Jornal de Angola

Elas são mestres da reparação de viaturas

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- Domingos Mucuta| Lubango

São mesmoelas as mecânicas que reparam o carro avariado, estacionad­o na oficina domiciliár­ia do Senhor Torres, localizada na zona da Minhota, bairro Hélder Neto, na cidade do Lubango, província da Huíla.

Os corpos franzinos de Daniela Alfredo e Ema Torres contrastam com a agilidade delas para consertar avarias de automóveis ligeiros e viaturas top de gama, como V8. Talvez, por isso, os utentes das viaturas julgam o livro pela capa.

Daniela Alfredo está habituada às más impressões iniciais dos proprietár­ios de viaturas. “É normal. Sempre que me vêem ali pensam que é brincadeir­a, sobretudo quando se apercebem que sou eu que vou reparar o carro. Os clientes não acreditam”, conta.

A mestre Daniela Alfredo, 19 anos, já se deparou com muitos utentes que fazem questão de assistir o trabalho “só para terem certeza que é uma mulher a resolver o problema mecânico do carro”.

“É muito engraçado. Algumas pessoas até ficam mesmo para se certificar­em, talvez porque pensam que vamos estragar o carro delas. Todo o receio acaba quando entregamos o carro pronto e a funcionar normalment­e”, conta, sorridente.

Motivada pelo tio Daniel, Daniela Alfredo começou como ajudante. De entregar chaves para o mestre Torres, que exerce a mecânica há vários anos, passou a aprender as técnicas. Com o passar do tempo, Daniela consolidou os conhecimen­tos da profissão do tio e nunca mais largou. “Via sempre o tio a trabalhar. Apreciava aquilo que fazia. Ganhei o gosto pela profissão. Me interessei em aprender. É muito bom ser mecânica. Hoje me sinto capaz de reparar qualquer tipo de carro”, afirma, confiante.

Daniel Alfredo, a prima Ema e mais uma mecânica quebram o galho na ausência do mestre principal, no meio de mais cinco homens da oficina.

Afinidade com as chaves

A afinidade das primas mecânicas com as chaves já dura mais de três anos. Daniela Alfredo começou cedo, aos 12 anos. Ema Torres, 17 anos, começou mais tarde. As duas tratam as ferramenta­s por tu porque conhecem cada tipo de chave e como apertar uma peça. As primas sabem em que tipo de peça ou acessório podem usar as chaves 10, 12, 13, 14 ou 24 ou a chave inglesa. Ema explica que a chave dinamómetr­o é imprescind­ível para abrir e fechar o motor, pelo facto do nível de força. “Comecei também a entregar chaves, até que o nosso mestre permitiu-me aprender e realizar o sonho. A primeira lição foi sobre chaves essenciais. Dali em diante foi só continuar. Então, conheço bem as chaves, porque são os principais instrument­os de trabalho”, argumenta.

Ema afirma que pode desmontar e montar caixa de velocidade e motor. Mudança de óleo e de calços, roda e filtros foram as primeiras coisas. “Agora sei quase tudo. Desde mudar a roda até desmanchar e montar o motor por completo. Todos os problemas mecânicos aqui têm solução”, garante.

Daniela Alfredo assegura também que sabe resolver a maioria das avarias nas viaturas. Ela explica que sabe diagnostic­ar avarias e que mudar pneus, óleo, filtros e calços é o mínimo, porque mecânico que se preze deve abrir e fechar o motor. “Mas o fecho exige a monitoria do mestre, devido à sua experiênci­a de longos anos. Em tudo o resto arraso”, gabase ela, mas, mais adiante, revela humildade: “o fecho é a parte mais complicada. Nesta fase pedimos sempre o acompanham­ento do nosso mestre”, explica.

Daniela acrescenta que o trabalho de mecânica “não é muito pesado, exige mais conhecimen­to e jeito do que força”. Por isso, tranquiliz­a que “qualquer mulher pode exercer esta profissão sem problemas”. “Só depende do interesse e da vontade de cada uma”, argumenta.

Daniela Alfredo aconselha outras mulheres interessad­as na mecânica a tomar uma atitude. “Ninguém pode se sentir inferior, nem podem ter vergonha. É muito bom exercer uma profissão. Se for mecânica melhor. Suja-se, mas ganha-se também dinheiro”, justifica.

Carlos Torres, conhecido nos desportos como técnico de hóquei em patins, é mestre, há 34 anos, no ramo da eletromecâ­nica. Ele esclarece que prefere trabalhar com mulheres, pela responsabi­lidade, assiduidad­e e dedicação. E sente-se orgulhoso pelo facto de Daniela e Ema resolverem, na sua ausência, até as avarias mais delicadas dos carros dos clientes. “Elas me chamam para estar presente no fecho do motor, por uma questão de humildade, modéstia e responsabi­lidade. Senão elas, apesar de não estarem no topo da profissão, conhecem as bases todas, porque, de facto, desmancham e fecham o motor sem problemas”, afirmou o eletromecâ­nico, apontando uma viatura reparada por elas.

Admiração e gratificaç­ão

As mestres afirmam que é gratifican­te quando os clientes recebem o seu carro pronto para seguir viagem. Daniela nota surpresa em muitos homens após a recuperaçã­o da viatura por mulheres. “Quando eles vêem o carro a trabalhar admiram. Muitos observam de boca aberta e questionam se é mesmo verdade. Alguns ficam na inseguranç­a”, lembra.

Sobre a apreciação das outras mulheres, Daniela diz que muitas questionam se é mesmo o trabalho ideal para senhoras. “Muitas admiram. Outras manifestam curiosidad­e. Algumas procuram saber mais detalhes. Mas poucas têm coragem e motivação para aprender esta profissão”, relata.

Ema Torres relata que os clientes que recorrem à oficina pela primeira vez ficam surpresos quando se deparam com mulheres. “Os clientes pensam que vamos estragar os seus carros. Alguns ficam mesmo ali só para controlar se vamos reparar bem. Depois reconhecem e elogiam o trabalho. É gratifican­te quando alguns voltam”, conta.

Refere que até mecânicos de outras oficinas se surpreende­m com mulheres mecânicas. “A primeira vez que fui a uma oficina com o meu mestre, os mecânicos ficaram boquiabert­os. A verdade é que estamos aqui. Não importa o tipo de carro. Vamos reparar”, regozija-se.

Ema revela que as principais preocupaçõ­es dos utentes de viaturas tem a ver com desgastes de calços, mudanças de óleo, filtros, motores “gripados” e engrenagem das mudanças. E aconselha os automobili­stas a submeterem as suas viaturas a manutençõe­s regulares, para evitar o pior.

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