CARTAS DOS LEITORES
O dilema americano
Diz-se que Zbigniew Brzezinski, um cientista político, geopolítico e Estadista americano, de origem polonesa, que chegou a ser conselheiro para Segurança Nacional de Jimmy Carter,defendeunumadassuasobras que“aaméricadeviafazertudopara quenoespaçodaeuroásia não emergisse uma outra potência, capaz de pôr em causa a hegemonia dos Estados Unidos”. E essa realidade para efectivar-se nos 30 anos e muito concretamente agora com a Rússia e daqui a meses ou anos com a China. Um parêntesis aqui para explicar que em tempos uma publicação chinesa, próxima do partido comunista chinês, tinha defendido que seria uma ilusão as pessoas na China pensarem numa coexistência pacífica com os Estados Unidos, “insinuando” que era melhor assumir-se que uma confrontação militar entre os dois países seria quase uma inevitabilidade. E parece que tem razão a julgar pela forma como os Estados Unidos encaram a ascensão chinesa e a maneira como a China procura fazer o oposto das tentativas, ainda que sub-reptícias, para a isolar, estendendo cooperação militar com países asiáticos, à semelhança do que recentemente fez com as Ilhas Salomão.
Voltando à Ucrânia, inicialmente a estratégia dos Estados Unidos, tal como enfatizada por Lloyd Austin
III, o secretário da Defesa, e Anthony Blinken, o secretário de Estado, segundo os quais “a América apoiaria a Ucrânia não apenas até à derrota da Rússia, mas também até ao ponto em que o enfraquecimento da Rússia a inviabilizaria de nunca mais voltar a fazer com nenhum país o que está a fazer com Ucrânia”. Ou seja, a estratégia inicial dos Estados Unidos passaria por enfraquecer a Rússia, provavelmente, até à humilhação, razão pela qual Emmanuel Macron tinha advertido que o país de Vladimir Putin não precisa de ser humilhado, coisa que levou as autoridades de Kiev a indignarem-se contra a França. Recentemente, segundo alguns meios de comunicação dos Estados Unidos, o Presidente Joe Biden instou, publicamente, Austin e Blinken a reduzirem a retórica relacionada com uma eventual derrota russa na guerra contra a Ucrânia. Na verdade, está claramente implícito a ideia de que para os Estados Unidos, de uma maneira geral, interessa que a Rússia, na impossibilidade de sair derrotada, saia desta guerra completamente debilitada e eventualmente com o derrube de Vladimir Putin. Assim, cumpre-se parte do exposto na obra do estrategista mencionado e depois as atenções seguem-se para o Extremo-oriente, onde a gota de água que vai fazer transbordar o copo de água é precisamente Taiwan, a “ilha rebelde” chinesa que se nega a uma reunificação forçada.
Joe Biden já avisou que os Estados Unidos vão usar da força militar para ajudar Taiwan a defenderse de uma eventual invasão chinesa. E para piorar as coisas, agora parece que as ameaças partem da própria “província renegada” que pediu à China para não subestimar a capacidade da ilha defender, dizendo inclusive que tem mísseis capazes de atingir Beijing, a capital da China.
Ao nível da Ásia, alguns países encaram o Tio Sam como uma espécie de contrapeso. E, ao contrário dos Estados Unidos que têm dezenas de aliados e de peso na região, a China quase não tem amigos na região, com a excepção de alguns de circunstância. Os países mais desenvolvidos se opõem abertamente à forma como a China reclama para si, por exemplo, todo o Mar do Sul da China e apenas os Estados Unidos têm poder e força para lembrar à China que aquele espaço marítimo nãoésópertençadopaísdexijinping.