Francisco Vidal expõe a sua luta pela inclusão e liberdade
O artista plástico Francisco Vidal inaugurou, sábado, na Galeria This Is Not A White Cube, em Lisboa, a exposição individual “Pulsations: From Rhythms to Gestures” (Pulsações: Dos ritmos aos Gestos), em que destaca o seu empenho, propõe a inclusão, fluidez e liberdade, juntamente com a apreciação das diferenças e diversidade.
A exposição está montada com 33 obras inéditas produzidas com desenho, pintura, grafite, serigrafia e instalação, que reflectem sobre um dos mais desconhecidos aspectos do seu universo criativo: a sua marcada ligação à música.
Com acesso livre até à data do encerramento, 22 de Abril, a mostra abre com uma performance de retrato ao vivo, denominada “Still Free” (Ainda vivo), numa colaboração entre o autor com o trompetista Ricardo Pinto, enquanto forma reactivada da precedente “Revolução Industrial Africana”.
“Still Free” funciona como um exercício para explorar a vivência individual e o isolamento versus espaço social activo.
A cerimónia contou, ainda, com o lançamento, pela Galeria This Is Not A White Cube, de uma publicação dedicada à exposição, que inclui textos de Katherine Sirois, curadora da mostra, e Luísa Santos.
A exposição propõe desfazer as fricções e as ficções impressas nas identidades individuais e colectivas, reunindo e celebrando conhecimentos e epistemologias estéticas de África e da diáspora africana, mas também da Europa.
Segundo a curadoria, Francisco Vidal emprega suportes invulgares como papel de algodão artesanal de autoria própria, catanas africanas industrializadas, painéis e molduras de seda sintética e contraplacado bruto.
Num espírito de polinização cruzada criativa, o artista faz continuamente uso de símbolos juntamente a materiais heterogéneos, tais como arte pop e de rua, cartazes e banda desenhada, graffiti e estética psicadélica ou padrões das tradições de tecido Vlisco e cera.
As obras apresentam, também, alusões à cultura urbana contemporânea e aos bens de consumo ligados à indústria do desporto e da moda.
Katherine Sirois refere que o estilo muralista de Francisco Vidal desdobra-se em composições energéticas abrangentes, que incluem retratos estilizados e padrões animais atraentes, marcações propulsivas, raios, pontos e pingos, cores jazzy ao lado de declarações, letras de canções e palavras riscadas. As superfícies multicamadas e muito trabalhadas, disse, envolvem procedimentos de sobreposição e saturação, juntamente com aplicações directas de tinta com as mãos nuas. “Muitas vezes concebida como uma rede de associações e interacções móveis, a sequência e numeração das obras tendem a produzir narrativas de natureza sociocultural”
Nas obras, o artista questiona continuamente com ironia lúdica às estruturas do poder e sistemas de classificação, convenções rígidas e preconceitos há muito estabelecidos, ao mesmo tempo que esbatem as fronteiras entre os meios artísticos.
As gravuras exprimem as suas proclamações e observações, enquanto as pinturas se destacam das paredes e se expandem no espaço, repousando em palafitas, lembrando alguns cavaletes rústicos, emparelham-se e tornam-se instalações de dois lados em billboard-style.
As suas costas expostas exigem uma mudança de profissão, o que significa uma mudança de estatuto, enquanto os quadros em tela se alinham lado a lado, como as imagens em banda desenhada, toda a exposição se torna uma instalação proliferante com a sua miríade de possibilidades em termos de organização espacial.
Ligação à música
Um aspecto menos conhecido do universo visual do Vidal é a sua profunda ligação à música, ritmos e batidas. Segundo a curadora Katherine Sirois, essa dimensão musical e os modos de ser e trabalhar do artista é expressa pelo título do actual espectáculo a solo: “Pulsations”, termo usado como referência à cadência regular do coração - aos pulsos rítmicos da vida - também alude à dimensão vibratória da música e das cores.
Katherine Sirois cita que as expressões cromáticas e tonais evocam o bater de um tambor, o ritmo de um baixo, os gestos dinâmicos de linhas e padrões numa tela, o ritmo constante dos processos de impressão ou a vivacidade pulsante da cidade. No seu estúdio, imerso numa multiplicidade de géneros musicais, desde o reggae, blues e jazz ao punk, hip hop e electrónico, o artista junta-se frequentemente a músicos e DJS
Uma vez que a pulsação se relaciona com a dinâmica de expansão - contracção, segundo a curadora, o artista conjuga principalmente as ideias de repetição e continuidade, noções explicitamente traduzidas com a concepção - produção das obras num conjunto maioritariamente uniforme.
As obras apresentam, também, alusões à cultura urbana contemporânea e aos bens de consumo ligados à indústria do desporto e da moda
Francisco Vidal
Francisco Vidal é reconhecido pelas suas pinturas e desenhos, nos quais se destaca o uso de padrões e cores vibrantes sobre papel e tela, produzidos manualmente, muitas vezes de forma a criar instalações de grande escala.
O trabalho do artista conjuga de forma singular várias influências estéticas, incluindo o cubismo, os têxteis africanos, a cultura hip-hop dos anos 80, bem como o graffiti contemporâneo e a arte de e na rua. Nascido em Portugal, e com raízes angolanas e cabo-verdianas, o artista trabalha com ideias que estão intimamente ligadas à experiência da diáspora, explora narrativas associadas à identidade que deriva da educação transcultural.
A história colonial e as suas consequências são profundamente questionadas no seu trabalho, com uma forte ênfase no impacto das práticas laborais, nos conflitos e na violência.