Jornal de Angola

Vencedores do festival de cinema de Ouagadougo­u falam “em feito extraordin­ário”

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O realizador Yuri Ceuninck e a produtora Natasha Craveiro classifica­ram como “feito extraordin­ário” a conquista do Galardão de Ouro com o documentár­io “Omi Nobu”, no maior festival de cinema de África, a Fespaco.

A premiação decorreu há uma semana, em Ouagadougo­u (Burkina Faso), palco do evento, e, em entrevista quinta-feira à Infopress, Yuri Ceuninck disse que receber o Galardão de Ouro pela Fespaco foi uma “sensação extraordin­ária” porque, segundo indicou, a participaç­ão em si já foi um sonho realizado.

Até porque, sintetizou, a sensação de vencer pela primeira vez que um filme caboverdia­no é selecciona­do na competição oficial é “simplesmen­te “incrível”.

“Fespaco sempre me fez sonhar na medida em que vários dos cineastas que acompanho e admiro foram galardoado­s por este incontorná­vel festival, tais como Souleymane

Cisse, Gaston Kabore, Idrissa Oueadraogo e Abderrahma­ne Sissako (…), embora todos na categoria ficção”, precisou a mesma fonte.

Conforme esclareceu, para chegar à final e vencer tiveram como concorrent­es 13 filmes provenient­es de vários países africanos, entre eles República Centro Africana, Argélia, Senegal, Guiné Conakry, Burkina Faso,

Camarões e Costa do Marfim.

O documentár­io que foi à Fespaco foi filmado na ilha de São Nicolau, levou quatro anos para ser finalizado e conta a história do último habitante da aldeia de Ribeira Funda, Quirino Rodrigues, que terá resistido a uma série de trágicos acontecime­ntos que levaram os demais moradores a abandonar a vila para se estabelece­r na vizinha Estância de Brás.

O realizador contou ainda que durante quatro décadas, Quirino Rodrigues, 76 anos, recusou ajuda oferecida por amigos e pelas autoridade­s locais e permaneceu sozinho em Ribeira Funda, que considerav­a a terra do seu nascimento e o túmulo da sua morte, aliás, viria falecer em 2022, durante a pandemia da covid-19.

Vivia da pesca e da agricultur­a, continuou, e tinha como companheir­os um galo e alguns pardais e as notícias do mundo ficavam a sabê-las por um rádio de pilhas.

Para a produtora do documentár­io, Natasha Craveiro, ganhar este prémio foi “mais do que um sonho” e que chegar à Fespaco com a selecção oficial já seria um sonho realizado.

“Ganhar o Galardão de Ouro foi mais do que sonhamos, pois tínhamos a convicção de ter um filme consistent­e, mas era a primeira vez que Cabo Verde era selecciona­do para o festival, fomos cautelosos com as nossas expectativ­as, mas veio o ouro”, congratulo­u-se Natasha Craveiro.

No entanto, a produtora referiu-se aos “vários desafios” que enfrentara­m para realizar e finalizar o filme, uma vez que produzir em Cabo Verde “não é fácil”, destacando que o primeiro desafio era o financiame­nto e o segundo as deslocaçõe­s constantes da ilha de Santiago para São Nicolau.

“Tendo superado o desafio do financiame­nto, recorrendo a fundos internacio­nais, podemos falar da dificuldad­e de sermos ilhas, o documentár­io passa-se em São Nicolau, a equipe técnica vive entre a Praia e Mindelo, tínhamos os desafios que podem imaginar a nível de deslocaçõe­s à ilha, de uma forma geral, e mais especifica­mente, à Ribeira Funda, uma localidade sem vias de acesso para carros. Enfim, desafios havia, mas enfrentamo­s todos como cavalo que corre por gosto e o resultado está aí”, concretizo­u.

“Ganhar o Galardão de Ouro foi mais do que sonhamos, pois tínhamos a convicção de ter um filme consistent­e, mas era a primeira vez que Cabo Verde era selecciona­do para o festival, fomos cautelosos com as nossas expectativ­as, mas veio o ouro”

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Cena do filme do realizador Yuri Ceuninck e da produtora Natasha Craveiro, galardoado há uma semana em Ouagadougo­u

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