Angola e França: Prêt à porter?
Socorro-me de uma expressão das lides teatrais para começar este texto. Caiu o pano sobre a visita do Presidente de França ao nosso País, com uma duração de menos de 24 horas, depois de ter sido aguardada com enormes expectativas.
Há alguns anos que sou seguidor atento da trajectória política e por isso tenho uma indisfarçável admiração por este jovem Presidente de uma das maiores potencias económicas do mundo.
Mas é claro que o nosso olhar sobre a visita não pode ser movido por paixões. Não obstante, é mister reconhecer que a visita cumpriu os seus propósitos. Pelo menos, satisfez as expectativas, ficando agora um trabalho de casa para os oficiais, mas acima de tudo um corredor de oportunidades não políticas que se abrem e que valerá a pena explorar ou pelo menos tirar proveito.
A visita de Emanuel Macron ao nosso país estava no calendário da cooperação político-diplomática dos dois países há algum tempo, mas foi sendo adiada, entre outras razões, principalmente pelo eclodir da pandemia da Covid-19 que colocou as agendas ao avesso. Como se diz na gíria, entretanto, mais vale tarde do que nunca.
Sucede, entretanto, que de 2020 para cá, o cenário geopolítico mudou consideravelmente e, obviamente, a agenda do encontro entre os Chefes de Estado não poderia passar a leste dos grandes temas de interesse geopolítico e geoestratégico para os dois países. Assim, quer a crise na Ucrânia como no Leste da República Democrática do Congo estiveram igualmente no centro das discussões.
Assim, dada a influência histórica da França na África Central, o papel de Angola enquanto mediador do confliuto entre a RDC e o M-23 não pode deixar de parte este player, uma vez que estamos a falar de uma crise política séria, em grande medida, padecendo dos desafios da Ucrânia. Em causa está a sua unidade territorial que se encontra seriamente ameaçada com todas as consequências internas e externas.
Essa agenda de interesses externos, aos quais a França não está indiferente ao assumir algum protagonismo na crise entre a Ucrânia, com suporte da União Europeia e da NATO, contra a Rússia, ocupou por isso algum espaço sobre o qual não gostaria de me ater.
Interessa-me de modo particular a cooperação mais directa entre os nossos países na medida em que sou um defensor da viragem que deve haver do petróleo para outros pilares, nomeadamente da agricultura, dos transportes e do turismo.
Ora bem, a França é a maior potência Agrícola da Europa e tem exportado o seu know how para diversos países fora do espaço europeu como o Brasil, Magrebe entre outros. Mas a França consegue alimentar sua população com cerca de 67 milhões de habitantes, para além do seu potencial exportador a esse nível. Mas esse potencial da França representa apenas 1por cento do PIB e emprega 3 por cento da população economicamente activa. São números altamente inspiradores na medida em que Angola tem uma extensão territorial/geográfica muito superior a da França com cerca de 35 milhões de terras aráveis.
Então, os resultados da visita deixam-nos uma léstia de esperança sobre as opoirtunidades que existem em toda a escala da produção agrícola e pecuária, pois, quando olhamos a fundo, para além dos cereais, a produção de carne francesa é respeitável. E esses são exactamente os domínios sobre os quais Angola pretende desenvolver a sua agricultura para que ela se mantenha no trilho do crescimento. Obviamente, a introdução de tecnologia para um melhor aproveitamento dos solos, do sistema de rega, do agronegócio e do acesso ao financiamento serão vitais para que possamos dar um salto igualmente maior. Ficamos assim expectantes com os anúncios ocorridos durante a visita e relacionados aos pontos aflorados.
Por outro lado, os desafios de mobilidade e de inter-conectividade que hoje enfrentamos, os franceses ajudaram já outros países a solucionar. Apontam-se aqui os casos do Peru, Chile, Senegal entre outros. Portanto, se não ao nível dos próprios equipamentos, pelo menos ao nível da expertise para que possamos encontrar soluções para problemas que outros já resolveram.
Deixo finalmente uma alusão ao turismo para no fundo referir-me a dois aspectos importantes. A dimensão cultural, mas principalmente a dimensão da restauração, organização de eventos, entre outros. A França não é primeiro destino turístico apenas por causa da tour eifel. Há um pouco de tudo, ou como quem diz, il y a des goûts pour tout le monde, em Saint Tropez, Lyon, Normandie, Nantes, Bordeaux. Os nossos operadores têm assim bastante para aprender e os oficiais, na definição de políticas, linhas de cooperação para explorar.