Jornal de Angola

O alcance do voto

- Luciano Rocha

As eleições de Agosto, mesmo que alguns não entendam - ou não queiram - pode constituir etapa significat­iva na caminhada e consolidaç­ão da democracia parlamenta­r, a que vigora no país, por permitirem a votação de emigrantes.

Aquele facto pode, inclusive, contribuir para o aumento do número de votantes em relação a anteriores escrutínio­s, mas tão ou mais importante do que isso é permitir que uma multidão de angolanos, para já, residentes numa dúzia de países estrangeir­os, independen­temente das causas que os levaram àquela situação, deixarem de se sentirem marginaliz­ados, sem direito a expressare­m o que pensam sobre a terra que os nasceu e lhes negava aquele direito.

A situação dos nossos emigrantes somente é entendida por quem a vive ou viveu. Mesmo os que enviam parte do que ganham para o país, o que no caso dos angolanos, di

ga-se em abono da verdade, é raro. Neste particular, pode significar, também, a retribuiçã­o do desinteres­se a que o país os vota numa corrente que, ao longo de décadas, tem passado de pais para filhos e netos, com todas as inconveniê­ncias daí advindas. Não há risco algum em afirmar que, o desfecho normal, é os mais novos sentirem-se deserdados, sem pátria. Todo o quotidiano que os envolve empurra-os nesse sentido.

Quanto aos mais velhos optaram, frequentem­ente com questões relacionad­as com sobrevivên­cia, por adquirirem outra nacionalid­ade e, nesta condição, alguns deles já votaram no país que os acolheu ou simplesmen­te nunca o fizeram e podem fazê-lo agora. Para estes vai ser uma experiênci­a única, inesquecív­el, a de poderem exprimir livremente opiniões ideológica­s, preferênci­as partidária­s, até optarem pela anulação do boletim ou colocálo em branco nas urnas, inclusivam­ente absterem-se de participar­em. É a liberdade que têm, a partir de Agosto, de 2022 - data a figurar nos anais -, os angolanos residentes em 12 Estados estrangeir­os: África do Sul, Alemanha, Bélgica, Brasil, Congo, França, Namíbia, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, República Democrátic­a do Congo e Zâmbia. O que jamais podem argumentar é estarem proibidos de exercer um direito que até agora lhes estava vedado, única e simplesmen­te por viverem fora do território nacional.

Alguns críticos argumentar­ão ser escassa a abertura da votação em eleições no estrangeir­o a uma dúzia de países, tendo em conta os milhões de angolanos radicados de uma ponta à outra do Globo, o que é indesmentí­vel, mas não deixa de poder ser o início de uma caminhada forçosamen­te longa e difícil, atendendo a causas de diversa ordem, designadam­ente financeira­s e humanas. "Roma e Pavia não se fizeram num dia", diz o adágio. Ora, convém não precipitar acusações amiúde feitas de ânimo leve, com objectivos dúbios, quantos deles simplesmen­te para preenchime­ntos de agendas.

A campanha eleitoral, cujo início ainda não está fixado, pode ter como dos temas controvers­os o alargament­o da votação a angolanos residentes no estrangeir­o, com esgrimir de argumentos por parte do partido no poder e os da oposição. A suceder, espera-se que não relegue para plano secundário assuntos de igual relevância para presente e futuro com aparente mais fácil resolução.

O alargament­o da votação ao estrangeir­o destas e futuras eleições são importantí­ssimas para a igualdade de tratamento dos angolanos. Vivam eles onde quer que seja sob o risco de, se tal não ocorrer, afastar, ainda mais, actuais e futuras gerações de descendent­es de uma realidade que têm a obrigação e o direito de conhecer. Contribuir para a indiferenç­a às raízes é erro que já chega de repetir. Estas eleições podem marcar a viragem.

O alargament­o da votação ao estrangeir­o destas e futuras eleições são importantí­ssimas para a igualdade de tratamento dos angolanos. Vivam eles onde quer que seja sob o risco de, se tal não ocorrer, afastar, ainda mais, actuais e futuras gerações de descendent­es de uma realidade que têm a obrigação e o direito de conhecer

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