General sudanês critica junta que governa o país
O comandante das Forças de Apoio Rápido, que participou no golpe de Estado que derrubou o ex-presidente Omar al-bashir, em 2021, criticou os membros da Junta Militar
Um importante comandante militar sudanês criticou. ontem, os generais que governam o país, a quem acusou de manterem o poder e inviabilizarem a transição democrática feita por uma administração civil. Segundo a Reuters, o general Mohamed Hamdan Dagalo, comandante das Forças de Apoio Rápido ( FAR) do Sudão, disse que as suas diferenças com os restantes líderes militares, que se tornou público nas últimas semanas, assenta na questão da entrega do poder aos civis.
“Somos contra os que se opõem à entrega do poder a um Governo civil”, disse Dagalo aos militares das FAR numa base militar na capital, Cartum. “Somos contra qualquer um que queira ser um ditador”, vincou. O Sudão mergulhou no caos depois de um golpe militar ter derrubado o Governo apoiado pelo Ocidente em Outubro de 2021, paralisando a curta transição para a democracia após quase três décadas de regime do Presidente Omar al-bashir.
O golpe ocorreu mais de dois anos depois de uma revolta popular forçar a queda de al-bashir e do seu Governo islâmico em Abril de 2019. Sob crescente pressão, os generais e grupos pró-democracia chegaram a um acordo i nicial em Dezembro, que permitiria a formação de um Governo civil. Outros grupos, incluindo rebeldes, opuseram-se ao acordo e negociações apoiadas internacionalmente ainda estão em curso para que também adiram ao acordo-quadro, uma condição que os militares estabeleceram para entregar o poder aos civis.
A disputa entre Dagalo e os outros generais aumentou nas últimas semanas. O comandante das FAR, que é apoiado pelos Emirados Árabes Unidos, tornou-se recentemente crítico de outros líderes militares, em parte sobre a entrega do poder aos civis, mas também sobre a incorporação da sua poderosa unidade nas forças armadas, conforme prevê o acordo-quadro.
A retórica alimentou preocupações sobre possíveis confrontos entre a sua unidade, conhecida pelas campanhas de terra queimada no conflito da proví ncia de Dar f u r , e o s militares. No seu discurso, Dagalo diluiu as tensões entre as suas forças e os militares como instituição. “Não há problema entre os militares e as Forças de Apoio Rápido”, garantiu aos seus militares. “Queremos alcançar uma verdadeira transição democrática. Queremos que este país cresça”, frisou.
Divisão cada vez mais profunda
Dagalo não deu detalhes que apoiem a sua alegação de que os líderes militares do país se recusam a entregar o poder aos civis, mas observadores consideram que se estava a referir ao general Abddel Fattah al-burhan, Presidente da Junta Militar no poder.
Tanto al-burhan como Dagalo lideraram o golpe de 2021, mas este tem procurado nos últimos meses reinventar publicamente a sua imagem e a das suas forças. Chegou a apresentar- se como um defensor da restauração da transição democrática e descrevendo o golpe como um “erro”.
No seu discurso de ontem, Dagalo disse que países estrangeiros, i ncluindo monarquias ricas do Golfo e Governos europeus, fizeram da restauração da transição democrática uma condição para retomar a assistência ao Sudão. Muitos Governos estrangeiros e instituições internacionais interromperam a ajuda ao Sudão após o golpe e press i onaram a l - Burhan e Dagalo a prescindir do seu controlo do poder.
Al-burhan e Dagalo lideraram o golpe de Estado em 2021, mas, nos últimos meses, tem procurado reinventar, publicamente, a sua imagem e a das suas forças, apresentandose como um defensor da restauração da transição democrática no Sudão