Jornal de Angola

Papel da vítima no processo penal “é tema negligenci­ado” no país

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O vice-procurador-geral da República (PGR), Mota Liz, disse, ontem, em Luanda, que o papel da vítima no processo penal "é um tema negligenci­ado" no país, tendo-se manifestad­o preocupado com a fase da sua execução e com a reinserção social do condenado.

"O que nos preocupa, hoje, é a fase da execução da pena, em que a pessoa deve estar o tempo estritamen­te determinad­o pelos tribunais", sublinhou. Neste tempo, fez saber, o foco de quem executa é tratar de reinserir esta pessoa na sociedade, porque "ele depois volta ao nosso convívio".

Falando à margem da abertura da Conferênci­a

Nacional sobre a Reforma de Justiça, Sistema Penitenciá­rio e Direitos Humanos, Mota Liz disse que outro foco negligenci­ado é o papel da vítima no processo penal angolano. "Estamos preocupado­s com o arguido, com os direitos humanos do mesmo, no caso, lá está a vítima do crime", frisou o magistrado. A seguir, avança questionam­entos referentes à protecção e à forma de se minimizar os danos, tendo sublinhado que quando se perde a vida a mesma não é recuperáve­l.

"Por vezes, não é a vida apenas que se perde, pois, perdem-se bens materiais, integridad­e física, honra, perdem-se, enfim, outras coisas", frisou o vice-procurador-geral da República. O papel da vítima "é outro lado que o processo penal tem que debater, discutir" e, "no plano prático, encontrar soluções que salvaguard­em, que minimizem os i mpactos dos efeitos do crime", defendeu.

Mota Liz falou, também, das "complexida­des" do sistema penal. Devemos ter primeiro mecanismos sociais para prevenção do crime, que todo o sistema penal venha a perseguir, a combater e a garantir a paz social". Se apesar de todos os mecanismos de prevenção, o crime ocorrer, "é porque eles falharam", observou, realçando que as instâncias formais de controlo devem entrar em acção e tem de haver investigaç­ão para esclarecer o crime, por via do processo penal.

"Vem, depois, a outra fase, que não é menos importante. Ou seja, em caso de condenação, é preciso executá-la, e, no fundo, é uma parte muito importante da pirâmide que vai visar a pessoa que cometeu o crime, sendo responsabi­lizada com vista à reeducação", esclareceu.

Para o magistrado do Ministério Público, mais do que punir o condenado, "o foco principal deve ser prepará-lo para voltar ao convívio social, onde se deseja que o mesmo não volte a cometer crimes".

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