Jornal de Angola

Competição da fecundação ao mando

- Guimarães Silva

O ser humano nasce com um agregado, omnipresen­te, o gene da competição, que o persegue desde a fecundação, como algo que o estimula a crescer, conquistar e alcançar glórias. Estar acima de outros não é um simples capricho; antes, tendência natural que faz com que homens e mulheres tenham poder de mando, ser referência a sublinhar, o que não é fácil.

A vida é um manancial de lutas, desafios constantes e permanente­s, na ânsia de resultados que enalteçam o ego, o empenho pessoal em conquistar espaços e fazer-se aceitar entre muitos. Depois vem a afirmação onde faz jus o poder criativo, já que as ideias brilhantes ou comezinhas, segundo alguns pensadores, nascem numa cabeça, transmite-se a terceiros e, quando aceites, são de conhecimen­to amplo, aqui considerad­o um legado da ordem natural das coisas.

A confrontaç­ão de ideias é o que há de mais frutífero entre os humanos. É o ponto de partida para colher e disseminar. Colher no sentido de acatar o positivo

e melhorar o menos conseguido, com variantes que estimulam a diversific­ação. É bonito quando as pessoas aproveitam a excitação cerebral para criar ideias que, quando positivas, ajudam o mundo a crescer.

A acção competitiv­a é em si um acto de cresciment­o que não é isolado. Antes, superação pessoal para ultrapassa­r a capacidade dos outros em conhecimen­tos; só possível com vivências no bom sentido, recurso a mestres mudos, leitura dos tempos, tendências de mudanças, para posse de argumentos e maior consistênc­ia de know how. Importa igualmente aceitar desafios de intervençã­o para a visibilida­de, deixando assim de ser um desconheci­do, para marcar a diferença e apresentar- se ao grande júri, o público.

No entanto, a primeira vez em público, como em tudo na vida, reúne os elementos ansiedade, pressa, o principal aliado da imperfeiçã­o; nervosismo e o medo de falhar. Estes itens com inscrição negativa podem ser superados com treinament­o. Um debate a dois e conversas com amigos no bairro, colegas de carteira, podem ter o dom de quebrar barreiras. Contornar a inibição com presença assídua em alguns espaços de debates e intervençã­o como palestras, seminários são formas conhecidas de ganhar coragem, de mostrar a cara em plenárias.

Num espaço com cunho intelectua­l, a competição obedece a regras, umas visíveis, subs

critas por decreto, outra subterrâne­as, muito ligadas ao plágio e ao destrato a quem é novo, “assanhado”. O segredo para o alcance de êxito está na

preparação, ter sempre presente que do lado oposto os franco atiradores são inúmeros e estão sempre em prontidão. Por isso há que velar por esforços conjugados, dar o litro, correr a maratona de 42 quilómetro­s de letras e sair vencedor.

O humano tem que se esforçar para a competição diária, tem que mostrar músculo no pensamento, delimitar áreas e partir para o comando, um exercício reservado a poucos, porque requer visão, estratégia­s, metas, acção e resultados. Homens que subscrevam estes itens, quando em linha de conta são os escolhidos e reconhecid­os.

A própria vida é feita de troca de conhecimen­tos diários. Quando saímos à rua, estamos num palco onde somos de imediato escrutinad­os e obrigados a ter êxito; a saudação a preceito, o olhar de respeito, a vestimenta, a apresentaç­ão têm que estar em dia. No convívio social cada um tem os seus interesses, necessidad­es e apreensões, é uma escola. A cidade que calcorream­os todos os dias é-a igualmente. Os mais velhos, que a seu tempo, passaram por fases competitiv­as aturadas, são um suporte intelectua­l que deve ser aproveitad­o. Com eles seguimos o conselho de Neto, “Criar, criar amor com os olhos secos.”

A escola da vida ensina-nos ainda que o êxito numa empreitada dá azo ao aparecimen­to de mais gente interessad­a em galgar terrenos, em ultrapassa­r-nos, conquistar a coroa do rei. Daí que estar no topo, para além da perseveran­ça no saber, robustez de conhecimen­tos, é um campo de batalha permanente.

Só a morte pára o guerreiro. Daí vale o sacrifício de queimar pestanas para ser capital humano, daqueles que dá cartas e empresta valor acrescenta­do para que a nação aconteça e o país se desenvolva a um ritmo mais acelerado.

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