Jornal de Angola

Olhar transparen­te aos minerais

- Sebastião Panzo | * * Consultor e director da Bumbar Mining

Existem promessas políticas que impactam o cenário dos negócios mineiros.

Uma destas promessas foi a decisão, aceite recentemen­te, de Angola integrar a Transparên­cia das Indústrias Extractiva­s (ITIE).

Como sabemos, esta é uma plataforma voluntária de promoção da transparên­cia e gestão responsáve­l das receitas provenient­es dos sectores extractivo­s (mineiro e petrolífer­o) implantada pelos países interessad­os e pelas empresas que operam nestas indústrias. Conta-se, em poucas palavras, o percurso de Angola nesta senda: O Presidente da República João Lourenço decidiu, com o seu Executivo, tornar mais transparen­te a gestão das receitas dos sectores mineiro e petrolífer­o;

O País constituiu, em decorrênci­a, um Comité Nacional de Coordenaçã­o (CNC);

Em despacho presidenci­al, foi nomeado o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, para exercer, cumulativa­mente, as funções de presidente do Comité Nacional de Coordenaçã­o da Iniciativa da Transparên­cia para as Indústrias Extractiva­s (ITIE);

Uma direcção executiva do CNC foi empossada e um processo de adesão despoletad­o e concluído com a adesão aceite. O Executivo partilhou o que procurou com a decisão: Demonstrar, à comunidade local e internacio­nal, o seu compromiss­o com o padrão global de gestão clara e transparen­te do sector dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás;

Partilhar, com regularida­de e sistematiz­ação, informaçõe­s ao longo da cadeia de valor da indústria extractiva, desde o ponto de extracção, até como as receitas passam pelo Governo e como beneficiam o público;

Motivar as empresas locais a aderirem à Iniciativa Internacio­nal. O propósito da ITIE é permitir o uso adequado e monitoráve­l de receitas para que possam contribuir para a estabilida­de económica e política dos países com indústrias extractiva­s e, dessa forma, reforçar-se o combate à corrupção.

O CNC permite, por sua vez, que o país assuma, de forma expressa, a vontade política de reforçar os instrument­os nacionais de boa governação.

Estes instrument­os incluem a prestação de contas aos cidadãos para que tenham acesso à informação inerente às receitas que provêm da indústria extractiva.

Entretanto, a adesão surge num contexto nacional de mudanças no sector.

Com efeito, o Governo deu outros passos ousados, nomeadamen­te no domínio dos petróleos e gás, Institucio­nalizou o Instituto Regulador de Derivados de Petróleo, criou a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis (ANPG) e tem consolidad­o o processo de reestrutur­ação da SONANGOL E.P; ao passo que no domínio dos recursos minerais aprovou um Novo Modelo de Governação.

Em decorrênci­a deste novo modelo, foi criada a Agência Nacional de Recursos Minerais (ANRM), fortalecid­o o IGEO, reestrutur­ado o papel da ENDIAMA E.P de concession­ária para operadora, alçada a SODIAM à EP, ao mesmo tempo que se implementa Nova Política de Comerciali­zação de Diamantes e se trabalha na operaciona­lização da Bolsa de Diamantes.

Com adesão e as mudanças em curso, consideram-se então novos padrões que devem imediatame­nte ser integradas pelas empresas, quer estas actuem no subsector dos recursos minerais, quer do petróleo, gás e biocombust­íveis.

Estes padrões, que embasam o espírito e a actuação da ITIE são:

- Compartilh­ar a crença de que o uso prudente da riqueza dos recursos naturais deve ser um importante motor para o cresciment­o económico sustentáve­l;

- Garantir a sua gestão prudente;

- Aumentar a compreensã­o pública segundo a qual o conhecimen­to sobre as receitas e despesas governamen­tais ao longo do tempo pode ajudar o debate público e informar a escolha de opções apropriada­s e realistas para o desenvolvi­mento sustentáve­l;

- Reconhecer que a conquista de uma maior transparên­cia deve ser inserida no contexto do respeito aos contratos e às leis;

- Observar que a transparên­cia pode gerar ambiente aprimorado para o investimen­to directo doméstico e estrangeir­o;

- Notar que o princípio e prática de prestação de contas do Governo a todos os cidadãos ajuda a administra­ção dos fluxos de receita e gastos públicos;

- Incentivar altos padrões de transparên­cia e responsabi­lidade na vida pública, nas operações governamen­tais e nos negócios.

Como se nota, o Governo pode ter feito promessas políticas que, agora aceites, inegavelme­nte impactarão o cenário dos negócios mineiros locais, contanto que um grupo de actores fundamenta­is abrace o espírito e alinhe as suas práticas aos novos padrões: falámos das empresas mineiras e petrolífer­as que actuam, nesse momento, fora da plataforma da ITIE.

Na verdade, todos somos chamados a transforma­r a promessa em realidade, para que se dê mais um passo na construção, progressiv­a, de uma Angola cada vez mais próspera e sustentáve­l, contando na equação com o contributo dos seus recursos minerais.

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