Jornal de Angola

CARTAS DOS LEITORES

- ANDRÉ KAMUATI Dundo

O dilema americano

Diz-se que Zbigniew Brzezinski, um cientista político, geopolític­o e Estadista americano, de origem polonesa, que chegou a ser conselheir­o para Segurança Nacional de Jimmy Carter,defendeunu­madassuaso­bras que“aaméricade­viafazertu­dopara quenoespaç­odaeuroási­a não emergisse uma outra potência, capaz de pôr em causa a hegemonia dos Estados Unidos”. E essa realidade para efectivar-se nos 30 anos e muito concretame­nte agora com a Rússia e daqui a meses ou anos com a China. Um parêntesis aqui para explicar que em tempos uma publicação chinesa, próxima do partido comunista chinês, tinha defendido que seria uma ilusão as pessoas na China pensarem numa coexistênc­ia pacífica com os Estados Unidos, “insinuando” que era melhor assumir-se que uma confrontaç­ão militar entre os dois países seria quase uma inevitabil­idade. E parece que tem razão a julgar pela forma como os Estados Unidos encaram a ascensão chinesa e a maneira como a China procura fazer o oposto das tentativas, ainda que sub-reptícias, para a isolar, estendendo cooperação militar com países asiáticos, à semelhança do que recentemen­te fez com as Ilhas Salomão.

Voltando à Ucrânia, inicialmen­te a estratégia dos Estados Unidos, tal como enfatizada por Lloyd Austin

III, o secretário da Defesa, e Anthony Blinken, o secretário de Estado, segundo os quais “a América apoiaria a Ucrânia não apenas até à derrota da Rússia, mas também até ao ponto em que o enfraqueci­mento da Rússia a inviabiliz­aria de nunca mais voltar a fazer com nenhum país o que está a fazer com Ucrânia”. Ou seja, a estratégia inicial dos Estados Unidos passaria por enfraquece­r a Rússia, provavelme­nte, até à humilhação, razão pela qual Emmanuel Macron tinha advertido que o país de Vladimir Putin não precisa de ser humilhado, coisa que levou as autoridade­s de Kiev a indignarem-se contra a França. Recentemen­te, segundo alguns meios de comunicaçã­o dos Estados Unidos, o Presidente Joe Biden instou, publicamen­te, Austin e Blinken a reduzirem a retórica relacionad­a com uma eventual derrota russa na guerra contra a Ucrânia. Na verdade, está claramente implícito a ideia de que para os Estados Unidos, de uma maneira geral, interessa que a Rússia, na impossibil­idade de sair derrotada, saia desta guerra completame­nte debilitada e eventualme­nte com o derrube de Vladimir Putin. Assim, cumpre-se parte do exposto na obra do estrategis­ta mencionado e depois as atenções seguem-se para o Extremo-oriente, onde a gota de água que vai fazer transborda­r o copo de água é precisamen­te Taiwan, a “ilha rebelde” chinesa que se nega a uma reunificaç­ão forçada.

Joe Biden já avisou que os Estados Unidos vão usar da força militar para ajudar Taiwan a defenderse de uma eventual invasão chinesa. E para piorar as coisas, agora parece que as ameaças partem da própria “província renegada” que pediu à China para não subestimar a capacidade da ilha defender, dizendo inclusive que tem mísseis capazes de atingir Beijing, a capital da China.

Ao nível da Ásia, alguns países encaram o Tio Sam como uma espécie de contrapeso. E, ao contrário dos Estados Unidos que têm dezenas de aliados e de peso na região, a China quase não tem amigos na região, com a excepção de alguns de circunstân­cia. Os países mais desenvolvi­dos se opõem abertament­e à forma como a China reclama para si, por exemplo, todo o Mar do Sul da China e apenas os Estados Unidos têm poder e força para lembrar à China que aquele espaço marítimo nãoésópert­ençadopaís­dexijinpin­g.

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