CARTAS DOS LEITORES
Óleos de motor
Escrevo para abordar uma situação sobre a qual vale a pena reflectir, começando com uma pergunta simples: para aonde vão os milhares de litros de óleo do motor, valvolina e o material resultante da reparação de milhares de viaturas em Luanda? É verdade que desde há algum tempo se tinha começado um processo, muito embrionário, de reciclagem das referidas matérias, usadas, sobretudo, no fabrico de sabão, por exemplo. Mas ainda assim, o aproveitamento peca muito por defeito na medida em que se contabilizarmos o número de oficinas em Luanda, a quantidade de carros em circulação, que provavelmente recorrem aos serviços destes locais de assistência, veremos que há uma grande quantidade de desperdícios que precisamos de saber para onde acabam encaminhados. Era preciso que as autoridades que superintendem as questões ambientais estejam mais atentas, façam inspecção às oficinas para se inteirarem como estas lidam com o material que resulta da reparação e para onde o encaminham. Em algumas zonas costeiras de Luanda, para onde confluem as águas das valas de macro drenagem, tem sido possível observar, junto da água do mar à volta, misturas gordurosas que indiciam tratar-se de alguma matéria vinda também das oficinas.
Há lixeiras em que são amontoados quantidades de material que resulta das oficinas que antes de lá pararem podiam ser alvo de processos de reciclagem. E falamos aqui apenas das oficinas com espaços próprios, quando, na verdade, a atenção deve ser igualmente estendida aos “biscateiros” que trabalham na rua e que dispõem muito mal do material resultante da reparação feita na rua. Alguém acompanha isso? Alguém controla para onde vai a quantidade de óleo de motor que sai de milhares de oficinas aqui em Luanda?
O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, em minha opinião, devia incorporar no seu leque de atribuições e actividades a formação de indivíduos que teriam a missão de inspeccionar “ambientalmente” o meio à volta das comunidades, quer urbanas, quer as da periferia. As transgressões que são cometidas no ambiente, aqui muito concretamente falando das oficinas e mecânicos que trabalham a céu aberto, já assumem contornos gravíssimos em muitas localidades. E pior de tudo é que não haja ninguém, ao menos, para sensibilizar, contrariar e, se necessário, com a ajuda da Polícia Nacional. Será que não estamos já na altura de se criar uma estrutura, ao nível da Polícia Nacional, que lida unicamente com as questões ambientais? Essa entidade seria mais para aconselhar, educar, sensibilizar e, nos casos gravíssimos, coercivamente impor o cumprimento da lei, nas comunidades. Hoje, há muitas queimadas, por exemplo, que por força e existência dessa entidade policial, ligada ao ambiente, podiam ser melhor controladas e até desencorajadas. Há pessoas a queimar ou enterrar o lixo, práticas muito comuns nos bairros que precisam de ser desencorajadas. Essa incúria e inactividade de quem de direito poderá custarnos muito caro no médio e longo prazos. Está na hora de mais inspecção para que se possa prevenir o pior porque estamos ainda a tempo de resolver essa situação. Os terrenos baldios, as lagoas, valas de drenagem e praias não podem servir de trampolim para que as oficinas e mecânicos “biscateiros” usem e abusem dos mesmos na hora de disporem do seu lixo oficinal.