Jornal de Angola

Pandemia da Covid-19 pode empurrar 20 milhões para escravatur­a moderna

O director-executivo do Mekong Club, uma ONG com sede em Hong Kong, teme que as vítimas de escravatur­a moderna “possam ir de uma estimativa actual de 40 milhões para cerca de 60 milhões”.

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A pandemia da Covid-19 poderá fazer com que mais 20 milhões de pessoas se tornem vítimas de escravatur­a moderna em todo o mundo, disse o líder de uma Organizaçã­o Não-governamen­tal (ONG

Em Abril de 2020, ainda no início da pandemia, o Banco Mundial previu que a Covid-19 poderia empurrar entre 40 e 60 milhões de pessoas para a pobreza extrema.

São estas pessoas que estão “vulnerávei­s” a fenómenos como o trabalho forçado, o tráfico humano e a servidão por dívidas, situaç õ e s d e e s c r ava t u r a moderna, disse à Lusa, Matt Friedman.

O director-executivo do Mekong Club, uma ONG com sede em Hong Kong, disse temer que as vítimas de escravatur­a moderna “possam ir de uma estimativa actual de 40 milhões para cerca de 60 milhões”.

O antigo coordenado­r da resposta a pandemias para a Ásia, da Agência para o Desenvolvi­mento Internacio­nal dos Estados Unidos da América admitiu que, “por um período do tempo”, no início da pandemia, as restrições fronteiriç­as colocaram dificuldad­es ao tráfico humano.

No entanto, como já se viu “vezes s e m c onta, quando os governos encerram vias legais de migração, isto cria oportunida­des para traficante­s de pessoas”, disse à Lusa a ONG AntiSlaver­y Internatio­nal (AntiEscrav­atura Internacio­nal).

Além disso, sublinhou Matt Friedman, depois das implicaçõe­s para a saúde pública, seguem- se “as ondas de choque que terão um i mpacto nas economias”, incluindo as interrupçõ­es j á sentidas nas cadeias industriai­s.

“A pandemia f oi um fenómeno que concentrou tanto a atenção durante tanto tempo que os governos nem tiveram tempo para identifica­r o que mais estava a acontecer”, l amentou o norte-americano.

“Ao desemprego em massa segue-se um elevado risco de dívidas e, com pouco apoio do Governo, isso torna as pessoas ainda mais vulnerávei­s à exploração”, alertou a Anti-slavery Internatio­nal.

A organizaçã­o disse que mesmo para quem já era ví t i ma de e s c r avatura moderna, a pandemia veio agravar a situação.

“Famílias ricas da Mauritânia começaram a despedir os t rabalhador­es domésticos 'haratine', muitos dos quais nascerem já com estatuto de escravos”, disse a ONG.

“Ao longo da pandemia, vimos inúmeros casos de trabalho forçado nas cadeias i ndustriais de materiais essenciais, incluindo equipament­o de protecção individual”, acrescento­u.

A organizaçã­o deu como exemplo o Bangladesh, onde a indústria têxtil despediu ou colocou em 'lay-off' mais de um milhão de trabalhado­res, só até ao final de Março de 2020.

E a situação pode não melhorar com o final da pandemia. “Falei com proprietár­ios de fábricas que basicament­e disseram: 'sim, vou explorar estas pessoas e obrigá-las a fazer trabalho extraordin­ário sem lhes pagar por isso'. E eles dizem que ou fazem isso ou a companhia terá de fechar as portas”, salientou Matt Friedman.

A crescente responsabi­lização dos grandes grupos ocidentais pela violação dos direitos humanos na sua cadeia de produção tinha sido uma força de mudança, mas que foi também afectada pela pandemia, disse o director- executivo do Mekong Club.

“A pandemia foi um fenómeno que concentrou tanto a atenção durante tanto tempo que os governos nem tiveram tempo para identifica­r o que mais estava a acontecer”, lamentou o norte-americano

“As empresas privadas não podem, neste momento ir fazer inspecções a muitos destes países. Por exemplo, é impossível entrar e sair da China e mesmo para quem está na China, há restrições ao movimento”, lamentou o activista.

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