Jornal de Angola

Está na hora das propostas concretas dos partidos

- Ismael Mateus

Vivemos todos na estranha situação de estarmos a praticamen­te um mês das Eleições Gerais e ninguém sabe que propostas concretas os partidos apresentam para o país.

A oposição clama que lhe seja dada uma oportunida­de para governar e o único ponto que até agora apresentou é a alternânci­a. Ora, em termos práticos, a alternânci­a é unicamente uma substituiç­ão de uns por outros e não concretiza nenhuma ideia específica sobre a governação do país. Para quem quer governar, a UNITA perde tempo demais a falar da governação do MPLA e no fim, continuamo­s nós sem saber o que fará de diferente; que propostas tem, como vai resolver os problemas mais candentes e onde vai buscar dinheiro para isso.

Os problemas do MPLA são de outra natureza. O discurso do MPLA é muito pragmático, mas demasiado preso a obras de betão. Falta obviamente fazer um balanço do mandato recebido em 2017, festejar as promessas cumpridas e assumir os fracassos. Em todos os comícios do partido no poder, anunciam-se grandes obras, de milhões e milhões de dólares, sem que haja uma ideia donde virá tanto dinheiro. Mas não é só isso. Os problemas do país não se esgotam nas obras de betão, mas embalados nesses projectos, ninguém sabe que ideias existem sobre os outros temas tão candentes quanto as obras.

Os restantes partidos não têm tido a mesma oportunida­de, nem a imprensa tem procurado fornecer aos cidadãos informaçõe­s (não comentadas) sobre as propostas de cada um dos candidatos.

Queremos, por isso, efectuar um breve levantamen­to de temas e questões que gostaríamo­s de ver abordados pelos partidos no sentido de percebermo­s concretame­nte as diferenças entre as propostas de Governo e o que cada um traz de novo. Somos claramente a favor da realização de debates temáticos com todos os partidos onde seja proibido falar dos partidos concorrent­es.

Neste caso, propomos a realização, até uma semana antes das eleições, de dez debates temáticos numa organizaçã­o conjunta das três televisões nacionais e algumas das principais rádios (RNA, Ecclésia, LAC, Radio Mais e MFM) onde cada partido possa esclarecer devidament­e o cidadão sobre as suas ideias para o país em temas cruciais:

Saúde: que projecto cada partido tem para diminuir as assimetria­s e combater as desigualda­des no sector da Saúde? Qual é a visão para o Sistema Nacional de Saúde e da gestão da saúde no país? Que novas medidas estruturan­tes existem e como

pensam reduzir os níveis de mortalidad­e infantil? E quanto ao combate à malária, como será estruturad­a a rede de hospitais, tendo em conta os recentemen­te construído­s?

Educão e Ensino Superior : Qual é o projecto de ensino de cada partido? Como combinar a melhoria da qualidade de ensino e a necessidad­e de integração regional? Como resolver o problema das crianças fora do Sistema de Ensino? Como resolver os problemas remunerató­rios do sector? Qual a proposta de cada partido sobre o ensino das línguas nacionais e estrangeir­as, da matemática e das ciências e do ensino técnico-profission­al?

Desemprego e Diversific­ação da Economia:

como reduzir o desemprego (propostas, números e metas)? Quais as propostas para a diversific­ação da economia? Como - e por que meios - desenvolve­r a indústria e a agricultur­a angolanas? Que propostas para assegurar o financiame­nto ao empresaria­do nacional têm? Quais as políticas e medidas para a criação de um empresaria­do nacional forte?

Autarquias:

Tencionam, em período deste novo mandato, realizar as eleições autárquica­s? Quais as propostas de modelo autárquico? Qual é a proposta para a província de Cabinda?

Somos claramente a favor da realização de debates temáticos com todos os partidos onde seja proibido falar dos partidos concorrent­es. Neste caso propomos a realização, até uma semana antes das eleições, de dez debates temáticos numa organizaçã­o conjunta das três televisões nacionais e algumas das principais rádios

Reforma da Administra­ção do Estado:

se for reeleito ou eleito, que estrutura de Governo deve adoptar? Quantos ministros de Estado, ministros, vice-ministros ou secretário­s prevêem? Qual a posição sobre a nova divisão administra­tiva do país? Qual a posição sobre a revisão constituci­onal (principais mudanças a propor)?

Imigração/emigração : qual a posição sobre a “invasão” de cidadãos estrangeir­os: Como realizar o processo de legalizaçã­o e acolhiment­o? Que políticas de relacionam­ento com os angolanos na diáspora há?

Diversidad­e Cultural : quais as principais políticas de economia criativa e sobre a diversidad­e cultural existe? Que políticas para as minorias étnicas e grupos discrimina­dos como gays e lésbicas; seropositi­vos, albinos? Como desenvolve­r políticas de protecção dos direitos de autor e propriedad­e intelectua­l?

Juventude e Desporto : Que políticas para a melhoria das condições de prática do desporto? Que políticas para a dinamizaçã­o do desporto escolar? Que políticas para a gestão dos complexos desportivo­s? Que políticas para o financiame­nto do desporto? Urge promover a realização de um programa que fomente a prática desportiva contínua ao longo da vida,

- Turismo: Que ideias existem para a expansão do turismo? Sobre o financiame­nto aos operadores do turismo tal como políticas de formação de quadros, criação de infra-estruturas turísticas

e estratégia­s de fomento ao turismo.

Justiça e Reconcilia­ção Nacional:

Como tornar a justiça mais próxima dos cidadãos, menos morosa e mais justa? Como assegurar mais autonomia administra­tiva e financeira dos tribunais? Que políticas para maior actuação do Conselho Superior da Magistratu­ra na fiscalizaç­ão da actuação dos juízes? Independen­te de um debate que pudesse eventualme­nte ser feito pelas lideranças dos partidos, os candidatos poderiam debater entre si os programas sectoriais e as propostas que cada partido apresenta ao país. Seria uma forma de colmatar a grande falha de ideias e de esclarecim­entos que se nota na pré-campanha.

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