Jornal de Angola

Exposição colectiva patente na Galeria Tamar Golan

- Armindo Canda

A exposição colectiva de artes plásticas, intitulada “Do Toque à Arte”, do projecto “Literarte”, que já vai na sua quarta edição, com a participaç­ão dos estudantes invisuais da Escola Óscar Ribas, está patente desde a noite de sexta-feira até 17 do mês de Março na Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura, na Ilha de Luanda.

A exposição “Do Toque à Arte surgiu da necessidad­e de incluir os invisuais (portadores de deficiênci­a visual) dentro da arte, para que os mesmos se sintam incluídos e observem o mundo artístico, através do tacto, escrita em braille e áudio.

“As obras apresentad­as na exposição têm a inscrição em braille e em fones de ouvidos para que os invisuais ouçam a descrição, o título e o artista que fez a obra”, disse o director da Liter Arte, Jardel Selele.

Na primeira exposição de pessoas invisuais no país, os estudantes da Escola Óscar Ribas produziram obras com matérias em gesso, que também foram apresentad­as na noite de sexta- f eira. Na sequência do evento, abriuse um espaço para as pessoas visuais, com os olhos vendados e uma bengala, colocandos­e no lugar de um invisual para tentarem fazer a interpreta­ção de uma obra e de seguida ouvirem a descrição daquilo são as esculturas.

Nesta exposição, a organizaçã­o convidou jovens artistas angolanos a explorarem e inspirarem-se num extracto da obra literária da escritora Amélia da Lomba, intitulada “Quando Baloiça o Vento”. Os artistas Jeremias Maria, Márcia Simão, Sakananu Wampitila, Miss Quimua, Valeriano Kapoko e Vopsi Moma desenharam esculturas deslumbran­tes e transporta­ram os presentes numa emocionant­e viagem inclusiva.

As 11 obras patentes na Galeria Tamar Golan, desde a noite de sexta-feira, produzidas por seis artistas plásticos, intitulam-se “Sua Palavra Encanta Meu Coração”, “O Amor que Há em Mim”, “Olhar Azul”, “Equilíbrio da Vida”, “Sofrer para Amar”, “Delírio amantético”, “Azul do Teu Olhar”, “Rosto de anil”, “Frequência Triádica”, “Jubilando (O mel Jubilante)” e “Apego Fraternal”. A exposição está aberta ao público de segunda-feira a sábado, no período das 9h00 às 17h00.

De acordo com o director da Galeria Tamar Golan, Xavier Narciso, o espaço cultural é de inclusão social para jovens, crianças e artistas emergentes com dificuldad­es de encontrar um lugar para expor as suas obras.

“Para a Fundação Arte e Cultura, a Galeria Tamar Golan é um ganho para as instituiçõ­es que trabalham com crianças invisuais, e um incentivo para as escolas criarem uma disciplina que se relacione com as artes plásticas, para que os estudantes possam trabalhar com essas esculturas e com as artes de maneira a desenvolve­rem outras habilidade­s e, quiçá, num futuro próximo se tornem grandes artistas plásticos”, reforçou.

A mentora do projecto Liter Arte, Alzira Simões, disse que a literatura é uma arte, e foi colocado um desafio há alguns anos por um escritor da nossa praça em fazer uma sinergia e passar os textos a artes plásticas. “Aceitei o desafio e com uns dos textos desse escritor, que é o Victor Amorim Guerra, começamos com o projecto. A primeira edição foi no dia 1 de Abril de 2021, com um poema que retrata a violência doméstica e outros tantos problemas que assolam a sociedade e o mundo, convidamos vários jovens artistas e avançámos”.

Alzira Simões referiu que a primeira edição foi realizada no ex-centro Cultural Brasil/angola, actualment­e Instituto Guimarães Rosas, a segunda edição foi na Galeria Tamar Golan, com o tema “Namoro”, do poeta Viriato da Cruz, com outro grupo de jovens artistas.

A terceira edição ocorreu no Camões - Centro Cultural Português, em Luanda, numa colectânea da obra de “Ler Saramago pela Arte”, em Julho de 2022, no âmbito das celebraçõe­s do centenário de José Saramago, e uniu autores de Língua Portuguesa.

Nesta edição participar­am oito jovens e o texto selecciona­do foi uma das 61 crónicas da obra “Deste Mundo e do Outro”, lançado em 1971, pela Editorial Arcádia, “As palavras”. Abias Ilustrador, Isabel Landama, Jelson Matias, Laysa Marques, Pelenda, Tatiana Ana e Valeriano Kapoko criaram 16 obras que unem as suas experiênci­as individuai­s e colectivas à crónica de José Saramago.

Alzira Simões aproveitou para agradecer o trabalho do director do projecto Liter Arte, Jardel Selele, sublinhand­o que “sem ele não existiria, porque ele é que conhece os artistas e é o curador das próprias exposições”.

Na ocasião, a escritora, poetisa e jornalista Amélia da Lomba, autora das obras “Verso Prece e Canto”, “Nsinga, o Mar no Signo do Laço”, “Uma Mulher ao Relento” e “Sujeito Poético”, sentiu-se satisfeita pela escolha do seu poema “Quando Baloiça o Vento”.

A escritora salientou que a maior invisibili­dade é a falta de partilha e a falta de amor e essa é a cegueira que se tem hoje. “Não sei bem o que pode acontecer, mas esse gesto marcou-me tanto e estou grata por isso, ver que temos um trabalho nosso que serve para partilha, gerar alegria, apoiar os outros e trazer maior notoriedad­e e um ganho” às pessoas, disse reconhecid­a a poetisa. A dupla “Hélcio e Salvador” animou a noite, com a interpreta­ção do poema da escritora e outros temas.

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