Jornal de Angola

Uíge celebra 105 anos com muitos desafios pela frente

Antiga vila de Carmona, elavada à categoria de cidade, a 1 de Julho de 1917, registou inúmeros avanços socioeconó­micos, mas muitos sectores ainda precisam de grandes intervençõ­es para atingir o desenvolvi­mento desejado

- António Capitão e Silvino Fortunato| Uíge

Uíge celebrou, ontem, 105 anos desde que a antiga vila Marechal Carmona foi elevada à categoria de cidade, em 1917. Ao longo deste período, foram registados avanços e recuos no quotidiano dos munícipes das terras do soba Mbemba Ngangu e do rei Mekatete, figuras incontorná­veis na luta contra a ocupação colonial e pela subjugação dos nativos desta região.

A pequena vila do Uíge começou a ser erguida no cume de uma elevação da antiga Katalamban­za, local onde está situada a Administra­ção Municipal, na rua 1º de Agosto,pelo colono português Américo Ribeiro, na companhia de um grupo de militares e civis comerciant­es, com destaque para o tenente do exército colonial J úl i otomás Berberam, Manuel José Pereira, Manuel Rodrigues, Manuel Silva, Tristão Mendes Caldo, António Figueiredo, entre outros.

Em 1955, a vila do Uíge passou a ser designada por “Carmona”, em tributo ao então Presidente de Portugal, Óscar Carmona. Com a proclamaçã­o da Independên­cia Nacional, a 11 de Novembro de 1975, o Governo angolano decidiu retomar o nome ori

ginal, embora aportugues­ado, inspirado do rio Wizi, o primeiro que a comitiva de Américo Ribeiro atravessou para escalar a Serra de Kanda, também conhecida como Serra do Uíge, junto à aldeia Kassexi.

Depois de instalado o Posto Militar e Administra­tivo, em Katalambaz­a, vários comerciant­es do regime colonial português que estavam instalados em Ambriz, na província do Bengo, decidem chegar ao Uíge, para fazer negócio.

Esses começaram a edificar fábricas, edifícios e a explorar fazendas. Com o eclodir da guerra dos 14 anos de guerra contra o colonialis­mo e o conflito armado de 1975 a 2002, várias infraestru­turas ficaram destruídas e saqueadas.

Dos recursos do tempo, podem ser destacadas a inativação de grandes produtoras de café, como são os casos das fazendas Rimaga de Ricardo Manuel Gaspar, Congo Agrícola, Flor do Congo, Ana Maria, Trás os Montes, Paco e Benze, Kondo Benze e outras.

A actividade industrial, também, entrou em decadência, com a fragilizaç­ão na produção de muitas indústrias fabris dos ramos de bebidas, mobiliário­s, calçados, colchões, torrefaçõe­s, descasques e outras.

A cidade cresceu em dois sentidos, o suburbano e o urbano. Na primeira vertente,

cresceu de forma desordenad­a e deu lugar aos bairros Kixikongo, Papelão, Kakiúia,

Kapote, Kilala, Kindenuku, Kandombe, Pedreira, Bungo, GAI, Ana Kandande, Kandombe Novo, Katapa, Kakole, Kabonda, Gigi, Cemitério, 14, Piscina e Orlando Fonseca.

Muitos desses bairros expandiram-se e fizeram com que a cidade se juntasse às aldeias Tange, Kindenuku, Kimakungu, Tomessa, Kandande Loé, Kituma, Kigima, Mbanza Polo e Kimakila.

Na zona urbanizada, com a implementa­ção de planos urbanístic­os e directores, sur

giram áreas habitacion­ais, com destaque para a Urbanizaçã­o do Kilumosso, Bairro da Juventude no Katapa, Projecto Ana Paula (no bairro Papelão), assim como foram asfaltadas várias ruas da periferia, expandidos os sistemas de fornecimen­to e abastecime­nto de água e energia eléctrica.

A administra­dora municipal do Uíge, Sónia Arlete, é humilde em reconhecer que, em algumas vertentes, a cidade capital da província regrediu,mas, ao mesmo tempo, afirma que muita coisa melhorou significat­ivamente.

Ainda assim, a gestora do maior conglomera­do populacion­al da província do Uíge reconhece que ainda existem muitos desafios pela frente para a melhoria das condições de vida dos habitantes deste município.

Preocupant­e saneamento básico

Sónia Arlete disse que o saneamento básico na cidade do Uíge é uma das principais preocupaçõ­es da Administra­ção Municipal. Com o envelhecim­ento da urbe, alguns equipament­os se deterioram, como sarjetas, redes de esgotos, valas de drenagem, canais de evacuação de residência e edif í cios, o que provoca o aparecimen­to de águas residuais e pluviais nas estradas.

A administra­dora sublinhou que o comportame­nto inapropria­do dos munícipes na deposição do lixo, a exiguidade de equipament­os e pessoal para o processo de recolha e depósito dos resíduos nos aterros sanitário são os principais factores que estão na base dos amontoados em várias artérias da cidade, sobretudo na periferia.

“Ainda temos muito trabalho pela frente quanto a este assunto. Precisamos de mudar a imagem da cidade, com a pintura constante dos edifícios públicos e residência­s de particular­es, para se dar outra caracterís­tica aos cenários da urbe”, disse.

A admnistrad­ora referiu que há necessidad­e de se desassorea­r os canais de evacuação de águas pluviais e recuperar a rede de esgotos. “Devemos reconhecer que o problema do saneamento básico é preocupant­e, mas a falta de meios e equipament­os para esta actividade faz com que se registe este cenário”, disse.

Melhorar a circulação na periferia

Sónia Arlete avançou que um out ro desafio que t em, enquanto estiver na gestão da Administra­ção Municipal do Uíge, é trabalhar para a melhoria da circulação rodoviária nos bairros da periferia da cidade.

A administra­dora avançou que este trabalho vai permitir a criaçaõ de elos de acesso à parte urbana da cidade, com vista a banir as reclamaçõe­s dos moradores sobre a escassez de serviços de táxi e a dos taxistas sobre as más condições das estradas.

Deste projecto, estão em curso a terraplana­gem de 40 quilómetro­s de estradas dos princípais bairros que circundam a cidade do Uíge, com destaque para o Kilala, Kandombe, Kandombe Novo, Tange, Papelão e Kakiúia.

Além desse trabalho, outros 20 quilómetro­s de estrada já foram terraplana­dos, o que está a facilitar a mobilidade. Está, igualmente, a ser reabilitad­o os seis quilómetro­s de acesso à aldeia Kibianga.

“Está em execução um processo de tapa-buracos nas ruas da cidade. Muitas tinham sido escavadas para projectos de água e telecomuni­cações, mas estamos a aproveitar o tempo seco para desenvolve­r essas operações”, salientou.

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MAVITIDI MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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