Alternância? Só se os eleitores quiserem!
O período de pré-campanha eleitoral, antecedido de factos muito marcantes como a situação socioeconómica decorrente da recessão que se vive no país, agudizada pelos efeitos da paralisação da economia por conta da pandemia de Covid-19, a apresentação pela UNITA de um novo cabeça-de-lista, Adalberto Costa Júnior, depois da Era Samakuva, a apresentação inédita pelo MPLA de uma mulher para concorrer ao cargo de Vice-presidente da República, bem como os processos judiciais em curso no âmbito da cruzada contra a corrupção e contra a impunidade, tem sido fértil em suspense e em troca de acusações entre os partidos que certamente vão formalizar as suas candidaturas para os cargos/funções de Titular do Poder Executivo/chefe de Estado e de deputados, respectivamente.
A oposição e os seus simpatizantes vêm adoptando uma narrativa que tem como palavra-chave a alternância. Esta narrativa tem vindo a ser divulgada, principalmente, nos canais ou páginas dos partidos oposicionistas nas plataformas ou redes sociais disponibilizadas na internet.
A recorrência da abordagem desta tese parece assentar na ideia de que o poder deve ser cedido e não necessariamente conquistado.
A tendência em apreço vem sendo repetida e cada vez mais cidadãos alimentam a tese segundo a qual deve ser operada alternância pelo facto de ser necessário mudar-se a liderança política do país.
A narrativa em apreço, da alternância, tem se servido do método repetitivo e do recurso a figuras da sociedade com notoriedade, principalmente nas redes sociais, para se difundir a ideia ou convicção de que a pretensão em apreço é de uma esmagadora maioria dos angolanos.
O exemplo mais elucidativo do que está a ocorrer pode assemelhar-se ao de uma assembleia com um universo de mil participantes em que noventa por cento delibera num sentido com votos contra dos restantes dez por cento que, entretanto, não satisfeitos decidem iniciar uma campanha de contestação contra a vontade da maioria dos votantes somente por acharem que, apesar de vencidos, representam a razão.
Aliás, o maior partido da oposição, a UNITA, terá experimentado uma situação semelhante à ora exemplificada, ao ser demandada judicialmente, no Tribunal Constitucional, por um punhado de militantes insatisfeitos com uma deliberação da maioria no sentido da convocação regular do seu XIII Congresso realizado em Dezembro de 2021.
Nada obsta que uma situação semelhante relativamente ao descontentamento de uma minoria possa vir a verificar-se no plano das eleições a serem realizadas em Angola em Agosto ou Setembro do ano em curso.
O sentimento de uma parte da população angolana, alguma dela sem capacidade eleitoral activa, por menoridade, por falta de registo ou de actualização do registo eleitoral, jamais poderá se confundir com a vontade dos eleitores efectivamente registados, uma vez que só estes poderão votar.
Nesse particular, população votante registada para o pleito eleitoral de 2022, embora não seja possível a realização de sondagens, alguns critérios podem servir para ter-se uma ideia do sentido de voto dos angolanos. Desde logo a consideração da criação de três novos partidos políticos liderados por ex-militantes da UNITA, nomeadamente, Dinho Chingunji, Florbela Malaquias e Mfuka Muzemba, o que certamente vai diminuir a população votante do maior partido da oposição, a decadência da CASA C.E. e os problemas internos do Bloco Democrático que culminaram com a suspensão de Américo Vaz são sintomas que não podem ser negligenciados. Estes elementos, devem servir para avisar os contendores dos resultados eleitorais e da sua justiça, ou seja, o partido com maior coesão interna, no caso o MPLA, será, à partida, o melhor posicionado para a vitória…
Entretanto, além do ora mencionado, a favor do partido governante e concorrente à sua própria sucessão no Parlamento e do seu cabeça-de-lista na Presidência da República, não seria razoável negar a simpatia granjeada por João Lourenço junto das populações beneficiárias directas e indirectas do Programa Kwenda no âmbito do combate à pobreza extrema nalgumas comunidades do país. De igual modo a popularidade do actual Chefe de Estado angolano terá conhecido um incremento a julgar pelas realizações de vulto nas municipalidades, principalmente do interior do país com o PIIM - Programa Integrado de Intervenção nos Municípios durante o mandato que em breve terminará. O fascínio dos eleitores poderá ainda ter surgido no seguimento da cruzada contra a corrupção, o maior flagelo dos angolanos depois da guerra civil, o que, aliás, terá atraído a comunidade internacional que, pelos canais diplomáticos apropriados, parece ter reconhecido a legitimidade do poder vigente em Angola para seguir a postura reformista que vem empreendendo apesar de todos os constrangimentos conhecidos.
À legitimidade externa, da comunidade internacional, não seria de estranhar que os próprios angolanos com capacidade eleitoral activa, mesmo que não sejam militantes do partido do Presidente Lourenço, decidissem dar-lhe um voto de confiança para a continuação das reformas vigentes, aliás, é expectável e razoável que os eleitores, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas pelo povo angolano nos últimos 8 anos, venham a confiar no MPLA a continuação da condução dos destinos do país.
As realizações do Governo cessante terão atraído eleitores de outras agremiações políticas que se vão apresentar às eleições de Agosto ou Setembro de 2022, contrariamente ao que algumas páginas nas redes sociais - plataforma a que poucos angolanos têm acesso - veiculam ou venham a veicular.
Contudo, sem prejuízo do resultado das eleições agendadas para o ano em curso, os eleitores que votarem num ou noutro partido ou coligação de partidos não deixarão de ser angolanos e o desafio da reconciliação nacional e do exercício de convivência pacífica na diferença de simpatias, ideias e doutrinas políticas, continuará a ser fundamental para, enquanto povo, os angolanos perseguirem a sua caminhada rumo ao crescimento e ao desenvolvimento multifacetado.