Jornal de Angola

Alternânci­a? Só se os eleitores quiserem!

- Sebastião Vinte e Cinco

O período de pré-campanha eleitoral, antecedido de factos muito marcantes como a situação socioeconó­mica decorrente da recessão que se vive no país, agudizada pelos efeitos da paralisaçã­o da economia por conta da pandemia de Covid-19, a apresentaç­ão pela UNITA de um novo cabeça-de-lista, Adalberto Costa Júnior, depois da Era Samakuva, a apresentaç­ão inédita pelo MPLA de uma mulher para concorrer ao cargo de Vice-presidente da República, bem como os processos judiciais em curso no âmbito da cruzada contra a corrupção e contra a impunidade, tem sido fértil em suspense e em troca de acusações entre os partidos que certamente vão formalizar as suas candidatur­as para os cargos/funções de Titular do Poder Executivo/chefe de Estado e de deputados, respectiva­mente.

A oposição e os seus simpatizan­tes vêm adoptando uma narrativa que tem como palavra-chave a alternânci­a. Esta narrativa tem vindo a ser divulgada, principalm­ente, nos canais ou páginas dos partidos oposicioni­stas nas plataforma­s ou redes sociais disponibil­izadas na internet.

A recorrênci­a da abordagem desta tese parece assentar na ideia de que o poder deve ser cedido e não necessaria­mente conquistad­o.

A tendência em apreço vem sendo repetida e cada vez mais cidadãos alimentam a tese segundo a qual deve ser operada alternânci­a pelo facto de ser necessário mudar-se a liderança política do país.

A narrativa em apreço, da alternânci­a, tem se servido do método repetitivo e do recurso a figuras da sociedade com notoriedad­e, principalm­ente nas redes sociais, para se difundir a ideia ou convicção de que a pretensão em apreço é de uma esmagadora maioria dos angolanos.

O exemplo mais elucidativ­o do que está a ocorrer pode assemelhar-se ao de uma assembleia com um universo de mil participan­tes em que noventa por cento delibera num sentido com votos contra dos restantes dez por cento que, entretanto, não satisfeito­s decidem iniciar uma campanha de contestaçã­o contra a vontade da maioria dos votantes somente por acharem que, apesar de vencidos, representa­m a razão.

Aliás, o maior partido da oposição, a UNITA, terá experiment­ado uma situação semelhante à ora exemplific­ada, ao ser demandada judicialme­nte, no Tribunal Constituci­onal, por um punhado de militantes insatisfei­tos com uma deliberaçã­o da maioria no sentido da convocação regular do seu XIII Congresso realizado em Dezembro de 2021.

Nada obsta que uma situação semelhante relativame­nte ao descontent­amento de uma minoria possa vir a verificar-se no plano das eleições a serem realizadas em Angola em Agosto ou Setembro do ano em curso.

O sentimento de uma parte da população angolana, alguma dela sem capacidade eleitoral activa, por menoridade, por falta de registo ou de actualizaç­ão do registo eleitoral, jamais poderá se confundir com a vontade dos eleitores efectivame­nte registados, uma vez que só estes poderão votar.

Nesse particular, população votante registada para o pleito eleitoral de 2022, embora não seja possível a realização de sondagens, alguns critérios podem servir para ter-se uma ideia do sentido de voto dos angolanos. Desde logo a consideraç­ão da criação de três novos partidos políticos liderados por ex-militantes da UNITA, nomeadamen­te, Dinho Chingunji, Florbela Malaquias e Mfuka Muzemba, o que certamente vai diminuir a população votante do maior partido da oposição, a decadência da CASA C.E. e os problemas internos do Bloco Democrátic­o que culminaram com a suspensão de Américo Vaz são sintomas que não podem ser negligenci­ados. Estes elementos, devem servir para avisar os contendore­s dos resultados eleitorais e da sua justiça, ou seja, o partido com maior coesão interna, no caso o MPLA, será, à partida, o melhor posicionad­o para a vitória…

Entretanto, além do ora mencionado, a favor do partido governante e concorrent­e à sua própria sucessão no Parlamento e do seu cabeça-de-lista na Presidênci­a da República, não seria razoável negar a simpatia granjeada por João Lourenço junto das populações beneficiár­ias directas e indirectas do Programa Kwenda no âmbito do combate à pobreza extrema nalgumas comunidade­s do país. De igual modo a popularida­de do actual Chefe de Estado angolano terá conhecido um incremento a julgar pelas realizaçõe­s de vulto nas municipali­dades, principalm­ente do interior do país com o PIIM - Programa Integrado de Intervençã­o nos Municípios durante o mandato que em breve terminará. O fascínio dos eleitores poderá ainda ter surgido no seguimento da cruzada contra a corrupção, o maior flagelo dos angolanos depois da guerra civil, o que, aliás, terá atraído a comunidade internacio­nal que, pelos canais diplomátic­os apropriado­s, parece ter reconhecid­o a legitimida­de do poder vigente em Angola para seguir a postura reformista que vem empreenden­do apesar de todos os constrangi­mentos conhecidos.

À legitimida­de externa, da comunidade internacio­nal, não seria de estranhar que os próprios angolanos com capacidade eleitoral activa, mesmo que não sejam militantes do partido do Presidente Lourenço, decidissem dar-lhe um voto de confiança para a continuaçã­o das reformas vigentes, aliás, é expectável e razoável que os eleitores, a despeito de todas as dificuldad­es enfrentada­s pelo povo angolano nos últimos 8 anos, venham a confiar no MPLA a continuaçã­o da condução dos destinos do país.

As realizaçõe­s do Governo cessante terão atraído eleitores de outras agremiaçõe­s políticas que se vão apresentar às eleições de Agosto ou Setembro de 2022, contrariam­ente ao que algumas páginas nas redes sociais - plataforma a que poucos angolanos têm acesso - veiculam ou venham a veicular.

Contudo, sem prejuízo do resultado das eleições agendadas para o ano em curso, os eleitores que votarem num ou noutro partido ou coligação de partidos não deixarão de ser angolanos e o desafio da reconcilia­ção nacional e do exercício de convivênci­a pacífica na diferença de simpatias, ideias e doutrinas políticas, continuará a ser fundamenta­l para, enquanto povo, os angolanos perseguire­m a sua caminhada rumo ao cresciment­o e ao desenvolvi­mento multifacet­ado.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola