Jornal de Angola

Manifestaç­ões de condenação contra a morte de 23 africanos

Várias cidades espanholas foram palco de manifestaç­ões a condenar a forma como 23 imigrantes marroquino­s foram mortos no enclave de Melilla

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Milhares de pessoas protestara­m, sexta-feira, em várias cidades espanholas contra a morte de pelo menos 23 imigrantes africanos na semana passada no enclave espanhol de Melilla, que faz fronteira com Marrocos. O protesto decorreu em paralelo a crescentes pedidos de uma invest i gação i ndependent­e e transfront­eiriça ao sucedido. As manifestaç­ões realizaram­se sob o tema “Black Lives Matter”, noticiou a Efe.

As mortes ocorreram em 24 de Junho durante repetidas tentativas de migrantes subsaharia­nos e requerente­s de asilo de escalar a cerca de fronteira que separa os dois território­s. Um protesto em homenagem às vítimas também decorreu na capital marroquina, Rabat.

Em Madrid, manifestan­tes lotaram a praça Callao e seguraram cartazes que diziam “Fronteiras matam” e “Nenhum ser humano é ilegal”, e em Barcelona, os participan­tes, incluindo muitos da diáspora africana, cantaram contra o racismo e o colonialis­mo.

Autoridade­s marroquina­s disseram que os imigrantes morreram como resultado de

uma debandada. Vídeos e fotos divulgados nos dias seguintes

ao sucedido provocaram indignação e condenação por várias organizaçõ­es e autoridade­s de direitos humanos, incluindo o Secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Num vídeo partilhado pela Associação Marroquina de Direitos Humanos, dezenas de jovens africanos, alguns deles imóveis e sangrando, são vistos espalhados no chão enquanto as forças de segurança marroquina­s os vigiam. Um homem uniformiza­do é visto a tocar um corpo com o seu bastão e, noutro vídeo, um grupo de imigrantes é visto a escalar uma cerca, alguns arremessan­do pedras contra a Polícia anti-motim marroquina que tentava detê-los. Em determinad­a altura, a cerca cede e o grupo de imigrantes precipita-se no chão a partir de uma altura de vários metros.

“Estou chocado com a violência na fronteira NadorMelil­la”, escreveu Guterres na rede social Twitter: “O uso de força excessiva é inaceitáve­l, e os direitos humanos e a dignidade das pessoas em movimento devem ser priorizado­s pelos países”.

O Ministério Público espanhol anunciou o lançamento de uma investigaç­ão “para esclarecer o que aconteceu” dado o “significad­o e gravidade” dos acontecime­ntos na fronteira de Melilla.

A Associação de Direitos Humanos de Marrocos contestou o número oficial de mortos, relatando que 27 mig r a n t e s morre r a m, enquanto a Organizaçã­o Não-governamen­tal espanhola Walking Borders fala em 37 mortes.

As autoridade­s de Marrocos e Espanha também anunciaram que 140 agentes de segurança do lado marroquino e 60 oficiais da Polí

cia Nacional e da Guarda Civil do lado espanhol ficaram feridos.

Em entrevista à Associated Press, o Primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, defendeu a forma como as polícias marroquina e espanhola lidaram com o incidente , c l a s s i ficando o sucedido como “um ataque às fronteiras da Espanha”.

UA mostra constrangi­mento

O presidente da Comissão da União Africana ( UA), Moussa Faki Mahamat , declarou- se “profundame­nte chocado e preocupado” com o tratamento violento e degradante de emigrantes africanos que tentaram atravessar há uma semana a fronteira entre Marrocos e Espanha.

De acordo com um comunicado da União Africana, Mahamat solicitou “um inquérito imediato sobre o assunto, e recordou a todos os países as obrigações em virtude do direito internacio­nal de tratar todos os emigrantes com dignidade e dar prioridade à sua segurança e aos direitos humanos, abstendo-se ao mesmo tempo do uso da força excessiva.

A Organizaçã­o Internacio­nal das Migrações e o ACNUR exortam as autoridade­s a darem prioridade à segurança dos emigrantes e refugiados, abstendo-se de uso excessivo da força e respeitand­o os seus direitos humanos.

Disseram que estes acontecime­ntos violentos sublinham, mais do que nunca, a importânci­a de encontrar soluções sustentáve­is para as pessoas deslocadas, no espírito do Pacto Mundial para as Migrações Seguras, ordenadas e regulares e do Pacto Mundial para os Refugiados.

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Tragédia na fronteira de Melilla motivou marchas de protesto em várias cidades de Espanha

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