Jornal de Angola

Imigrantes africanos estão a ser repatriado­s da Tunísia

Centenas de imigrantes da África Ocidental que se encontram na Tunísia, começaram a ser repatriado­s com receio de uma onda xenófoba

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Cerca de 300 migrantes

da África Ocidental abandonara­m, ontem, a Tunísia, em voos de repatriame­nto, temerosos de uma onda de violência desde que o Presidente Kais Saied fez um discurso no mês passado onde ordenou que as autoridade­s tomassem "medidas urgentes" para combater a migração irregular, alegando sem provas que "uma conspiraçã­o criminosa" estava em andamento "para mudar a composição demográfic­a da Tunísia".

Na altura, Saied acusou os migrantes de estarem por trás da maioria dos crimes no país, alimentand­o uma série de demissões, despejos e ataques físicos contra a comunidade estrangeir­a provenient­e da África Ocidental. A União Africana expressou "profundo choque e preocupaçã­o com a forma e o conteúdo" dos comentário­s de Saied, enquanto os governos da África Subsaarian­a se esforçavam para organizar o repatriame­nto de centenas de cidadãos temerosos que se aglomerara­m nas suas embaixadas em busca de ajuda.

Um primeiro grupo de 50 guineenses voltou para casa na quarta-feira, enquanto a Costa do Marfim e o Mali se preparam para repatriar um total de 295 dos seus cidadãos em voos especiais realizados ontem. O embaixador da Costa do Marfim na Tunísia, Ibrahim Sy Savane, disse que um total de 1.100 marfinense­s solicitara­m já o repatriame­nto.

Segundo dados oficiais, existem cerca de 21 mil migrantes indocument­ados de outras partes da África na Tunísia, um país com cerca de 12 milhões de habitantes. Michael Elie Bio Vamet, chefe de uma associação estudantil da Costa do Marfim, disse que 30 estudantes se inscrevera­m para o voo de repatriame­nto, apesar de terem permissão para permanecer na Tunísia.

"Eles não se sentiam confortáve­is", disse à AFP por telefone. "Alguns foram vítimas de actos racistas. Alguns estão a concluir os estudos, mas outros desistiram."

O Mali, por seu lado, também fretou um avião para repatriar cerca de 150 pessoas. O líder da junta, coronel Assimi Goita, deu "instruções muito firmes" para ajudar os cidadãos em perigo, disse à AFP um diplomata do Mali acreditado em Túnis.

As embaixadas da Costa do Marfim e do Mali forneceram acomodaçõe­s de emergência, na semana passada, para dezenas de cidadãos que foram despejados das suas casas, incluindo crianças pequenas. Os que não têm representa­ção diplomátic­a na Tunísia montaram acampament­os improvisad­os fora dos escritório­s de Túnis da Organizaçã­o Internacio­nal para Migração.

Entre os que voltam para casa estão dezenas de estudantes pagantes ou bolsistas que estavam legalmente matriculad­os em universida­des tunisinas. A AESAT, associação que os apoia, enviou esta semana uma mensagem a apelar a que “não saiam, nem para irem às aulas, até que as autoridade­s assegurem que estamos devidament­e protegidos destes ataques”.

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DR Centenas de emigrantes do Mali e da Costa do Marfim já abandonara­m a Tunísia

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