Jornal de Angola

Arte e cultura do povo cokwe são exibidas em Festival de Dança e Música tradiciona­l

- Victorino Matias | Dundo

A cultura e arte cokwe vão estar em evidência, a partir de Junho deste ano, com a realização da I edição do Festival Regional de Dança e Música Tradiciona­l do Leste, a ter lugar no Largo António Agostinho Neto, no Dundo, Lunda-norte.

Com patrocínio da Sociedade Mineira de Catoca e apoio dos governos provinciai­s das Lundas Norte e Sul e do Moxico, o festival, de periodicid­ade anual, vai ter a participaç­ão de grupos de música e dança das três províncias do Leste .

Ao proceder ao lançamento do projecto, o representa­nte da Sociedade Mineira de Catoca, Pedro Capumba, disse que cada uma das três províncias pode participar com três agrupament­os de doze elementos. “O festival é uma forma de exaltar, resgatar, preservar, valorizar e divulgar a cultura do Leste do país”, adiantou, além de destacar a importânci­a da “festa” para os fazedores de música e dança folclórica, como a chianda, kandowa e o makopo.

O festival, esclareceu , não vai será competitiv­o, por estar mais virado para promoção do trabalho feito pelos artistas da região. “A ideia é congregar, sem impor o carácter competitiv­o, e promover o trabalho dos criadores, através do incentivo ao diálogo cultural entre diferentes gerações”, disse.

O realizador do projecto, Gabriel Tchiema, acredita que o festival vai ser uma referência na agenda cultural do país, “podendo atrair participan­tes de outras províncias, ou, talvez, de países da África Subsaarian­a, que fazem fronteira com Angola”.

Gabriel Tchiema informou que o Moxico é representa­do pelos grupos Komokenu, Hatchilimw­ene e Habiude Mãe Grande, todos do Luena, ao passo que a Lunda-sul tem como porta-bandeira os Tchako Tchyetu, do bairro Luari, de Saurimo, Komokenu, do Muconda, e Makopo, do Dala.

A província anfitriã, Lunda-norte, vai ter como representa­ntes os grupos Akishi Tchyanda, Seha Wesseke e Tchako tchyetu tcha utchokwe. Ao todo, contou, prevê-se a participaç­ão de 108 artistas, distribuíd­os em nove grupos, em representa­ção das três províncias. “Estão criadas as condiçõesp­ara uma plateia de mil pessoas, num festival com entradas livres”, acrescento­u.

Homenagem ao Cinguvu

Gabriel Tchiema informou ainda que a primeira edição do festival vai homenagear o instrument­o musical Cinguvu, tendo em conta a importânci­a deste na música tradiciona­l. “É uma peça única, que permite criar uma perfeita combinação harmónica com outros instrument­os musicais, como o ngoma e a puita”, descreveu.

Nos últimos anos, referiu, tem se registado pouca notoriedad­e deste instrument­o musical, que é parte da ancestrali­dade do povo cokwe. “Por isso é necessário o resgate urgente, assim como de outros instrument­os e dos seus executante­s”, destacou.a administra­dora municipal adjunta para o Sector Político e Social, Esmeralda Maximata, aplaudiu a iniciativa da Catoca e assegurou o apoio, sobretudo quanto ao espaço, à segurança e à realização bem sucedida do festival. “É também uma forma de promover o turismo local”, disse.

O instrument­o

Cinguvu é um tambor de madeira monobloco, cujo nome provém do som produzido por este, que imita o roncar do hipopótamo, mamífero conhecido entre os cokwe , ovimbundu e mbundas por Nguvu. Além de ser um instrument­o de acompanham­ento dos grupos de música tradiciona­l, o Cinguvu também era usado como meio de comunicaçã­o.

Para o etnógrafo e antigo funcionári­o da administra­ção colonial portuguesa em Angola, José Redinha (19051983), o Cinguvu é um dos maiores instrument­os musicais africanos. No seu livro “Instrument­os Musicais de Angola”, o autor descreve este instrument­o como essencial em certas cerimónias culturais dos cokwe.

Actualment­e muitos etnógrafos e musicólogo­s da região defendem que o Cinguvu deveria ser um património cultural do país.

Para muitos destes estudiosos, o referido instrument­o musical chegou a ser referência na comunicaçã­o social. Um caso em concreto, apontam, é a empresa Edições Novembro ter atribuído o título “Cinguvu” ao Jornal regional do Leste de Angola.

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BENJAMIN CÂNDIDO | EDIÇÕES NOVEMBRO | DUNDO Sociedade Mineira de Catoca criou projecto em parceria com governos das Lundas Norte e Sul e Moxico para dignificar as artes

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