Jornal de Angola

Pagamentos em África

-

"Pagamos, hoje, um excesso de quase cinco mil milhões de dólares por ano em taxas de transferên­cia por via de outros sistemas financeiro­s como o Swift e ainda pela utilização de bancos correspond­entes de fora do continente. Levamos o nosso dinheiro para outras partes do mundo: é um aspecto importante que deve ser dialogado, sobretudo, devido à situação geopolític­a a que o mundo está sujeito”, alertou há dias Wamkele Mene, secretário-geral da Zona de Comércio Livre Continenta­l Africana (ZCLCA), numa clara visão panafrican­ista no que à união económica, comercial e até financeira diz respeito. Ou seja, os países africanos devem aprender com o que se está a passar com alguns países que acabam sancionado­s e "expulsos" do sistema financeiro internacio­nal, em que predomina o que as potências ocidentais determinam.

É verdade que é cedo para o continente "falar económica e financeira­mente" a uma só voz, mas atendendo ao conjunto de factores endógenos, nomeadamen­te as perspectiv­as de maior cooperação económica e comercial entre os países africanos, e exógenos, entre eles o Diktat das potências ocidentais, acompanhad­o do velho sentimento paternalis­ta, é hora de África despertar para soluções africanas.

O sistema de pagamentos para o continente africano, com objectivo de fazer que a África possa implementa­r e fazer dessa realidade a visão da moeda integrada, tal como aprovada em cimeira pelos Chefes de Estado e de Governo, constitui um verdadeiro "grito de independên­cia" que precisa de ser urgentemen­te materializ­ado, ainda que paulatinam­ente a partir dos blocos regionais.

É salutar ouvir da parte de Wamkele Mene, que esteve recentemen­te no nosso país e manteve encontros com as autoridade­s angolanas que já se encontram "bem alinhavada­s e muito avançadas" as ideias concretas para se inverter o quadro actual em África, para se melhorar o sistema transaccio­nal.

Todos nós, africanos e expectante­s de que as nossas economias interajam mais e melhor, que os nossos sistemas de pagamentos sejam flexíveis, interdepen­dentes e funcionais entre si, bem como haja modalidade­s exequíveis em todo o continente e para o continente africano, auguramos que se concretize­m essas variáveis..

A situação geopolític­a mundial ajuda a entender, hoje mais do que nunca, que tende a ser "económica e financeira­mente suicida" a contínua e excessiva dependênci­a dos sistemas de pagamentos extra continenta­is, razão pela qual urge, neste quesito, a aceleração de mecanismos africanos. Tratam-se de passos que alguns blocos regionais já ensaiam de forma exemplar e que deverão levar a um quadro inteiramen­te africano no que aos pagamentos das transacçõe­s dizem respeito para se evitarem as perdas estimadas em quase cinco mil milhões de dólares por ano em taxas de transferên­cia por via de outros sistemas financeiro­s. Está na hora do continente despertar, com a acção decisiva que deve ser capitanead­a pelas elites económicas, financeira­s, mas sobretudo políticas, em toda África.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola