CARTAS DOS LEITORES
Noites em frente aos hospitais
Cresci, continuo a viver aqui em Luanda e, mesmo em tempo de guerra ou quando as dificuldades das famílias aumentavam na cidade capital do país, nunca testemunhei o que noto hoje em frente aos hospitais, em que dezenas de pessoas passam as noites por causa de familiares hospitalizados. Confesso que nunca vi cenas desnecessárias que acabam por manchar a imagem da cidade e do país, sobretudo por se tratar de algo completamente desnecessário e perigoso para a Saúde Pública, como argumentarei à frente. Alguns apontam como causa os factores culturais de pessoas vindas do interior, outras alegam que tudo se deve ao facto de os familiares, eventualmente, poderem ser chamados a qualquer momento e outros chegam à conclusão de que se trata apenas mesmo de atraso.
As direcções de várias unidades hospitalares aqui em Luanda, onde se verifica essa triste realidade, inúmeras vezes informam e continuam a informar da inutilidade desta i niciativa que em nada aumenta as hipóteses de sobrevivência de quem se encontra hospitalizado.
Em tempos, ocorreu uma cena triste em que os familiares que passavam as noites em frente à Maternidade Lucrécia Paím não deram conta, nem foram informadas da saída inusitada do familiar, parturiente, que, acometido de malária cerebral, evadiu-se do hospital, deambulou pela cidade e tendo sido atropelada mortalmente nas imediações do Prenda. Foram os familiares, a partir de casa, que, ouvindo a Rádio Luanda, acabaram por dar conta, socorrendo-se do histórico clínico e das características físicas, tal como descritas na reportagem, que se tratava do familiar.
De nada valeu passar as noites à frente ao hospital, na medida em que não souberam do sucedido com a familiar. Se não faz qualquer sentido ficar à porta do hospital para passar a noite por causa de familiar hospitalizado, logo essas pessoas devem ser desencorajadas, coercivamente se necessário, para se retirarem dos locais que ocupam por causa de outras variáveis que atentam gravemente contra o ambiente circundante. As pessoas que passam a noite em frente dos hospitais acabam por transformar as zonas circundantes, os contentores, esquinas dos edifícios em locais para as necessidades menores e maiores, transformando as cercanias dos hospitais em locais nauseabundos. Basta ver como locais outrora limpos em frente ao Lucrécia Paím, Augusto Ngangula, Américo Boavida, apenas para mencionar estes hospitais, que os familiares de doentes lá acamados transformaram aqueles locais próximos dos hospitais como espaços para cozinhar, urinar, defecar e amontoar lixo. É uma vergonha que as autoridades, ligadas à segurança, ordem e tranquilidade públicas, ao lado das entidades que lidam com a Saúde Pública, nunca deviam permitir.
O Governo Provincial de Luanda (GPL) deve recorrer à Polícia Nacional para remover à força todas as pessoas que insistem em passar a noite em frente aos hospitais. É que à medida que este estado de coisas permanece, o hábito vai fazer-se lei” e vai ser mais difícil as pessoas despegarem-se deste hábito feio que está a estragar Luanda. É urgente retirarem as famílias que persistem em passar as noites nas ruas j untos aos portões dos hospitais, quer por que os hospitais provam que se trata de algo desnecessário, que não aumenta, nem diminui a cura ou recuperação dos familiares. Haja ordem.