Falta de amamentação adequada preocupa especialistas em saúde
Casos de desnutrição têm estado a aumentar, paulatinamente, em muitas unidades hospitalares do país. Entre as diversas causas, a ausência do aleitamento materno regular consta como a principal razão, de acordo com nutricionistas e pediatras
A falta de uma amamentação adequada tem sido uma das principais causas do aumento dos casos de malnutrição. Apesar do leite materno continuar a ser o alimento recomendado aos bebés, até aos seis meses, algumas mães, devido à dinâmica da vida social, são, às vezes, “forçadas” a relegar a amamentação para segundo plano. Sendo a maioria profissional, ou por sobrevivência, muitas destas mulheres deixam os filhos sob os cuidados de terceiros.
Para a nutricionista Julieta Mecula, a amamentação é fundamental e tem de ser constante, pois, embora não seja o único factor para a malnutrição, é das razões para a desnutrição de muitas crianças.
Uma alimentação regular, com o leite materno, rico em nutrientes, como a base, é, defendeu, a solução para evitar o crescente número de casos de malnutrição, registados em muitos hospitais do país.
As causas de desnutrição, explicou, podem ser associadas a diversos factores, inclusive doenças, mas a má nutrição é das causas primárias. “Existem patologias como a diabetes, tuberculose, ou o cancro, que quando associadas à desnutrição prejudicam bastante as crianças, ao ponto de comprometer o desenvolvimento mental e físico destas. Em situações mais graves podem levar à morte”, explicou, em especial quando esta já perdeu muito da massa muscular do peso e apresenta sinais de anemia.
Uma criança, contou, é desnutrida quando apresenta altura e peso inferior a menos 4 e 3 na classificação do aparelho de medidas, tecnicamente chamado como dados antropométricos. “A desnutrição tem níveis e bases. É considerada primária quando o motivo é a alimentação e secundária se for causada por doenças”, informou, acrescentando que existem sintomas de desnutrição muito comuns, sendo um deles a perda da cor do cabelo.
Em relação aos tipos de tratamento a dar a uma criança com malnutrição, a nutricionista disse serem vários, mas nas crianças internadas é administrado o leite terapêutico F75 e F100. “É um suplemento usado para quem vai ao ambulatório. Porém, deve ser acompanhado por uma alimentação saudável e variada”, explicou.
A nutricionista criticou o facto de ainda haver registo, em alguns casos, mesmo raros, de mortes por desnutrição no país, principalmente em determinadas localidades onde não existem os Centros Nutricionais Terapêuticos. “Para melhorar o quadro é preciso, também, reforçar a educação nutricional materna infantil”.
Alimento completo
A pediatra Geucénia Xavier considerou o leite materno como o alimento mais completo que existe, capaz de melhorar a digestão e minimizar as cólicas, assim como reduzir os riscos da criança contrair doenças, inclusive alérgicas ou infectocontagiosas.
“As mães têm de ter consciência da importância da amamentação exclusiva até aos seis meses e complementar até aos 2 anos de idade. O desmame precoce pode ter consequências fatais”, alertou, acrescentando que só depois dos seis meses a criança pode comer outros alimentos. “Mas é importante evitar dar a estas alimento com muita gordura, sal e açúcar. Os riscos pelo não cumprimento destas recomendações inclui uma série de doenças”.
A especialista lembrou que, após os seis meses, os alimentos do bebé devem ser sólidos e ricos em proteínas. A partir do oitavo mês, realçou, a criança pode consumir frutas e iogurtes. “Depois de um ano pode fazer a mesma dieta da família”, recomendou, além de explicar que a água para os menores deve ser, sempre, fervida.
Influências negativas
A nutricionista Maria Futi Tati disse que ao analisar a questão da desnutrição deve- se ter em conta, também, as razões psicológicas, como a fuga à paternidade e outros problemas sociais, entre os quais o desemprego e a pobreza.
Para as mães solteiras ou as vendedoras ambulantes, essa influência psicológica tem um peso maior e consequências mais graves ainda. “Muitas delas passam o dia nas ruas e não conseguem dar uma alimentação adequada às crianças”, disse.
Outra preocupação, revelou, que se tem tornado prática comum, é o tipo de alimento a dar aos bebés. “Há mães que dão funge aos filhos depois de poucos meses de vida. Mas o recomendável, depois de atingirem uma certa idade, são as papas, leites e sopas fortificadas”.
A boa alimentação, referiu, contribui para o controlo do ganho de peso da criança. “Uma das melhores formas de garantir isso é incluir verduras na alimentação da criança”, destacou a antiga coordenadora nacional do Programa de Nutrição da Direcção de Saúde Pública.
Para a médica pediatra, as mães têm de ter consciência da importância da amamentação exclusiva até aos seis meses. O desmame precoce pode ter consequências fatais”