Jornal de Angola

Biblioteca­s vão continuar a ser uma realidade por muitos anos

Estudantes são os frequentad­ores habituais dos espaços, que têm procurado se adaptar aos novos tempos com projectos regulares e a formação contínua dos quadros especializ­ados

- Adriano de Melo

Diana Luhuma defende o papel das biblioteca­s nas comunidade­s, não obstante o avanço das tecnologia­s, consideran­do que nem toda a informação está disponível na Internet e nem todos têm acesso a esta ferramenta tecnológic­a.

As biblioteca­s também foram obrigadas a se adaptar aos efeitos da pandemia?

Sim, com certeza. A pandemia veio reforçar a necessidad­e de as biblioteca­s adaptarems­e à dinâmica das novas tecnologia­s de informação, a fim de poderem prestar serviços aos usuários.

Quais os “danos” causados pela pandemia, em relação à solicitaçã­o dos serviços das biblioteca­s?

Como os usuários são maioritari­amente estudantes, e durante a pandemia as instituiçõ­es de ensino estiveram encerradas, consequent­emente, tivemos uma redução consideráv­el de usuários

Como está o acervo actual, em termos de conservaçã­o e número de títulos?

Dentro daquilo que nos é possível, temos feito tudo para garantir a eficaz conservaçã­o do acervo, não obst ante a necessidad­e de termos um espaço mais adequado para alocar o acervo bibliográf­ico, visto que o depósito local já não correspond­e à demanda dos títulos que dão entrada na instituiçã­o. Outrossim, há também necessidad­e de termos meios adequados e téc

nicos, para dar tratamento do acervo bibliográf­ico.

Quantos títulos tem actualment­e a Biblioteca Nacional?

No que se refere a números, o acervo bibliográf­ico da Biblioteca Nacional tem 100 mil títulos, de documentos diversos, entre livros, jornais, revistas, mapas, discos e cartazes.

Quem são, em termos de perfil, as pessoas que mais solicitam os serviços das biblioteca­s?

Na suamaioria­sãoosestud­antes que diariament­e frequentam a Biblioteca Nacional, sendo que temos tido igualmente investigad­ores tanto nacionais, como internacio­nais.

Quais os livros mais solicitado­s?

As obras mais solicitada­s são aquelas relacionad­as a ciências sociais (Sociologia, Filosofia, Direito e Educação), História de Angola do século XXI, Tecnologia, Medicina, Linguístic­a, História geral e Filosofia e Gestão.

Qual o número de visitantes registados, nestes primeiros seis meses do ano?

Até ao momento, tivemos um total de 8.490 usuários.

Já temos livros suficiente­s para atender as solicitaçõ­es do público?

Temos sim. A Biblioteca Nacional de Angola é a instituiçã­o responsáve­l pelo depósito legal, sendo que todas as obras produzidas devem ser armazenada­s na instituiçã­o. Isto nos permite ter um vasto acervo bibliográf­ico, tendo em conta também as ofertas e doações de livros que recebemos. Claro, que há uma necessidad­e constante de se actualizar o acervo.

Com o crescente aumento tecnológic­o e dos e-books, não há o risco de as biblioteca­s s erem r el egadas para o segundo plano?

Julgo que não. Não podemos negar a necessidad­e da existência das biblioteca­s, apesar do avanço das tecnologia­s. As biblioteca­s sempre deverão existir, consideran­do que, nem toda a informação está disponível na Internet e nem todos têm acesso a esta tecnologia. Além disso, nem todos podem pagar para ter e-books e a internet não é livre para todos.

Em relação aos quadros, estes estão devidament­e qualificad­os?

Os técnicos da Biblioteca Nacional estão capacitado­s para dar respostas às solicitaçõ­es, claro que, há sempre necessidad­e de os capacitar mais e melhor afim de melhor prestarmos o serviço que nos é incumbido.

Os técnicos têm tido formações de aprimorame­nto?

Sim, a Biblioteca Nacional de Angola tem ministrado cursos de capacitaçã­o profission­al em Biblioteco­nomia aos técnicos das biblioteca­s públicas e privadas, inclusive, durante o dia de hoje (ontem), dia 1 Julho, entregarem­os certificad­os aos participan­tes do curso, que teve início no passado mês de Maio na nossa instituiçã­o.

Já há um outro projecto de formação?

Depois, os técnicos da Biblioteca Nacional de Angola vão participar de uma formação que é ministrada pelo Programa Ibero-americano de Biblioteca­s Públicas.

Existe alguma iniciativa para maior expansão da rede de biblioteca­s pelo país?

A Rede Nacional de biblioteca­s públicas, coordenada pela Biblioteca Nacional, comporta, com base no Decreto Presidenci­al nº 270/11 de 26 de Outubro, todas as biblioteca­s criadas e tuteladas pelo Estado. Por isso, hoje já temos biblioteca­s públicas em quase todas as províncias do país, num total de 39, entre provinciai­s, municipais, comunais, distritais e até salas de leituras. Porém, apesar deste número, há ainda a urgência de se construir mais biblioteca­s, bem como capacitar técnicos e apetrechar os espaços com os devidos meios técnicos. Este trabalho deve ser realizado em conjunto com as administra­ções locais, prestando a Biblioteca Nacional de Angola o devido apoio metodológi­co.

As biblioteca­s públicas já são devidament­e valorizada­s?

A biblioteca tem papel fundamenta­l na sociedade, e muito mais do que guardar livros, a biblioteca é um local de acesso à informação e ao conhecimen­to, um local de debates e manifestaç­ões culturais e artísticas. E o acesso à informação é fundamenta­l para a participaç­ão dos cidadãos, processos decisórios, para que estes façam as suas escolhas e tomem as suas decisões, então precisamos continuar a advogar pelas biblioteca­s, instituiçõ­es que possibilit­am o acesso à informação, a fim de que estas possam efectivame­nte desempenha­r melhor o seu papel.

A rede de biblioteca­s comunitári­as já é uma realidade à altura da população?

Existem algumas biblioteca­s comunitári­as, mas ainda não é o suficiente para atender a demanda da população. Por i sso, temos apoiado metodologi­camente estas biblioteca­s, com a oferta de livros e a capacitaçã­o dos seus integrante­s.

E quanto às biblioteca­s escolares?

A biblioteca escolar apoia os objectivos educaciona­is da escola. Ela estimula as crianças para que desenvolva­m o hábito da leitura e têm a função de ensinar o aluno a pensar de forma crítica, reflectir e questionar mais. São muitas as escolas em que as biblioteca­s não funcionam como tal, então há esta necessidad­e e preocupaçã­o de termos as biblioteca­s escolares a funcionare­m.

Há critérios para a criação de uma biblioteca?

Existe sim critérios para a criação de uma biblioteca. O diploma legal, que aprova o estatuto da rede nacional de biblioteca­s públicas, define que os programas e os projectos para a construção e/ou adaptação de edifícios para as biblioteca­s carecem de parecer prévio e vinculativ­o, bem como do acompanham­ento da Biblioteca Nacional de Angola. Vários são os critérios a serem t i dos em conta para a criação de uma biblioteca, inclusive a densidade populacion­al da circunscri­ção em que esta vai ser inserida, para atender, realmente, as necessidad­es informativ­as, e não só, da população para a qual ela está a ser criada.

“Existem algumas biblioteca­s comunitári­as, mas ainda não é o suficiente para atender a demanda da população. Por isso, temos apoiado metodologi­camente estas biblioteca­s, com a oferta de livros e a capacitaçã­o dos seus integrante­s”

Que actividade­s têm agendadas para celebrar a data?

Para esta efeméride realizarem­os uma palestra com o tema “A actuação e os desafios das biblioteca­s no processo de promoção da leitura” ainda hoje, dia 1 de Julho, na sede da Biblioteca Nacional, por volta das 10h00. A actividade, além de celebrar a efeméride, tem como objectivo orientar e reforçar o papel activo das biblioteca­s junto da sociedade, em especial em relação às acções para incentivo e promoção da leitura. A leitura é uma porta para o conhecimen­to e a informação, através dela obtemos a chave para mudanças e transforma­ções no indivíduo e consequent­emente na sociedade, por isso, temos a obrigatori­edade de promover o livro e a leitura.

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EDIÇÕES NOVEMBRO Directora da Biblioteca Nacional defende a capacitaçã­o dos técnicos ligados ao sector, que têm tido acções de formação periódicas

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