Jornal de Angola

O poder da diligência

- Sebastião M. Panzo

Quando olha ao redor, cercado pela natureza, velho Ngua, o guru angolano, admira a destreza de Deus e o facto Dele não ter caído num dos mais vis abismos do ser humano, criatura magistralm­ente por Si criada: o desejo de gratificaç­ão instantâne­a.

Assim o é, ao sentir a brisa que visita seu rosto, abraça seu corpo e lhe revela a Fenda da Tundavala, este enorme abismo de cerca de 1200 metros situado na Serra da Leba, a 18 km da bela cidade do Lubango.

Até onde os seus olhos podem abarcar, penhascos da Tundavala elevam o Planalto Central de Angola entre as maravilhas do Criador.

– “Todos temos uma inclinação natural a seguir o camin h o q u e o f e r e c e menos resistênci­a”, pensa. – “Devemos ser diligentes, a exemplo do Criador”, reflecte.

Aqui, na Tundavala, o planalto excede 2200 metros de altitude e cai abruptamen­te para cerca de 1000 metros, provocando um desnível deslumbran­te com fendas colossais na montanha.

Daqui, Velho Ngua desfruta de uma paisagem magnífica

que se estende por dezenas de quilómetro­s.

– “Deus foi extraordin­ariamente diligente” -, cogita.

A diligência é um esforço persistent­e que envolve trabalho inteligent­e. É o esforço de investir os seus dias, horas, minutos em algo que recompensa­rá com um produto puro o tempo e o esforço investidos. É preciso fazê-lo de forma correcta, honesta – com prontidão, competênci­a e eficácia.

As recompensa­s de se tornar diligente são extraordin­árias: garante aos diligentes vantagens em relação aos que o não são, satisfação genuína, respeito e admiração, satisfação de necessidad­es, sucesso e esforço lucrativo.

– “As maiores motivações da nossa vida são o desejo de ganhar e o medo de perder”, assombra-se com a verdade Velho Ngua, à majestade imponente da Tundavala, e começa a anotar compulsiva­mente as ideias no seu caderno de viagens, assim o será, como o veremos em outros encontros, por outras regiões por que passar.

Quando não se é diligente, está-se sempre em desvantage­m, perde-se o controlo pela vida, tem- se anseios, mas encontra-se pouca satis

fação, falta a sabedoria, as riquezas desaparece­m, os esforços são inúteis.

– “É fundamenta­l trazer a diligência para a nossa vida” –, diz consigo mesmo o guru angolano.

– “Devemos começar por vencer a preguiça, que possui quatro raízes: o egoísmo, a presunção (arrogância), ignorância e irresponsa­bilidade. Naturalmen­te, vivemos defendendo os nossos interesses. Se não escolhermo­s mudar o foco para o bem estar do próximo, estaremos apenas a atender o nosso ego e os nossos desejos. Entretanto, muitas vezes achamos que somos mais espertos do que as pessoas que nos cercam, e por isso agimos sem buscar conselhos. É mais fácil agir por ignorância do que buscar aprender. A preguiça pode se espalhar por outras áreas da nossa vida. Quanto mais sucumbimos a ela, mais procuramos gratificaç­ão instantâne­a, até virar o hábito” –, neste momento o guru continua a anotar a torrente de pensamento­s num papel para os passar, ao deixar a Fenda da Tundavala, aos seus mentorados.

– “Todos nos devíamos curvar à sabedoria de Salomão: devemos acordar para a realidade, definir nossas visões, criarmos parcerias eficientes e perseguirm­os a sabedoria”, acrescento­u às notas.

– “O componente final indispensá­vel para se tornar uma pessoa diligente é perseguir a sabedoria e fazer dela a base da sua vida. Salomão nos diz para buscá-la como se ela fosse um tesouro escondido. Entretanto, é impossível ser diligente em qualquer empreendim­ento sem antes adquirir uma visão clara e precisa de onde se quer chegar”, concluiu, lembrando passagens de um livro que lera do autor americano Steven K. Scott*.

Houve uma visão assertiva quanto à Fenda da Tundavala. Há alguns anos, este fenómeno natural deu o nome ao Estádio Nacional da Tundavala, que acolheu os jogos do grupo D do Campeonato Africano das Nações de 2010, onde jogaram as selecções dos Camarões, Gabão, Tunísia e Zâmbia. Antes alegre, o estádio espera por outros dias, foi esta a ideia que teve o guru, ao passar por lá. É hora de partir.

O guru volta a olhar ao redor, cercado pela natureza, recolhe as suas notas e sai com uma certeza: Deus foi extraordin­ariamente diligente ao conceber esta Fenda, que foi para além do Seu desejo de gratificaç­ão instantâne­a, legando para nós este regalo da natureza.

A brisa volta a visitar o seu rosto, num leve e sentido beijo de despedida.

- “Até já” – sussurrou o guru. A Fenda da Tundava sorriu. - “Bye”, ouviu-se num eco, liberto, diligentem­ente, pela natureza.

*“Salomão, o homem mais rico que já existiu”, de Steven K. Scott.

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