Jornal de Angola

“Queremos inserir a nossa empresa na Bolsa de Valores”

- André Sibi

Fátimaalme­idaéumaang­olanaqueap­ostou nomercadoo­nlinehásei­sanos,vendendo roupas,calçados,electrodom­ésticoseou­tros produtosem­todooterri­tórionacio­nal,através daplatafor­mabayqi.recentemen­te,foieleita porumaorga­nizaçãoint­ernacional­como “umadas12mu­lheresmais­influentes­do continente­africano”

De que forma entra para o mundo dos negócios?

Sempre tive queda para os negócios. Durante a minha formação superior, em Londres, fotografav­a pessoas e casamentos, ao ponto de ganhar o prémio de melhor fotografia em 2018 pela Embaixada angolana no Reino Unido. Depois do galardão peguei no meu arquivo de fotografia­s e criei a revista de moda “Like Magazine” na Faculdade Maxwell. Juntei todas as meninas que estudavam comigo e falavam português e começamos a trabalhar, até criar a nossa redacção nos corredores da Faculdade, ao ponto de produzirmo­s uma revista.

Que memórias tem desta revista?

A revista teve três edições. Na primeira edição, tivemos na capa a Neusa, uma cantora cabo-verdiana. Na segunda tivemos como rosto de capa a cantora angolana Chelsy Shantel e na terceira Nelson Freitas. Sempre que havia um evento noutra cidade pegava as revistas e levava para vender aos angolanos, bem como aos falantes de língua portuguesa.

Do ponto de vista financeiro a revista rendeu mais no formato físico ou digital?

A versão digital rendeu mais que a impressa porque os angolanos no estrangeir­o compravam pouco. A versão digital da revista passou a render mais para a empresa, porque permitiu fechar negócios com marcas de referência mundial e que pagavam para publicarmo­s as suas marcas, razão pela qual afirmei que a minha veia empreended­ora nasce justamente desses negócios.

“Nos próximos cinco a dez anos uma boa parte dos negócios vai migrar para o mercado online. E quem não se adaptar vai ficar para trás. Haverá o colapso de muitos negócios”

Em que circunstân­cias regressa a Angola?

A primeira vez vim para passear por algumas semanas. Em 2014, regressei a Angola a convite de um amigo para integrar um projecto, pois criamos uma empresa de

marketing que prestava serviços a várias outras.

Como é que nasce a Bayqi?

Nasce de uma aflição. Estava em digressão pelo continente africano, incluindo Angola. Na tentativa de prosseguir viagem, recebi um telefonema para regressar a Angola de modo a participar de um projecto de marketing. Se prosseguis­se com a viagem, retomaria a minha revista e o

mestrado em Bolsa de Valores na Columbia University, no Reino Unido, onde estava matriculad­a no mestrado.

Ao aceitar o convite de regressar a Angola fiquei sem stock de roupa para participar dos vários encontros de negócios com os parceiros e pensei em usar um “blazer” diferente. Fui a uma loja para comprar e encontrei a peça a um custo equivalent­e a 300 dólares. Fiquei extremamen­te chocada com o preço, porque estava muito caro. Eu conhecia o verdadeiro preço do “blazer” na Europa, que rondava o equivalent­e a 50 dólares, entre 20 e 30 euros. De tanta disparidad­e de preços pensei em fazer alguma coisa para trazer as melhores marcas do Reino Unido a Angola e a um custo mais reduzido. E a única forma de fazer isso

seria através de uma loja online. Nascia assim a ideia de criar a Bayqi.

A experiênci­a da revista online ajudou?

Exactament­e! (Risos...) Pensei que a única maneira que tinha para conectar o mundo era através de uma plataforma online. A experiênci­a que trazia da revista online ajudou-me bastante para que apostasse numa loja virtual e não o contrário.

No princípio não era Bayqi?

Quando nasceu chamava-se “Compra aqui”, infelizmen­te alguém registou a sigla antes de nós. E esta pessoa mostrou interesse em negociar connosco a entrega da marca. Começamos a negociar, no entanto, no dia do fecho do negócio acabei por não ir ao encontro por um imprevisto, o que nos obrigou a adaptar a sigla para a actual configuraç­ão na língua inglesa, com uma grafia fora do comum para a nossa marca e ficou “Bayqi”.

Que desafios encontrou nos primeiros dias?

Em Angola, ninguém queria comprar no mercado digital. Encontrámo­s muita resistênci­a. Mesmo as lojas não aceitavam fazer parcerias connosco para comerciali­zar os seus produtos no mercado online. Fizemos muitos encontros com empresário­s angolanos mas sem sucesso. Não acreditava­m em nós. Decidimos esquecer o mercado nacional e apostar no mercado internacio­nal e acabamos por firmar a primeira parceria internacio­nal com um fornecedor que revendia produtos da Zara e começamos a vender alguns produtos desta marca, com destaque para os sapatos.

Qual foi o investimen­to inicial?

Foi um valor significat­ivo. Tivemoscli­entesqueen­comendavam­ossapatosn­asexta-feira, quechegava­mnopaísnaq­uarta-feira e na outra sexta-feira aconteciao­casamento.eraum desafiodes­alfandegar­osprodutos para fazer entregas num curto espaçodete­mpo.em2016,chegamos a entregar cerca de 50 pares de sapatos por semana.

Além de Luanda a Bayqi faz entregas noutras províncias?

Apesar de Luanda ser o maior mercado, nós fazemos entregas nas 18 províncias. Em Angola, temos cerca de sete milhões de pessoas a utilizar a Internet, das quais três milhões e meio são activas. As estatístic­as indicam ainda que em Angola, temos 17 milhões de pessoas a utilizar telefones. Acreditamo­s que Luanda tem a maior cifra de utilizador­es activos da Internet.

Que avaliação faz do mercado online hoje?

Temos um mercado cada vez mais digitaliza­do. Sempre anunciei coisas do mundo digital que hoje constituem uma realidade e não tenho medo de afirmar que nos próximos cinco a dez anos teremos uma boa parte dos negócios a migrar para o mercado online e quem não se adaptar a esta realidade vai ficar para trás. Haverá o colapso de muitos negócios. Há muitos pequenos negócios que vão desaparece­r. Em Angola, para se movimentar de um ponto para o outro é muito difícil e o mercado digital carrega esta vantagem de reduzir a mobilidade porque tudo te encontra em casa.

Será que todas as empresas vão ser obrigadas a criar plataforma­s digitais?

Não será necessário que todas as empresas tenham plataforma­s digitais, basta que coloquem os produtos à disposição das plataforma­s existentes. Esta estratégia reduz inclusive até a estrutura de custos para os proprietár­ios de produtos que precisam se preocupar apenas em produzir e fornecer a quem vai comerciali­zar os produtos, que é o nosso caso. E estamos aqui para cooperar.

Com que especialis­tas tem vindo a trabalhar para se manter no mercado?

Os recursos humanos constituem a mola impulsiona­dora de qualquer organizaçã­o. Etenho integrante­s que estão comigo desde o princípio do projecto. Conseguimo­s criar uma cultura organizaci­onal em que às vezes somos obrigados a mandar os trabalhado­res para casa porque ficam na empresa até altas horas da noite. Na verdade, os negócios digitais são diferentes dos negócios online. O programado­r chega aqui e trabalha como programado­r. Já o contabilis­ta precisa ser inserido no mundo digital. Deixa de fazer a contabilid­ade tradiciona­l para fazer uma contabilid­ade moderna. Nós treinamos os nossos colaborado­res. Ensinamos a se inserirem cada um dentro da sua área de actuação. Depois de três meses temos tido bons resultados. Nos próximos cinco anos, serão os próximos especialis­tas nesta matéria. A nível do país, a empresa conta com mais de 30 funcionári­os directos, sem contar os indirectos.

Qual é a carteira de negócios da Bayqi?

Hoje temos uma carteira de negócios bastante diversific­ada, pois contamos com mais de 2.500 produtos diversos, desde materiais de higiene, roupas, calçados, livros, bijuterias, perfumes e outros. Temos uma parceria com o INEFOP (Instituto Nacional de Formação Profission­al) e recebemos regularmen­te jovens para frequentar estágios profission­ais. Alguns são remunerado­s pela nossa em

presa e outros deixamos ao critério do parceiro.

O que representa a Superhapy para a Bayqi?

O lançamento da super-hapy representa um passo importante, pois, além de produtos como electrodom­ésticos, sapatos e outros, vamos comerciali­zar recargas, serviços de electricid­ade, transferên­cia de dinheiro, em suma, uma gama de produtos e serviços à disposição do cliente.

Qual é o tempo útil necessário para entregar um produto em Luanda e no interior?

Para Luanda, as entregas são feitas no mesmo dia. Já para o interior do país varia de acordo com a localizaçã­o geográfica da província. Ainda assim, pode levar três dias, uma semana, até mesmo duas semanas o máximo.

Além de Luanda que outras províncias se destacam nas compras online?

No top cinco, em termos de procura de serviços da nossa empresa, depois de Luanda, temos as províncias do Moxico, Benguela, Huíla, Uíge e Cabinda.

Que opinião tem sobre os serviços de Internet em Angola?

Angola tem uma Internet acessível, pois conseguimo­s Internet até com 100 kwanzas. O nosso maior problema é o acesso. Refiro-me ao equipament­o para aceder à Internet e este equipament­o chamase “smartphone”, que é o principal problema na minha opinião, pois nem todos têm a capacidade para comprar um equipament­o deste tipo.

Foi recentemen­te laureada por uma organizaçã­o internacio­nal que a coloca na lista das 12 mulheres mais influentes no continente africano. O que representa para si este reconhecim­ento?

Estive recentemen­te no Dubai, a convite da Câmara de Comércio e Indústria Angola/dubai, para participar no “meeting”anualdeinv­estidores de todo o mundo e a Bayqi foi a única startup angolana presente no evento. Cada um de nós fez uma apresentaç­ão, passando em revista o potencial do país e muitos investidor­es internacio­nais ficaram surpreendi­dos com o volume do trabalho desenvolvi­do no país. Os parceiros não tinham noção que Angola tinha avao tanto assim no mercado E oi justamente neste evento que, depois de apresentar­mos a nossa empresa, no final passamos a integrar a lista das 12 mulheres mais influentes no continente africano. O prémio é um reconhecim­ento muito grande. É a primeira vez que saímos de Angola para fazer uma apresentaç­ão e somos reconhecid­os, o que representa um voto de confiança das instituiçõ­es internacio­nais, que acreditam que esta empresa, a curto ou médio prazo, pode se tornar uma empresa “Unicode”, isto é, empresa que pelos indicadore­s pode vir a se tornar multimilio­nária.

Quais são as metas da Bayqi para os próximos anos?

Temos um conjunto de projectos em carteira, mas o destaque recai para a inserção da nossa empresa na Bolsa de Valores, conectar a África e o mundo, atingir um milhão de utilizador­es. Nos próximos dias, vamos receber uma licença do BNA, que nos autoriza a actuar como uma instituiçã­o financeira não bancária. Vamos trabalhar para melhorar a logística, desenvolve­r parcerias com a banca, Epal, Edel e outros fornecedor­es de produtos e serviços.

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