CARTAS DOS LEITORES
As vias e a sinistralidade
Os acidentes rodoviários que, quase todas as semanas, enlutam numerosas famílias, se calhar, já deviam merecer uma outra abordagem por parte das instituições do Estado, das famílias e das pessoas individualmente. Atendendo que a sinistralidade rodoviária representa a segunda causa de morte, apenas superada pela malária, devia levar a maior responsabilidade de todos. A forma como a encaramos a morte nas estradas, com alguma resignação, com a aparente ideia de que pouco há a fazer e que as coisas podem continuar como se encontram, também não ajuda a resolver o problema. Essas palavras não se devem a nada em especial, mas apenas à forma como lidamos com as mortes que ocorrem nas nossas estradas sem que haja formas diferentes de enfrentar a situação. Mesmo com as estatísticas a falarem mais alto não vejo debates ou iniciativas que valham a pena e indiquem que realmente se pretende corrigir o que está mal, com o uso das nossas estradas. Acho que não se pode continuar com o mesmo estado de coisas, através do qual as obras de reabilitação ou construção de raiz de novas estradas signifiquem também e lamentavelmente maior taxa de sinistralidade rodoviária.
Precisamos de fazer diferente, optando sempre pela componente pedagógica, com uma forte sensibilização, acompanhada, mais tarde ou mais cedo, da devida responsabilização das pessoas.
Urge sensibilizar-se os automobilistas no sentido de maior responsabilidade no uso das estradas, sobretudo com a observância das regras de trânsito e obedecendo sempre às regras relativas à manutenção regular das viaturas. Andar com carro em condições é também uma questão de mentalidade, na medida em que as pessoas deviam aprender a fazer as coisas devidamente. Não faz sentido e chega a ser até crime andar com o carro mesmo sabendo não estar em condições e insistir em circular com os mesmos. Diz-se que quando não existem condições para andar com a viatura não se deve andar com o carro devido às consequências que podem advir do mau estado técnico. Há dias, um dos sobreviventes de um acidente contou aos órgãos de comunicação como, a dada altura, o motorista do carro em que seguiam tinha resistido aos apelos para ceder aos sinais evidentes de sono, parando a viatura para descansar ou trocando de mãos.
Diz-se que o mesmo resistiu aos conselhos até que acabaram por acidentar e sem que tenha sido responsabilizado pelo sucedido. A julgar pelo relato e, seguramente depois de ter sobrevivido, nada garante que o mesmo motorista não venha incorrer no mesmo tipo de procedimento. Essa é, infelizmente, a realidade dos nossos automobilistas, sobretudo quando se tratam de taxistas e digo com todo o respeito por esses profissionais. Estou a apenas a falar daquilo que é factual e sem qualquer pretensão de denegrir os taxistas.
Por isso, a manutenção periódica das viaturas por parte de uma entidade competente que serviria para aconselhar os automobilistas e a retirar da circulação viaturas em mau estado técnico é urgente. Parece que está provado que não basta o seguro de responsabilidade civil contra terceiros, deve ser essa designação do seguro automóvel que me refiro, mas a inspecção regular como complemento dos esforços para melhorar a circulação automóvel e reduzir a sinistralidade rodoviária. Se não se implementar essa medida, a inspecção rodoviária, já prometida há algum tempo pela Polícia Nacional, dificilmente seremos capazes de reduzir a sinistralidade nas estradas e teremos mais dificuldade em conduzir sossegadamente. Há carros que fumegam demais e deviam ser retirados da circulação, inclusive no âmbito dos esforços para a preservação do ambiente em toda Angola.