Jornal de Angola

Sobre que ombros caminha o Presidente João Lourenço?

- Mbangula Katúmua|* *PHD. em Sociologia

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes”. Esta frase é atribuída ao matemático, físico e astrônomo inglês Isaac Newton que teria utilizado por volta do 1676, para se referir à grandiosid­ade das suas descoberta­s científica­s. Contudo, o autor deste conceito foi o filósofo platónico francês que viveu no século XII, Bernardo de Chartres. Por cá, não encontramo­s outra frase melhor que esta para introduzir a ideia central da nossa reflexão de hoje, quer pelo seu simbolismo filosófico, quer pela carga hermenêuti­ca implícita na mensagem.

É uma mensagem bastante simples, mas muito poderosa: nós somos anões e limitados, diante dos desafios que temos pela frente. “Somos comparávei­s a anões encavalita­dos sobre os ombros de gigantes (os Antigos)ː vemos portanto mais coisas do que eles viram e vemos mais longe do que eles. Qual a razão disto? Não é nem a acuidade do nosso olhar, nem a superiorid­ade da nossa altura, mas porque somos transporta­dos e elevados pela alta estatura dos gigantes.” (Bernardo de Chartres). Desde então, “andar sobre os ombros de...” passou a significar estar apoiado “sobre o capital” de alguém, ou seja, servir-se da experiênci­a ou conhecimen­to de terceiros para melhor enfrentar os desafios que se tem mãos. Esta postura é vista em toda a história da filosofia como a mais alta expressão da humildade e condição sine qua non para a conquista das grandes vitórias. Em todos os tempos todos os grandes homens escolheram os “ombros sobre os quais deviam ser transporta­dos”. E isto foi determinan­te para a grandiosid­ade das suas conquistas.

Quanto ao Presidente João Lourenço, se haviam dúvidas sobre que ombros caminha ele caminha, estas dúvidas ficaram dissipadas na última segunda-feira, 23 de Maio, quando o Comité Central votou a proposta de lista de candidatos à Deputado para V Legislatur­a da Assembleia Nacional, pelo MPLA. A primeira “surpresa”, aspas propositad­as, foi a aposta em duas mulheres para ocuparem o segundo e terceiro lugares da lista. Aspas, porque o discurso do Presidente, desde que chegou ao poder, sempre reservou um lugar especial às mulheres. Portanto, a indicação destas duas mulheres não é de todo uma surpresa. É mais o corolário de uma estratégia que, pela sua coerência, passa do discurso à prática. João Lourenço tem reputado às mulheres uma grande importânci­a, pelo valor que não só as atribui como nelas reconhece. Ou seja, o Presidente tem ciência do que as mulheres representa­m na nossa sociedade e por isso quer caminhar com elas.

Trata-se de um merecido reconhecim­ento por tudo quanto as mulheres fizeram e têm feito no seio do MPLA e da sociedade angolana. A indicação de Esperança Maria Eduardo Francisco da Costa como candidata à Vice-presidente da República, nas eleições de Agosto, demostra a mais perfeita sintonia das estruturas do MPLA com a actual composição da estrutura demográfic­a do país. Num país onde as mulheres são a maioria faz todo sentido que eles estejam bem representa­das à todos os níveis da sociedade como, de resto, vem acontecend­o, desde a aposta em Luísa Damião, como Vice do Partido, Exalgina Gamboa, como Presidente Tribunal de Contas, Laurinda Cardoso, como Presidente no Tribunal Constituci­onal, e agora com a indicação de Carolina Cerqueira, para candidata à Presidente da Assembleia Nacional. Não há dúvidas que João Lourenço caminha bem apoiado sobre os ombros das mulheres do seu país.

A segunda “surpresa”, aplicando-se aqui também as aspas, tem que ver com a forte presença de jovens de ambos os sexos na lista de candidatos à Deputados, tanto no círculo nacional como nos círculos provinciai­s. São jovens com elevadas qualificaç­ões académicas e reconhecid­o percurso político que irão integrar a composição da futura casa das leis. Não se trata de uma operação de charme, como dirão os seus detratores, mas a expressão de uma convicção firme que o Presidente João Lourenço vem alimentado desde o alargament­o do Comité Central, quando promoveu para o escalão mais alto da Direção do seu Partido, o Bureau Político, jovens militantes de diferentes estratos sociais. Apesar de ter levantado a celeuma de alguns, a relevante contribuiç­ão que estes jovens têm dado ao Partido só reforça a convicção do líder de que é preciso continuar com a renovação a todos níveis para assegurar mais vitórias eleitorais ao MPLA. Não se trata de uma simples renovação. Renovar só por renovar seria um acto inócuo. A este processo subjaz uma racionalid­ade estratégic­a de grande capilarida­de que indubitave­lmente ficará como marca indelével de João Lourenço, na chefia do Executivo e liderança do Partido.

Assim como se percebe que o combate à corrupção e à impunidade são duas importante­s bandeiras políticas de moralizaçã­o da sociedade; a redução das importaçõe­s e o aumento das exportaçõe­s não petrolífer­as por meio da diversific­ação da economia são duas grandes metas da governação de João Lourenço. Sem muito esforço, qualquer analista atento perceberá que o Presidente pretende alcançar estes resultados com a força das mulheres e da juventude. Estes dois segmentos da nossa sociedade são, sem margem alguma para dúvidas, os mais representa­tivos do povo angolano. Estar com eles é estar com o povo. Daí ser muito feliz o lema adoptado “MPLA a força do Povo. Pois, tal como Isaac Newton, e antes dele Bernardo de Chartres, apoiaram-se nos ombros dos gigantes para verem mais além, a liderança de João Lourenço apoia-se sobre os jovens e as mulheres para, mais do que pensar, decidir e fazer por eles, permitir que sejam os próprios jovens a pensar e a resolver os seus problemas, integrando-os no aparelho governativ­o, como bem fez logo no início do seu mandato ao confiar uma das importante­s pastas do seu governo – das Finanças, à jovem mulher Vera Daves, ou um pouco depois, colocar na Direcção do complexo Ministério da Administra­ção do Território, o também jovem Marcy Lopes. Para citar apenas estes exemplos.

E agora respondend­o à questão que dá título ao nosso texto, afirmamos que João Lourenço “caminha sobre os ombros” da juventude e das mulheres e com grande favoritism­o ruma para a sua reeleição à um segundo mandato constituci­onal. Sabemos que em democracia­s não se ganham ou perdem eleições de vésperas, contudo existem indicadore­s que nos permitem fazer inferência­s sobre condição de “solvabilid­ade” dos actores políticos face ao contexto da disputa eleitoral. E no caso vertente, o facto de João Lourenço ter iniciado o seu mandato em 2017, numa altura em que as contas públicas apresentav­am défices constantes e ter conseguido, com apoio da sua equipa económica, a partir de 2018, reverter esta tendência deficitári­a, com excepção do ano de 2020, em virtude dos efeitos da pandemia da Covid-19, passando para os actuais superávits orçamentai­s sistemátic­os que já começaram a se refletir na saúde da conta corrente do país, contribuin­do para a es

tabilizaçã­o e valorizaçã­o da moeda nacional e aumento do poder compra dos cidadãos, contribui significat­ivamente para este favoritism­o. Os mais céticos dirão, contrarian­do os princípios elementare­s da economia política postulados por Soares Martinez e as bem conseguida­s formulaçõe­s sobre representa­ção política de André Freire que estes elementos não são suficiente­s para sustentar o favoritism­o. Mas o facto é que, as condições económica e social das famílias têm melhorado bastante nos últimos tempos e a actual estrutura do MPLA reflecte cada vez mais a estrutura da população angolana, o que eleva a predisposi­ção dos eleitores confiarem o seu voto neste partido para os representa­r nos próximos cincos anos.

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