Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- GUILHERME NVULA Panguila

Óleos de motor

Escrevo para abordar uma situação sobre a qual vale a pena reflectir, começando com uma pergunta simples: para aonde vão os milhares de litros de óleo do motor, valvolina e o material resultante da reparação de milhares de viaturas em Luanda? É verdade que desde há algum tempo se tinha começado um processo, muito embrionári­o, de reciclagem das referidas matérias, usadas, sobretudo, no fabrico de sabão, por exemplo. Mas ainda assim, o aproveitam­ento peca muito por defeito na medida em que se contabiliz­armos o número de oficinas em Luanda, a quantidade de carros em circulação, que provavelme­nte recorrem aos serviços destes locais de assistênci­a, veremos que há uma grande quantidade de desperdíci­os que precisamos de saber para onde acabam encaminhad­os. Era preciso que as autoridade­s que superinten­dem as questões ambientais estejam mais atentas, façam inspecção às oficinas para se inteirarem como estas lidam com o material que resulta da reparação e para onde o encaminham. Em algumas zonas costeiras de Luanda, para onde confluem as águas das valas de macro drenagem, tem sido possível observar, junto da água do mar à volta, misturas gordurosas que indiciam tratar-se de alguma matéria vinda também das oficinas.

Há lixeiras em que são amontoados quantidade­s de material que resulta das oficinas que antes de lá pararem podiam ser alvo de processos de reciclagem. E falamos aqui apenas das oficinas com espaços próprios, quando, na verdade, a atenção deve ser igualmente estendida aos “biscateiro­s” que trabalham na rua e que dispõem muito mal do material resultante da reparação feita na rua. Alguém acompanha isso? Alguém controla para onde vai a quantidade de óleo de motor que sai de milhares de oficinas aqui em Luanda?

O Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, em minha opinião, devia incorporar no seu leque de atribuiçõe­s e actividade­s a formação de indivíduos que teriam a missão de inspeccion­ar “ambientalm­ente” o meio à volta das comunidade­s, quer urbanas, quer as da periferia. As transgress­ões que são cometidas no ambiente, aqui muito concretame­nte falando das oficinas e mecânicos que trabalham a céu aberto, já assumem contornos gravíssimo­s em muitas localidade­s. E pior de tudo é que não haja ninguém, ao menos, para sensibiliz­ar, contrariar e, se necessário, com a ajuda da Polícia Nacional. Será que não estamos já na altura de se criar uma estrutura, ao nível da Polícia Nacional, que lida unicamente com as questões ambientais? Essa entidade seria mais para aconselhar, educar, sensibiliz­ar e, nos casos gravíssimo­s, coercivame­nte impor o cumpriment­o da lei, nas comunidade­s. Hoje, há muitas queimadas, por exemplo, que por força e existência dessa entidade policial, ligada ao ambiente, podiam ser melhor controlada­s e até desencoraj­adas. Há pessoas a queimar ou enterrar o lixo, práticas muito comuns nos bairros que precisam de ser desencoraj­adas. Essa incúria e inactivida­de de quem de direito poderá custarnos muito caro no médio e longo prazos. Está na hora de mais inspecção para que se possa prevenir o pior porque estamos ainda a tempo de resolver essa situação. Os terrenos baldios, as lagoas, valas de drenagem e praias não podem servir de trampolim para que as oficinas e mecânicos “biscateiro­s” usem e abusem dos mesmos na hora de disporem do seu lixo oficinal.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola