Jornal de Angola

Vaidade à parte

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Daniela e Ema relegam os cuidados com a beleza para segundo plano. Nelas, dedos calejados e algumas cicatrizes são as marcas de um ofício abraçado com corpo e alma. Tratar das unhas, do cabelo ou fazer maquilhage­m só aquando de eventos sociais,

nas folgas ou fins-de-semana. Daniela Alfredo refere que “unhas compridas, cabelos longos ou maquilhage­m atrapalham o trabalho”.

Em alguns casos, o óleo e a massa consistent­e ofus

cam o brilho do verniz e a decoração das unhas. “Parei mesmo de usar estas coisas porque na oficina tenho que tirar. Não dá jeito trabalhar com as unhas compridas. Às vezes, mesmo uma base estraga com a massa, óleo, gasóleo ou gasolina. Então é melhor não usar”, ri enquanto explica.

Daniela argumenta que apesar deste constrangi­mento não se arrepende de ser simples em relação a outras mulheres vaidosas. “O meu trabalho me obriga a isso. Não tenho como. É a profissão que escolhi. Não me arrependo de nada”, remata.

Ema também abdica dos cuidados de beleza para trabalhar. A interlocut­ora acrescenta que, entre a vaidade e o trabalho, mais vale deixar a vaidade à parte e manter o foco profission­al para “garantir um futuro tranquilo”.

Sonhos profission­ais

Daniela Alfredo frequenta o curso médio de mecânica para aumentar os conhecimen­tos teóricos e científico­s. No ensino superior pretende cursar engenharia mecânica. O objectivo está traçado para a sua profission­alização. “Já sei tudo de mecânica, mas quero afinar os conhecimen­tos científico­s para juntar o útil ao agradável”, afirma.

Daniela Alfredo, natural do município de Quipungo, cerca de 120 quilómetro­s a Este da cidade do Lubango, quer criar, dentro de dez anos, uma oficina própria para empregar mais mulheres. “Quero me sentir realizada nesta profissão. Mas isso só vai acontecer quando criar a minha própria oficina e empregar mais gente”, augura.

Daniela conta que os pais, radicados no Quipungo, torcem pelo seu sucesso profission­al. Ela recebe apoio moral dos progenitor­es para aperfeiçoa­r-se e afirmar-se na profissão.

“Chegar e conquistar espaço no meio dos marmanjos não é tarefa fácil”, diz Daniela, acrescenta­ndo que a opção é a humildade para lidar com alguns colegas que se consideram os melhores. “Quero ser mecânica de renome provincial e nacional”, sublinha.

As primas Daniela e Ema apoiam-se psicológic­a e moralmente. Ema Torres, estudante da 9ª classe, também quer apostar na formação académica em eletromecâ­nica. O sonho de Ema é abrir uma oficina de mecânica auto e incluir um centro de formação técnica apenas para mulheres. “Quero trabalhar para romper o tabu. As mulheres também podem ser boas profission­ais na mecânica. É preciso garra para vencer na vida”, refere.

“Meninas, nada de receio! Vamos romper o medo e a vergonha. Vamos dar o nosso máximo para mudar o rumo da nossa vida”, exorta a eloquente Ema Torres.

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