Consumo de tabaco tende a aumentar
O consumo de tabacoem pó, por parte de jovens, adultos e mulheres a nível da província do Zaire, está a atingir níveis preocupantes, avançou, ontem, ao Jornaldeangola, o representante do Instituto Nacional de Luta Anti Drogas (INALUD).
De acordo com Fernando António Eduardo, entrevistado no âmbito do Dia Mundial Sem Tabaco, que hoje se assinala, muitas pessoas no Zaire fazem uso do tabaco em pó e não só por, alegadamente, acreditarem que a sua inalação descongestiona as fossas nasais e/ou alivia os sintomas da sinusite, cujas consequências ignoram.
A reportagem do Jornalde Angola constatou que os usuários não escolhem o local para satisfazer o vício, consumindo tabaco na via pública, serviço, igrejas ou óbitos, colocando algumas doses na parte posterior da mão e inalando-o, ao passo que as mulheres colocam-no entre os dentes, cujos efeitos variam de pessoa para pessoa. O espírito de solidariedade entre os consumidores de tabaco em pó e não só chamou a atenção da equipa de reportagem do Jornal de Angola, que constatou que, mesmo não se conhecendo, os usuários partilham o produto (tabaco).
Para a sua aquisição não é preciso grande esforço, uma vez que o tabaco em pó encontra-se à venda em qualquer esquina, com anúncios estampados. Manuel Bernardo, 48 anos, que faz parte do grupo de usuários da província do Zaire, avançou que usa o tabaco em pó desde 2018, por influência de amigos e vizinhos, acrescentando que os efeitos vão desde a melhoria da disposição para o trabalho à sensação de bem-estar.
“Quando c heguei a Mbanza Kongo, em 2018, proveniente do Bengo, aprendi a usar o tabaco por influência de amigos e vizinhos, que explicaram-me ser uma prática ancestral que ajuda a desobstruir as fossas nasais.
Depois de inalar o tabaco sinto-me motivado a trabalhar e muito alegre”, acrescentou.
Apesar de não saber as vezes que i nala por dia, Manuel Bernardo não concorda com a forma exagerada com que muitos cidadãos, com destaque para os jovens, têm usado o produto actualmente. Por seu turno, Álvaro Makiadi Pires, um dos vendedores de tabaco em pó, desde 2007, assegurou que chega a processar e comercializar mais de 30 quilogramas por semana, tendo em conta a elevada procura.
“A venda de tabaco é a principal fonte de rendimento da minha família, constituída por nove membros, cujo processo de fabricação passa primeiro pela compra das folhas semi-secas de tabaco, que são posteriormente pisadas e peneiradas, seguindo-se a mistura com derivados de flor de palmeira e outras ervas queimadas”, explicou.
Consequências
Os usuários, na sua maioria jovens, apesar de conhecerem em parte as consequências que advêm do uso de tabaco utilizam-no, supostamente, para acalmar efeitos da gripe e sinusite, ignorando as recomendações médicas.
O representante do Instituto Nacional de Luta Anti Drogas (INALUD), Fernando António Eduardo, avançou que o consumo de tabaco provoca ao organismo humano cerca de 50 doenças, entre as quais o cancro da faringe, da laringe, do pulmão, do colo do útero e da mama, além de causar impotência sexual, problemas cardiovasculares (enfarte do miocárdio), insuficiência respiratória aguda, sinusite, bronquites, pneumonia, tuberculose, cirrose hepática e problemas renais.
“A nicotina provoca, também, obstrução progressiva das artérias, aumento da pressão arterial, bem como mutações no DNA e das células, que passam a reproduzir-se de forma deficiente, resultando em câncer”, acrescentou. O também psicólogo clínico afirmou que o tabaco causa, também, doenças mentais, tais como esquizofrenia, tóxico-dependência e outras.
Para diminuir o uso de tabaco na região, o INALUD, agora representado nos seis municípios da província, como avançou, vai realizar palestras dirigidas a crianças, adolescentes e jovens, em escolas e igrejas, para informar sobre as suas consequências à saúde humana e implicações no comportamento social.
Fernando António Eduardo lembrou que a nicotina, por ser uma substância psicoactiva, provoca no organismo uma sensação de prazer, daí a necessidade que o usuário sente em aumentar as doses para manter os níveis de satisfação. “Por isso, chamo a atenção para as consequências sociais do consumo excessivo desta substância, em função da alteração na conduta social do utilizador, acabando alguns por cometer crimes”.
Por outro lado, aconselhou as pessoas viciadas e interessadas em abandonar o consumo de tabaco no sentido de procurarem ajuda de um especialista. “É importante que as pessoas auto conscientes do seu vício, voluntariamente, procurem ajuda médica especializada, porque quando levados por familiares ou por imposição laboral em pouco tempo voltam a ter recaídas”, aconselhou.
Uso de liamba
A produção e o u s o d e “liamba” a nível da província do Zaire constitui um outro problema que preocupa as autoridades competentes, pelo facto de concorrer na prática de diversos crimes, envolvendo jovens e não só.
As autoridades policiais na região asseguram que, de Janeiro a Maio do corrente ano, foram destruídas quatro lavras de liamba, no município de Mbanza Kongo, concretamente nas comunas do Luvo, Madimba, Kaluka e Nkiende. O chefe de Departamento de Combate ao Narcotráfico do Serviço de Investigação Criminal (SIC), inspector-chefe Jacob Kinkela, avançou que, no período em referência, foram detidos 30 cidadãos, sob suspeita de comercialização e uso de estupefacientes (liamba).
“A par da destruição de mil pés de plantações, foram também apreendidas 37 quilogramas de liamba, que seriam comercializadas localmente”, concluiu.