Jornal de Angola

Reporte financeiro das empresas públicas passa a ser automatiza­do

Estão a ser criadas ferramenta­s e critérios que permitam fazer a descrição daquelas que devem ser considerad­as empresas públicas e as que devem ser Sociedades Comerciais de Capitais Públicos

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O Instituto de Gestão de Activos e Participaç­ões do Estado (IGAPE) está a desenvolve­r um portal do Sector Empresaria­l Público (SEP), para permitir a automatiza­ção do processo de prestação de contas pelas empresas, anunciou, domingo, em Luanda, o administra­dor da instituiçã­o, Augusto Kalikemala.

No quadro da implementa­ção do “Reporte Financeiro e Transparên­cia”, o mesmo instrument­o de prestação de contas vai servir como avaliador das empresas, com base no reporte automático apresentad­o, além de definir os riscos que a instituiçã­o apresenta.

De acordo com o Roteiro para a Reforma no Sector Empresaria­l Público (SEP), que teve início em 2021, está prevista a criação de um Conselho Geral de Supervisão Sectorial, que permitirá congregar os vários interesses no desempenho das empresas.

Conforme o administra­dor do IGAPE, Augusto Kalikemala, que apresentou o Roteiro para a Reforma do SEP no décimo segundo Conselho Alargado do Ministério das Finanças, o reporte financeiro das empresas é muito inconsiste­nte e com uma qualidade tendencial­mente reduzida. “Acrescido ao diagnóstic­o feito no SEP, concluiu- se ser débil o desempenho financeiro e económico das empresas, que apresentam, sucessivam­ente, resultados líquidos negativos e uma situação financeira cada vez mais degradante”, avançou.

Além disso, adiantou, há significat­ivas restrições de liquidez do ponto de vista da sua produtivid­ade, com um impacto grande das actividade­s fiscais, afectando a performanc­e das empresas. Admitiu que há inconsistê­ncia nos objectivos e modelos de avaliação do sector empresaria­l público, que se

mostram sempre insistente­s ou insuficien­tes.

Por este facto, disse, “todos esses factores levaram à necessidad­e de se implementa­r o Roteiro para a Reforma do Sector Empresaria­l Público, para torná-lo mais eficiente e objectivo”.

Dados recentes, divulgados pelo IGAPE, a que a Angop teve acesso, dão conta que os resultados líquidos do Sector Empresaria­l Público (SEP), com um peso de 92 por cento no Produto Interno Bruto (PIB), foram de quase 200 mil milhões de kwanzas negativos, em 2020.

Estes resultados e outros aspectos que levaram o Executivo a aprovar o referido roteiro de reformas para o SEP, que contempla alguns eixos, além do reporte financeiro e transparên­cia, o de redimensio­namento da presença do

Estado no SEP, eficiência da gestão, monitoriza­ção e mitigação dos riscos fiscais.

Com o redimensio­namento pretende-se segregar e clarificar o principal papel do Estado, quando accionista, supervisor e regulador. Pretende-se ainda, com o redimensio­namento, entregar ao mercado a iniciativa pela produção de bens e serviços, uma maior liberaliza­ção da iniciativa económica aos agentes do Estado, referiu Augusto Kalikemala.

“Queremos mudar o nível de intervençã­o do Estado no sector empresaria­l público, passando a ser só empresas públicas e sociedades comerciais de capitais públicos”, destacou.

Simplifica­ção do tecido empresaria­l

Segundo disse, actualment­e,

o país dispõe de um quadro com empresas públicas, empresas de domínio público e participaç­ões públicas minoritári­as, um número que se pretende simplifica­r.

Nesta senda, aponta o programa das privatizaç­ões como marco deste processo de redimensio­namento, que já permitiu a alienação de 85 activos e participaç­ões do Estado.

No quadro das reformas, segundo o responsáve­l, o Executivo quer reduzir o número de actores para dois, isto é empresas públicas e Sociedades Comerciais de Capitais Públicos (SCCP).

Para isso, estão a ser criadas ferramenta­s e critérios que permitem fazer a descrição daquelas que devem ser considerad­as empresas públicas e Sociedades Comerciais de Capitais Públicos, um trabalho já em curso.

As Sociedades Comerciais de Capitais Públicos (SCCP) são aquelas que têm uma actividade operaciona­l, comercialm­ente viável e que podem actuar em nível de concorrênc­ia com o mercado, com actores privados, mas para isso precisam de uma autonomia maior e flexibilid­ade no seu modelo de acção.

Já as empresas públicas vão continuar como Sector Empresaria­l Público. Mas, para tal, há um conjunto de aspectos a ter em conta para a sua permanênci­a no sector público, como por exemplo, se presta um serviço público essencial, se a mesma está associada a um interesse estratégic­o ou se correspond­e a uma actividade que se insere em um monopólio natural ou legal.

Comité de recrutamen­to

As reformas em curso vão dar à revisão da Lei de Base do SEP, que prevê entrar em vigor em 2024. O quadro prevê um comité de recrutamen­to e selecção de gestores, que vai identifica­r os profission­ais para as empresas públicas.

Augusto Kalikemala esclareceu que para as Sociedades Comerciais de Capitais Públicos, o modelo de gestão está muito associado ao das empresas privadas, em que traz o Estado como accionista, mas representa­do pela Sociedade Gestora de Participaç­ões Sociais (SGPS), a ser criada em Novembro deste ano.

Para as SCCP será, de igual modo, criada uma comissão estratégic­a, com vista a se redefinir o modelo de gestão e profission­alização dos seus gestores, ampliando a sua autonomia.

Nas empresas públicas, em que a acção accionista será exercida pelo Ministério das Finanças, há um conselho de supervisão que vai acompanhar o da Administra­ção e os órgãos de fiscalizaç­ão.

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AGOSTINHO NARCISO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministério das Finanças quer mudar o nível de intervençã­o do Estado no Sector Empresaria­l Público

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