A conversão monetária
Os países africanos sairiam muito a ganhar se, de forma bilateral, eventualmente até multilateral, promovessem e priorizassem o uso das respectivas moedas nas transacções entre si para o bem das trocas de bens e serviços, bem como da cooperação económica. Há experiências interessantes e encorajadoras que vale a pena delas retirar as melhores lições, havendo mesmo entre alguns países ensaios passados que, em determinadas situações, prevaleceram e, noutras, “morreram” pelo caminho. É mais ou menos isso que aconteceu entre Angola e a Namíbia, quando no passado recente tentou-se colocar as respectivas moedas ao serviço das trocas comerciais, sem continuidade alguns anos depois.
É verdade que, algumas vezes, os países se sentem “tentados” a embarcar num proteccionismo que, contrariamente à esperada protecção, apenas acaba por isolar o país e encarecer os resultados que adviriam de uma cooperação mais próxima, como por exemplo através de acordo de conversão monetária.
Hoje, acreditamos nós, num contexto diferente, de renovadas oportunidades, de possibilidades gigantescas de crescimento do comércio bilateral e de elevar o bemestar das populações, os embaraços experimentados com o câmbio diário entre as duas moedas poderão ter os dias contados.
Como boas novas para as populações angolanas e namibianas, é bom saber que, a convite do governador do Banco Central da Namíbia, o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José Massano, trabalha naquele país para negociações de modo que o kwanza e o dólar namibiano sejam as moedas de prioridade nas transacções comerciais.
A perspectiva de Angola e Namíbia voltarem a “ver facilitado o pagamento das transacções em kwanza e em dólar namibiano, por via do acordo de conversão monetária existente entre os dois países”, tal como a experiência passada não muito bem sucedida, constitui um avanço significativo.
Segundo informações relacionadas com a visita da delegação angolana, os “aspectos técnicos estão a ser afinados para que estas transacções ocorram por meio de um sistema financeiro de confiança, seguro, transparente e que permita aos angolanos e namibianos valorizarem cada vez mais as suas moedas no mercado”.
Trata-se de um desafio que os dois lados deverão enfrentar, com garantias das autoridades dos dois países, numa altura em que importa que os dois bancos centrais aumentem o nível de colaboração do controlo cambial, sempre na perspectiva de uma liberalização que permita a livre circulação de capital entre os dois países.
Para trás ficarão os entraves, no campo monetário, cujas perdas se agravavam para um dos lados. E ainda bem que Angola e Namíbia pretendem recuperar o tempo perdido, com esta importante iniciativa que, como dissemos, goza do apoio inequívoco dos Governos dos dois países.
É verdade que tecnicamente não vai ser fácil, poderá não envolver rigorosamente e a 100 por cento um “win-win” para ambas as partes, sendo o mais importante a criação para os processos de compensações mútuas.
Para frente é o caminho e, mais do que os receios e eventuais hesitações, o fundamental é que se caminhe nesta importante direcção, com os mecanismos afinados para as oportunas correcções das esperadas distorções que vão aparecer à medida que se for implementando o acordo de conversão monetária.