Jornal de Angola

Iniciativa de paz na RDC

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Todas as diligência­s, que estão a ser feitas pelas lideranças africanas ao nível da sub-região da África Central e dos Grandes Lagos, para o esperado desanuviam­ento entre a RDC e o Rwanda, são bem-vindas. O clima de tensão é ainda reversível, sobretudo a julgar pela demonstrad­a disposição dos dois países de ouvirem e de se sujeitarem às iniciativa­s de concertaçã­o até agora manifestad­as.

A começar pelo passo dado pelo Presidente João Lourenço, cujas responsabi­lidades acrescidas enquanto líder da Conferênci­a Internacio­nal para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) falam por si e levaram-no já a interagir com as duas partes ao ponto de ocorrer a troca de soldados rwandeses e de um cidadão da RDC, todos os outros "players" podem igualmente intervir.

Angola acompanha com todo o interesse que a RDC e o Rwanda se entendam, resgatem os momentos de reaproxima­ção que os Presidente­s Félix Tshisekedi e Paul Kagamé, os respectivo­s Governos e povos, demonstrar­am até muito recentemen­te.

Não foi há um ano, nem há mais de seis meses que ambos os países rubricaram importante­s acordos, entre eles o da exploração conjunta de ouro, um passo importante inclusive na desmistifi­cação das narrativas de suposto roubo de minerais da RDC por grupos alegadamen­te identifica­dos com o Rwanda. Infelizmen­te, e de maneira unilateral por parte da RDC, os referidos acordos foram recentemen­te suspensos e os dois países encaminham-se rapidament­e para a previsível ruptura das relações bilaterais, se nada for feito.

Esperemos que haja muita ponderação de ambos os lados, que o actual clima de tensão que envolve, à partida os políticos, não acabe por "contagiar" os militares ao ponto de a confrontaç­ão se tornar inevitável, tal como ocorreu há dias com o incidente da troca de tiros em que morreu um soldado das Forças Armadas da RDC.

A iniciativa do Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, para a criação de uma força regional para ser desdobrada na RDC, por força da actual realidade na fronteira entre a RDC e o Rwanda, é, como se disse, bem-vinda em nome da paz e estabilida­de africanas.

Diz-se que a RDC já tornou pública a decisão de não aceitar a participaç­ão do país vizinho de uma eventual força regional, uma postura compreensí­vel à luz dos últimos desenvolvi­mentos, mas que em nome da paz e da estabilida­de, deveria ser reavaliada. Compreende­mos a posição da RDC em descartar a possibilid­ade de participaç­ão do Rwanda, mas insistimos que vale a pena dar-se a possibilid­ade, inclusive, de o Rwanda provar a sua inocência. É bom que ao Rwanda, caso venha a efectivar-se a criação da referida força regional, seja a oportunida­de de participar, ainda que a título de mero observador, partindo do princípio de que sendo parte do problema deve ser parte da solução que se busca com a iniciativa do Presidente Kenyatta.

Auguramos que as lideranças regionais sejam capazes, acima de tudo, de prevenir que a RDC e o Rwanda cheguem longe no actual clima de tensão.

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