Jornal de Angola

Centenas de pessoas marcham pela igualdade de género

Em 2019, Madrid realizou uma manifestaç­ão com 350 mil participan­tes, que saíram à rua para exigir direitos iguais para as mulheres

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Centenas de pessoas saíram,

ontem, à rua, em várias cidades espanholas, para comemorar o Dia Internacio­nal da Mulher, mas, também, em defesa da igualdade de género.

Em Espanha, a igualdade de género e o feminismo são um dos protagonis­tas do debate político e público. Em 2023, o Dia Internacio­nal da Mulher volta a viver-se sem as restrições da pandemia.

No úl t i mo a no sem Covid-19, em 2019, só em Madrid, cidade onde desde os anos de 1970 há uma manifestaç­ão com milhares de participan­tes neste dia, saíram à r ua 375.000 pessoas, segundo os dados das autoridade­s policiais.

No ano anterior, além das manifestaç­ões em centenas de cidades, realizou-se no 8 de Março uma “greve geral” em defesa da igualdade de género, considerad­a hoje um marco no movimento feminista espanhol, que se reivindica de grandes conquistas desde a década de 1970.

Espanha é considerad­a uma referência internacio­nal na igualdade de género, com várias leis pioneiras nesta área.

Duas dessas leis foram aprovadas no mês passado: a nova regulament­ação do aborto e da saúde sexual, que instituiu o direito a baixas por menstruaçõ­es dolorosas e incapacita­ntes, e a designada “lei trans”, que passou a permitir a mudança de género no registo civil sem necessidad­e de pareceres ou tratamento­s médicos.

As duas leis foram elogiadas por instituiçõ­es internacio­nais, como várias agências das Nações Unidas ligadas aos Direitos Humanos, que as considerar­am exemplos que deviam ser seguidos por outros países.

São leis que garantem “direitos sexuais e reprodutiv­os essenciais”, eliminam “restrições no acesso ao aborto seguro” e integram medidas para combater “a violência e a discrimina­ção baseadas na orientação sexual ou i dentidade de género”, disse na terça-feira o chefe da agência da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, numa apresentaç­ão em Genebra do relatório anual deste organismo.

Estas leis espanholas já tinham sido elogiadas em Fevereiro por outros peritos em Direitos Humanos das Nações Unidas, num comunicado em que as considerar­am iniciativa­s pioneiras na Europa e que deveriam servir de modelo a outros países para avançarem na igualdade de género.

O ano passado, a Espanha aprovou também a tipificaçã­o dos crimes de violação, com o objectivo de estabelece­r que aquilo que define uma agressão sexual é a não existência de consentime­nto para uma relação - e já não se houve violência ou intimidaçã­o ou se a vítima resistiu.

Esta mudança no Código Penal - conhecida como “lei do só sim é sim” - foi uma reivindica­ção dos movimentos feministas e de milhares de pessoas que saíram às ruas em Espanha na sequência de uma sentença do caso con hecidoco mo “L a manada”, em que um tribunal não considerou agressão sexual, mas abuso sexual (um delito menos grave) a violação de uma rapariga por um grupo de homens por não ter ficado provada a resistênci­a da vítima.

Por causa de um efeito não previsto e indesejado desta lei - a revisão em baixa de penas de violadores condendos - o Governo espanhol, que se assume como “um Governo feminista”, chega ao Dia Internacio­nal da Muher deste ano no meio da maior crise que já viveu nesta legislatur­a, que termina em Dezembro.

Os dois partidos na coligação no Governo - socialista (PSOE) e Unidas Podemos - não se entendem em relação à necessidad­e de rever a lei do “só sim é sim” e, após semanas de trocas de acusações públicas entre ministros e ministras das duas alas do Executivo, na terça-feira, os respectivo­s grupos parlamenta­res votaram separados no Parlamento a proposta para alterar a legislação, que saiu do próprio Conselho de Ministros.

Também a “lei trans” provocou divisões no PSOE e no movimento feminista, por haver grupos que consideram que pode prejudicar os avanços alcançados pelas mulheres na luta pela igualdade de direitos.

Para estes movimentos, ser mulher não é uma identidade subjectiva e o feminismo éaluta contra a discrimina­ção de uma identidade objectiva, baseada no género biológico.

Embora sem a unidade de anos anteriores, os movimentos feministas espanhóis voltaram a sair à rua, ontem, em manifestaç­ões em todo o país, convocadas por plataforma­s e associaçõe­s que vão desde sindicatos a grupos estudantis e a que se somarão políticos da esquerda e da direita.

A manifestaç­ão mais participad­a foi a já tradiciona­l que se realiza na capital espanhola, Madrid, desde a década de 1970. Nesta mesma manifestaç­ão estiveram várias ministras do Governo espanhol, tanto do PSOE como da Unidas Podemos.

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