Mais industrializada do Norte
Era a mais industrializada cidade do Norte de Angola, na era colonial. A Bangola do Norte e a CIFAL eram as grandes referências do parque i ndustrial da antiga cidade de Carmona.
Na Bangola do Norte, situada junto ao rio Kandombe, que dá o nome a um dos mais antigos e populosos bairros do Uíge, eram produzidos os diferentes sabores da marca “DUSOL”, segundo a obra “Distrito do Uíge - Elementos de Informação”, de Garcia de Lencastre e Ernestro Fontoura, que enfatizava a cafeínada que era a preferência de todos.
O parque industrial da cidade do Uíge há muito tempo que anda adormecido, constata-se. As principais unidades fabris e outras do sector, constituídas e erguidas no período colonial e no pósIndependência Nacional, foram totalmente pilhadas e destruídas, durante o conflito armado dos anos 90.
Na CIFAL, localizada na rua industrial, era fabricado o vinho “Estrela”, que, devido a muitos “tombos” pelos consumidores, ficou apelidado de “Mamã me leva”. Mbuku Pedro, hoje a residir no bairro São Paulo, município do Sambizanga, província de Luanda, recorda com nostalgia estas duas marcas.
“Enquanto menino, minha gasosa preferida era a DUSOL de café. Depois da adolescência, já a entrar para a fase juvenil, começamos a fazer o uso do f amoso vinho Estrela. Eram duas marcas de bebidas que, além de serem de fabrico local, também eram comercializadas e apreciadas em outras paragem do país”, disse.
Outras duas unidades fabris, que eram, igualmente, referências, são as de colchões e calçados plásticos. Nas famílias mais pobres, principalmente, os meninos encontravam nos “chupacocó” os calçados predilectos para suportar as andanças para a escola.
Havia, ainda, outras infraestruturas industriais na cidade do Uíge, como a gráfica que ficava localizada na rua do Ultramar, onde eram editados os jornais “Mukanda”, “Ecos do Uíge”, “Jornal do Congo” e outras publicações.
O Jornaldeangola apurou que, até 1970, existia, no Uíge, um total de 412 unidades f a br i s , q u e garant i a m emprego para 1.970 operários, entre colonos e nativos.
Como refere o livro “Distrito do Uíge”, editado em 1972, este parque industrial era constituído por indústrias orientadas, principalmente, para o descasque do café, produção de óleo de palma e processamento de outros produtos agrícolas, mais algumas empresas de materiais de construção como serrações e cerâmicas.
O livro enumera ainda como destaque as fábricas de gasosas ( Bangola do Norte), de sumo de frutas e
enchimento de vinho (Companhia Industrial de Frutas de Angola) e de calçados e uma empresa de vulcanização de pneus (Vulcap), além da metalo-mecânica, gráfica, cerâmica e serração.
Os autores do livro referem-se, igualmente, à fábrica de mobiliário (FAMOE) e a algumas unidades de panificação, com destaque para a Padaria Malanje, que constituíam as bases fundamentais da capacidade económica da região, e encontrava nas indústrias de construção, alimentação, bebidas e tabaco os seus principais componentes.
Até 1970, no antigo Distrito do Uíge existiam 106 fábricas de descasques de café, 34 panificadoras, 21 serrações de madeira, 20 marchantarias, sete cerâmicas, cinco moagens de milho e bombó, três torrefacções e moagens de café, duas pastelarias e confeitaria, uma serralharia mecânica, igual número de indústrias de extracção de óleo de amendoim, de persianas, de gelo, descasque de arroz, carpintaria mecânica, de calçados e de sumos fermentados.
O parque industrial era, ainda, composto por 14 câmaras frigoríficas, 152 bombas ou postos de abastecimento de combustíveis, dez estações de serviços, igual número de oficinas de reparação de automóveis, uma recauchutagem de pneus e lavandaria, sete estúdios de fotografias, duas tipografias e encadernações, assim como barbearias, alfaiatarias, oficina de sapataria e um atelier de inspecção de vestuário.
“Tínhamos quase tudo aqui, mas a luta para a Independência Nacional fez com que os proprietários e mãode-obra especializada abandonassem o país. O conflito armado interno, sobretudo, o que se desencadeou, em 1992, depois das primeiras eleições presidenciais e legislativas, provocou a destruição de todo o parque
industrial”, lembra Filomena António, 63 anos.
Nos dias de hoje, a cidade do Uíge tem apenas quatro postos de abastecimento de combustíveis, menos de duas dezenas de panificadoras, cinco gráficas de timbragem e impressão de objectos variados, algumas carpintarias, serrações e serralharias de pequeno porte e uns poucos empreendedores ligados ao sector industrial.
“O parque industrial, na cidade do Uíge, está praticamente moribundo”, declarou a anciã, visivelmente triste.
Lugares de lazer
Além do cinema, que se encontra, actualmente, inoperante, a cidade do Uíge oferecia outros locais de lazer como o Bar Jardim, no centro do bairro Mbema Ngangu. O local possuía um parque infantil, restaurantes e um vasto jardim que, aos domingos de manhã,às vezes, acolhia piqueniques religiosos.
Durante a guerra, as árvores foram derrubadas para a fabricação de carvão, o jardim transformou-se num capinzal e os restaurantes deram lugar a mini mercados.
Na esquina Sul da cidade, fora construído, em 1967, a piscina-parque do Uíge. Era aqui,onde muitos acorriam para aproveitar o ar pitoresco do local, que era amparado por abundante eucaliptos.
Tinha a piscina dois tanq ues d e natação e um
pequeno jardim zoológico, onde as crianças poderiam ver alguns animais selvagens, como jacaré, jiboia, gazelas, gorilas e aves de grande porte.
Aos domingos, o local arrastava muitos jovens e crianças, que iam desfrutar dos atractivos culturais e desportivos que os gestores da unidade organizavam, entre os quais, espectáculos músicais, corridas de saco, concursos de canto e dança, lançamento de dardo e discos, demonstração de artes marcias, entre outros.
Em volta da piscina, havia um pequeno matagal de eucaliptos, que diminuía a força dos ventos, segurava os solos e dava frescura no local. Essas árvores foram derrubadas e, hoje, verifica-se o deslocamento dos solos para o interior da piscina e por cima do asfalto, o que, em dias de chuva, torna a zona intransitável.
Os citadinos querem ver agora estes locais recuperados e devolvidos à sua função social,tendo em conta o crescimento demográfico que a cidade conheceu nos últimos anos.
Luzola Pedro defende que a restauração de lugares como estes deveria constar, também, entre as prioridades do Governo, tal como acontece com a construção de escolas, hospitais, centros e postos de saúde. “As cidades precisam de oferecer, saúde, educação, segurança e lazer”, realçou o munícipe.