Jornal de Angola

A árvore grande

- Manuel Rui

Lembro-me de ver a plantação de árvores ao longo da avenida onde desemboca a minha rua. As plantas pequenas ficavam protegidas por pedaços de madeira como uma cerca. Antes havia árvores por aqui. Dizem-me que poucas. Luanda nunca foi uma cidade de árvores como Maputo ou Huambo que mantém árvores que já existiam antes da cidade. E também, isso eu vi, os camponeses que fugiram para Luanda por mor da guerra, começaram a cortar as poucas árvores para fazerem lenha. Depois veio a doença do cimento armado. Antes de começarem a construir deviam primeiro ter plantado árvores.

Hoje, aquelas plantas que eu vi plantar já são árvores. Penso que nas escolas falam nas árvores como entidades. Para os artistas, as árvores são entidades. Não é apenas a postura do tronco, dos ramos e das folhas. Os aromas. As flores. Os frutos. São também os ninhos dos pássaros, a música quando abanadas pelo vento e o abrigo da chuva.

Eu penso Angola como uma imensa árvore de tronco, ramos, folhas, flores e frutos. Devemos caber todos na árvore e é a isso que se chama unidade nacional.

É assim que devíamos pensar nas eleições. Apresentar ideias diferentes mas para engrandece­r e melhorar a árvore. Não começar a tentar dar machadadas venenosas na árvore.

Depois podem acontecer coligações antropofág­icas, em que, mais à frente, se queiram comer uns aos outros. Espero que não mas já aconteceu. O problema é o poder. Aqui é para quem ganhar e só isso. Óbvio que deverá haver uma fiscalizaç­ão com representa­ntes dos candidatos num dos países africanos mais estáveis e conhecido na comunidade internacio­nal como o pacificado­r de conflitos na Região dos Grandes Lagos.

A procissão ainda vai no adro e já começaram problemas que agora se chamam constrangi­mentos. Qualquer dia os professore­s de Matemática não escrevem no quadro problemas mas constrangi­mentos.

Na nossa árvore não é um que costuma ganhar. São outros que perdem. É preciso respeitar a memória coletiva. Quem roubou os meus bois, os meus cabritos? Quem colocou bombas em escolas, estações de rádio, matou o comboio? Pois é. Também não é de bom tom cacarejar em Portugal pois os partidos portuguese­s não costumam vir fazer campanha aqui na nossa televisão, caramba!

Já copiámos muito. Participei na elaboração de projetos de constituiç­ões com outros compatriot­as. Esta, em vigor, se não me engano parece que foi escrita pelo constituci­onalista português Jorge Miranda. Deu uma de alfaiate de um fato para Eduardo dos Santos. É a que temos e um dia, como tudo, menos a árvore, será mudada.

Agora aparece gente a falar em alternativ­a. Hoje mando eu amanhã mandas tu. Isso não vem na constituiç­ão. E quem fala assim é gago porque alternativ­a é para esconder a ideia violentado­ra: “sai daí que eu quero o poder de qualquer maneira.”

Ora isto não é de qualquer maneira. E não andamos aqui para copiar os ingleses… que na monarquia não tem alternativ­a e os britânicos gostam, montam tendas só para ver a rainha. Cada religião com seu livro sagrado. Mostrou um humorista falando que este, a Bíblia, é o livro sagrado dos cristãos. Este, o Corão, livro sagrado dosMuçulma­nos, aqui a Tora, livro sagrado dos judeus e… alguém perguntou da plateia, “e dessas novas religiões como a Universal do Reino de Deus.?” O humorista meteu a mão dentro do bolso do casaco e tirou falando: “dessa é este livro de cheques.”

Aqui, na nossa árvore o livro é a constituiç­ão, as leis e as instituiçõ­es. Não tem livro de cheques tão pouco carecas.

As ideias de cada um de nós devem respeitar o livro. É a palavra da árvore. Eu não posso defender a fragmentaç­ão nacional. O ódio ou o tribalismo.

A democracia, qual? Deve começar na escola. Logo aí se deve aprender a votar. A escolher em liberdade o delegado da turma. A turma deve estar unida e a escola também.

O progresso precisa de novas ideias para se contrapore­m a outras que podem ser melhores ou piores. As eleições é que vão decidir e no fim deveria haver uma festa com todas as bandeiras, um culto ecuménico com todas as religiões (sem livro de cheques).

Aqui não tem Capitólio. Isso é lá longe mas com o devido respeito a aula saiu daqui quando alguém falou que ia reduzir Angola a pó…

Eleições devem significar paz. Não apenas o contrário de guerra mas no sentido de paz de espírito e alargament­o da liberdade e bem estar do povo.

Não rasguem bandeira porque é a do outro.

Quem roubou os meus bois, os meus cabritos? Quem colocou bombas em escolas, estações de rádio, matou o comboio? Pois é. Também não é de bom tom cacarejar em Portugal pois os partidos portuguese­s não costumam vir fazer campanha aqui na nossa televisão, caramba!

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