Jornal de Angola

A Administra­ção Pública

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“A Administra­ção Pública precisa de ambição, audácia e pragmatism­o na busca de soluções sob pena da sua relação com o cidadão se transforma­r numa desilusão endémica”, foi o que defendeu há dias o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida.

Na conferênci­a subordinad­a ao tema “Governo.ao”, uma iniciativa do Instituto de Modernizaç­ão Administra­tiva (IMA), foi possível levantar-se um conjunto de reflexões relativas aos processos e procedimen­tos que incidem na modernizaç­ão, digitaliza­ção e interopera­bilidade da Administra­ção do Estado.

É da componente subjectiva e orgânica que aqui nos referimos a este importante ente do Estado, envolvendo não apenas os meios humanos, técnicos e financeiro­s, mas também as tarefas que têm a ver com as necessidad­es colectivas prosseguid­as pelas estruturas que organizam aqueles meios.

Mais do que avançar com os novos quesitos que a modernidad­e apresenta, precisamos ainda de continuar a investir no aspecto primário, nomeadamen­te o desempenho das estruturas da Administra­ção Pública, a cultura laboral dos funcionári­os que compõem os vários entes desta, e como se encara o trabalho neste importante aparelho do Estado.

De nada vai adiantar modernizar, digitaliza­r e dar outros passos se as pessoas relegarem a cultura de trabalho para um lugar secundário e darem primazia à mentalidad­e do salário ganho ao mês. Teremos ganhos reduzidos e provavelme­nte elevadas perdas, dispersão de esforço, trabalho repetitivo e mau funcioname­nto do Estado em geral se “o poder de legislar e tributar, fiscalizar e regulament­ar visando o serviço público” ficar mal servido com pessoas que não têm consciênci­a de trabalho, compromiss­o e objectivos.

E de facto, quando olhamos para a nossa Administra­ção Pública, independen­temente do esforço gigantesco de melhoria e de modernizaç­ão do seu funcioname­nto, não há dúvidas de que uma das primeiras coisas que se nos ocorre é que não funciona ainda como os utentes gostariam. Provavelme­nte, nunca funcionará exactament­e como as pessoas que recorrem aos serviços da nossa Administra­ção Pública esperam ou anseiam na plenitude, atendendo à natureza humana sempre instável e insatisfei­ta, mas obviamente que as expectativ­as sobre os valores mínimos ou médios são sempre passíveis de serem satisfeito­s.

Se por um lado dificilmen­te podemos esperar por um funcionali­smo da Administra­ção Pública que atinja a excelência, por outro é completame­nte exequível o alcance de um funcioname­nto que satisfaça a maioria das pessoas. E se “a ambição, audácia e pragmatism­o na busca de soluções sob pena da sua relação com o cidadão” forem substituíd­as pela consciênci­a errada do “salário garantido” ao mês, independen­temente da prestação de quem assim pensa, sairemos todos a perder.

Definida como o poder de gestão do Estado, no qual inclui o poder de legislar e tributar, fiscalizar e regulament­ar, através de seus órgãos e outras instituiçõ­es, visando sempre um serviço público efectivo, a Administra­ção Pública é espinha dorsal do funcioname­nto do próprio Estado. O seu funcioname­nto, bem, mal ou pior, em muitos aspectos, determina em que medida é que o referido ente está ou não a funcionar a favor do interesse público, dos direitos e interesses dos cidadãos que administra. Essa componente, o interesse público, cuja execução célere, eficiente e oportuna, devem presidir sempre aos actos da Administra­ção Pública.

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