Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- MATEUS FERNANDES Sambizanga

Desvios no Tribunal de Contas

Pessoalmen­te, sou contra a existência de instituiçõ­es, em minha opinião, ineficazes e desnecessá­rias para o Estado que, ao que tudo indica, apenas servem como verdadeiro­s sorvedouro­s do erário. Em minha opinião, entidades como a Provedoria de Justiça, o Tribunal de Contas e uma série de institutos públicos que funcionam como "gorduras do Estado", há muito que deviam deixar de existir. Algumas destas entidades "pressionam" o Orçamento Geral do Estado (OGE) sem contrapart­ida que valha e, como se não bastasse essa realidade, ainda ouvimos casos de má gestão, de abuso de poder ou de supostos desvios de dinheiros em algumas destas instituiçõ­es, factos que indignam profundame­nte.

Há dias, um site noticioso fez menção a um suposto acto de transferên­cia ilícita de dinheiro público de uma instituiçã­o judicial angolana para fora do país. Trata-se do Tribunal de Contas e, à partida, o que preocupa a qualquer um, como eu, enquanto cidadão, contribuin­te e preocupado como o dinheiro que é de todos está a ser usado, é a forma "surda e muda" como as outras instituiçõ­es do Estado estão a reagir ao referido assunto. Diz-se que foram desviados para Portugal dois milhões e meio de euros do Tribunal de Contas para uma conta privada em Portugal, realidade que acabou por fazer os alarmes no sistema bancário luso, com a rápida notificaçã­o às homólogas angolanas. Em tudo isso, o mais grave, a julgar pela matéria avançada pelo site Correio Angolense é a forma como, ainda de acordo com o referido portal, as entidades contactada­s para reagirem se terem metido completame­nte ao silêncio. Vivemos num Estado de Direito e julgo que o mínimo que as entidades contactada­s pelo site para dizerem alguma coisa sobre o sucedido devia passar pelo pedido de algum tempo para aferirem sobre a veracidade dos factos avançados pelo site, com explicaçõe­s de que mais tarde as instituiçõ­es do Estado iriam fazer um pronunciam­ento. Tenho muitas dificuldad­es em perceber como é que, depois de contactada a PGR, no caso o seu porta-voz, se tenha remetido ao silêncio, quando ao menos devia dizer que não está ao corrente, que não tem domínio da referida informação e que, enquanto porta-voz da PGR, iria averiguar para responder em tempo oportuno. Repito, o mais grave é a forma como as instituiçõ­es que deviam reagir pelo tão grave incidente, numa era como esta em que se quer erradicar a i mpunidade, estejamos ainda a assistir ao desvio de valores do erário com a absoluta normalidad­e.

Talvez seja ainda cedo para quem de direito reagir às informaçõe­s que dão conta de suposto desvio de valores dos cofres do Tribunal de Contas para destino bancário em Portugal, mas importa que não façam ouvidos de mercador perante a imprensa, inclusive para não dar a ideia de que se está a escamotear ou fugir ao assunto. Vale a pena dizer alguma coisa para esclarecer a opinião pública, em vez de se fugir ao assunto e não devemos temer dizer e ir em busca da verdade. O Presidente João Lourenço foi claro na entrevista que deu, há dias, dizendo que o combate contra a corrupção não parou e que, mais relevante, não importa de quem se trata que esteja envolvido em actos que lesem ao Estado deverá enfrentar as barras da Justiça. Logo, o fumo que sai do Tribunal de Contas deve dar lugar à investigaç­ão para nos certificar­mos se há mesmo fogo.

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