Mais de 300 fumadores querem deixar o vício
O Institutode Luta Anti Drogas registou, em Malanje, durante o ano passado, 330 casos de pessoas que procuraram ajuda à área de psiquiatria do Hospital Regional, para deixarem de fumar.
De acordo com o responsável do Instituto Nacional de Luta contra as Drogas (INALUD), Mateus Aristides, que falava a propósito do Dia Mundial Sem Tabaco, que hoje se assinala, do número de casos referenciados 37 pessoas usavam cigarro, 84 consumiam liamba e 85 faziam associação liamba/álcool, com idades entre 15 e 25 anos.
Mateus Aristides disse que, no primeiro trimestre deste ano, deram entrada no hospital 37 pessoas, das quais 19 fumavam liamba, que solicitaram apoio psicológico para evitar o consumo da referida droga ilícita.
Apontou o câncer do pulmão como uma das consequências do uso do cigarro, que, em mulheres gestantes, pode provocar má formação congénita do bebé.
Referiu que o INALUD apega-se em quatro pilares fundamentais para combater o tabagismo (prevenção, educação, informação e reabilitação), destacando- se a prevenção primária.
Mateus Aristides lembrou que o Dia Internacional Sem Tabaco foi proposto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em função das situações anómalas que acontecem devido aos usuários e explicou que oito milhões de pessoas morrem, anualmente, devido ao consumo do tabaco.
Acrescentou que o tabaco provoca muitas consequências, como cancro do pulmão, má formação congénita, transtornos a nível do sistema nervoso central, bem como câncer dos pulmões.
Defendeu que, apesar do número de fumantes ter reduzido no país, urge a necessidade de se adoptarem medidas que visam proibir o consumo de tabaco em lugares públicos.
"O facto das pessoas inalarem o fumo contamina o meio ambiente e os que não fumam tornam-se fumadores passivos", acrescentou Mateus Aristides.
De acordo com o responsável do INALUD, estudos indicam que 600 milhões de árvores são abatidas para a produção do tabaco e cerca de 84 mil toneladas de dióxido de carbono são libertadas por fumadores, elevando as temperaturas". Acrescentou que vinte e dois biliões de litros de água são usados para produzir cigarros.
Fumar por curiosidade
Segundo o psicólogo clínico Sirilo Mendes, ao falarmos do tabagismo faz-se referência às drogas iniciais que habitualmente têm sido a porta de entrada ou a passagem para o consumo de substâncias psico-activas mais complexas, como a cocaína.
Acrescentou que os riscos do consumo da liamba são maiores, por ser uma substância consumida por adolescentes, que ainda não atingiram maturidade social e psicológica.
"As motivações para o consumo são várias, em particular curiosidade", afirmou, referindo que muitos adolescentes tendem a consumir liamba por curiosidade ou influência de outros elementos considerados ídolos, como artistas ou actores.
Deu a conhecer que dados do Centro de Tratamento de Doenças Mentais de Malanje, no bairro da Cahála, agora inoperante por servir para atender até então casos da Covid- 19, revelam que, dos dez a 15 pacientes que eram atendidos por dia, havia sempre um adolescente que consumia liamba.
Por seu turno, a chefe de Departamento do Ambiente, Serviços Comunitários e Gestão de Resíduos, Jacinta Peres, disse que estudos realizados pela OMS dão conta que cada ano 200 mil matas são destruídas para a plantação de tabaco.
O tabaco, desde o cultivo até o descarte, tem conseq uências para o meio ambiente, disse, acrescentando que a sua plantação requer muitos nutrientes, que retiram propriedades do solo.
Referiu que a plantação de tabaco tem muitas probabilidades de causar pragas e doenças virais e por isso os produtores usam grandes quantidades de agro-tóxicos, para evitar que as plantações sejam destruídas.
“Isso pode trazer problemas no próprio solo, pois retira as suas propriedades, ficando estéril e afectando as águas subterrâneas e a cadeia alimentar, bem como a biodiversidade", sublinhou.
Segundo Jacinta Peres, a desmatação também provoca a perda das florestas e a capacidade de fotossíntese existente nas árvores, que têm o poder de absorver o dióxido de carbono, libertar oxigénio e evitar o aquecimento global.
Durante um debate radiofónico realizado na emissora provincial da Rádio Nacional de Angola (RNA), o chefe de Departamento de Combate ao Narcotráfico, João Sabalo Francisco, precisou que o tabaco é uma droga lícita, mas, dentro dela pode existir outra ilícita, como a liamba.
Influência da liamba na prática de crimes
Jacinta Peres disse que, em Malanje, a plantação de liamba tem sido feita em pequena escala, sobretudo em lavras. No seu dizer, os indivíduos mais preocupantes são os que se dedicam ao cultivo e ao tráfico.
João Sabalo referiu que o uso de substâncias psicotrópicas, como a liamba, incentiva os jovens e adultos a cometerem actos criminosos.
Apelou à população a ter mais cautela no uso desse produto, sobretudo os menores, muitos dos quais usam-no até mesmo no recinto escolar, conforme aconteceu, recentemente, na Escola Amílcar Cabral, onde três alunos foram apanhados em flagrante.
Já o responsável da área de saúde escolar do Gabinete Provincial da Educação, Baião Kingles, disse que a instituição está preocupada com as drogas ilícitas, mais concretamente liamba, pois dificulta a boa aprendizagem.
“A presença de drogas na escola dificulta uma aprendizagem correcta e cria perturbações no aluno consumidor e aos colegas, acabando por sabotar a actividade dos professores”, lamentou, defendendo a realização de palestras nas escolas.