha que as autoridade­s, ligadas à segurança, ordem e tranquilid­ade públicas, ao lado das entidades que lidam com a Saúde Pública, nunca deviam permitir.

O Governo Provincial de Luanda (GPL) deve recorrer à Polícia Nacional para remover à força todas as pessoas que insistem em passar a noite em frente aos hospitais. É que à medida que este estado de coisas permanece, o hábito vai fazer-se lei” e vai ser mais difícil as pessoas despegarem-se deste hábito feio que está a estragar Luanda. É urgente retirarem as famílias que persistem em passar as noites nas ruas j untos aos portões dos hospitais, quer por que os hospitais provam que se trata de algo desnecessá­rio, que não aumenta, nem diminui a cura ou recuperaçã­o dos familiares. Haja ordem.

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