O poder da diligência
Quando olha ao redor, cercado pela natureza, velho Ngua, o guru angolano, admira a destreza de Deus e o facto Dele não ter caído num dos mais vis abismos do ser humano, criatura magistralmente por Si criada: o desejo de gratificação instantânea.
Assim o é, ao sentir a brisa que visita seu rosto, abraça seu corpo e lhe revela a Fenda da Tundavala, este enorme abismo de cerca de 1200 metros situado na Serra da Leba, a 18 km da bela cidade do Lubango.
Até onde os seus olhos podem abarcar, penhascos da Tundavala elevam o Planalto Central de Angola entre as maravilhas do Criador.
– “Todos temos uma inclinação natural a seguir o camin h o q u e o f e r e c e menos resistência”, pensa. – “Devemos ser diligentes, a exemplo do Criador”, reflecte.
Aqui, na Tundavala, o planalto excede 2200 metros de altitude e cai abruptamente para cerca de 1000 metros, provocando um desnível deslumbrante com fendas colossais na montanha.
Daqui, Velho Ngua desfruta de uma paisagem magnífica
que se estende por dezenas de quilómetros.
– “Deus foi extraordinariamente diligente” -, cogita.
A diligência é um esforço persistente que envolve trabalho inteligente. É o esforço de investir os seus dias, horas, minutos em algo que recompensará com um produto puro o tempo e o esforço investidos. É preciso fazê-lo de forma correcta, honesta – com prontidão, competência e eficácia.
As recompensas de se tornar diligente são extraordinárias: garante aos diligentes vantagens em relação aos que o não são, satisfação genuína, respeito e admiração, satisfação de necessidades, sucesso e esforço lucrativo.
– “As maiores motivações da nossa vida são o desejo de ganhar e o medo de perder”, assombra-se com a verdade Velho Ngua, à majestade imponente da Tundavala, e começa a anotar compulsivamente as ideias no seu caderno de viagens, assim o será, como o veremos em outros encontros, por outras regiões por que passar.
Quando não se é diligente, está-se sempre em desvantagem, perde-se o controlo pela vida, tem- se anseios, mas encontra-se pouca satis
fação, falta a sabedoria, as riquezas desaparecem, os esforços são inúteis.
– “É fundamental trazer a diligência para a nossa vida” –, diz consigo mesmo o guru angolano.
– “Devemos começar por vencer a preguiça, que possui quatro raízes: o egoísmo, a presunção (arrogância), ignorância e irresponsabilidade. Naturalmente, vivemos defendendo os nossos interesses. Se não escolhermos mudar o foco para o bem estar do próximo, estaremos apenas a atender o nosso ego e os nossos desejos. Entretanto, muitas vezes achamos que somos mais espertos do que as pessoas que nos cercam, e por isso agimos sem buscar conselhos. É mais fácil agir por ignorância do que buscar aprender. A preguiça pode se espalhar por outras áreas da nossa vida. Quanto mais sucumbimos a ela, mais procuramos gratificação instantânea, até virar o hábito” –, neste momento o guru continua a anotar a torrente de pensamentos num papel para os passar, ao deixar a Fenda da Tundavala, aos seus mentorados.
– “Todos nos devíamos curvar à sabedoria de Salomão: devemos acordar para a realidade, definir nossas visões, criarmos parcerias eficientes e perseguirmos a sabedoria”, acrescentou às notas.
– “O componente final indispensável para se tornar uma pessoa diligente é perseguir a sabedoria e fazer dela a base da sua vida. Salomão nos diz para buscá-la como se ela fosse um tesouro escondido. Entretanto, é impossível ser diligente em qualquer empreendimento sem antes adquirir uma visão clara e precisa de onde se quer chegar”, concluiu, lembrando passagens de um livro que lera do autor americano Steven K. Scott*.
Houve uma visão assertiva quanto à Fenda da Tundavala. Há alguns anos, este fenómeno natural deu o nome ao Estádio Nacional da Tundavala, que acolheu os jogos do grupo D do Campeonato Africano das Nações de 2010, onde jogaram as selecções dos Camarões, Gabão, Tunísia e Zâmbia. Antes alegre, o estádio espera por outros dias, foi esta a ideia que teve o guru, ao passar por lá. É hora de partir.
O guru volta a olhar ao redor, cercado pela natureza, recolhe as suas notas e sai com uma certeza: Deus foi extraordinariamente diligente ao conceber esta Fenda, que foi para além do Seu desejo de gratificação instantânea, legando para nós este regalo da natureza.
A brisa volta a visitar o seu rosto, num leve e sentido beijo de despedida.
- “Até já” – sussurrou o guru. A Fenda da Tundava sorriu. - “Bye”, ouviu-se num eco, liberto, diligentemente, pela natureza.
*“Salomão, o homem mais rico que já existiu”, de Steven K. Scott.