Jornal de Angola

Os números da nossa História

- Dias Neto

Nós, os angolanos, temos uma história rica. De Cabinda ao Cunene, do Lobito ao Luau, a nossa Angola anda recheada de factos que nos enchem de orgulho. E é habitual, quando se fala da nossa história colectiva, citar- se o nome de corajosos angolanos que nos legaram verdadeiro­s exemplos de bravura e amor à nossa terra. Contudo, não é deles que me propus falar. Venho falar dos números da nossa história, ou melhor, de coincidênc­ias existentes entre si.

O número quatro lidera as coincidênc­ias. A 4 de Janeiro de 1961, muitos angolanos foram assassinad­os pelas autoridade­s coloniais em Malanje, por reclamarem das más condições de trabalho e do pouco dinheiro que recebiam nos campos de cultivo do algodão.

Depois do 4 da chacina em Malanje, surge, no mês seguinte, o 4 de Fevereiro de 1961. O famoso dia das catanas e do ataque às cadeias da PIDE em Luanda, que ficou marcado como o do início da luta armada de libertação nacional. Antes de findar essa década, um acto de bravura volta a marcar de forma indelével o número 4 na nossa história: a 4 de Junho de 1969, três corajosos jovens desviaram um avião a partir do aeroporto de Luanda, levando-o para Brazzavill­e, onde foram juntar-se à luta de libertação nacional.

No ano da nossa independên­cia, isto é, em 1975, o 4 de Fevereiro faz mais uma presença histórica com a chegada apoteótica de Agostinho Neto a Luanda: nesse dia, a recebê-lo, a capital angolana conheceu uma moldura humana jamais vista.

Já há muito independen­tes, surge-nos como bênção mais um 4, o de Abril de 2002, que pôs fim à nossa longa guerra fratricida. Este quatro, o último do quinteto, é considerad­o o dia mais importante da nossa história, depois do 11 de Novembro, o dia da independên­cia.

E o 11 da nossa independên­cia também não aceitou estar só. Entrou também no rol de coincidênc­ias com o número do seu mês, o Novembro, ficando a ser 11 de 11. Já que estamos a falar destes onzes que doaram o seu nome à nova catedral do nosso futebol, o Estádio 11 de Novembro, porquê não juntar também o 4 a 4 do Angola-mali, na abertura do histórico CANANGOLA- 2010, aos demais quatros da nossa história?

Trago ainda um acontecime­nto que, pela sua relevância, devia também fazer parte da nossa história. Recentemen­te, no Capalanga, em Viana, zona que actualment­e lidera os índices de criminalid­ade na nossa Luanda capital, um grupo de cinquenta jovens decidiu entregar à Polícia as catanas que usava em acções criminais e rixas contra grupos rivais.

Caso conste da nossa história, a sua coincidênc­ia com outro facto será atípica porque não estará nas datas em que acontecera­m, mas sim no seu número de integrante­s. Coincidirá com o afamado julgamento do processo dos cinquenta de Março de 1959, em que foram julgados cinquenta jovens angolanos acusados de terrorista­s pelas autoridade­s coloniais.

Como se noticiou que a Polícia de Viana teve grande mérito nesta acção perpetrada pelos jovens do Capalanga, seria muito valioso se outras instituiçõ­es surgissem com projectos que ocupassem estes jovens nos tempos livres. E podia citar, como exemplo, a União dos Escritores Angolanos. Oferecialh­es cinquenta livros, pois estes, segurament­e, são as catanas do novo tempo. Abrem o caminho do progresso.

Junho de 2020.

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