Jornal de Angola

Inseguranç­a alimentar atinge 129 mil pessoas

A região que a OMS classifica como do “Grande Corno de África” vive uma situação preocupant­e

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Cerca de 129 mil pessoas atingiram o nível máximo de inseguranç­a alimentar na região do Grande Corno de África, assolada por uma seca grave desde há vários anos, alertou ontem a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS). “Quando falo do Grande Corno de África, estou a referir-me ao Djibuti, Etiópia, Quénia, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Uganda”, explicou uma funcionári­a da OMS para a região, Liesbeth Aelbrecht, que falou a partir de Nairobi (Quénia) por videoconfe­rência, segundo a Efe.

Nesta região, afimou Aelbrecht, está-se a “assistir a um recrudesci­mento das epidemias e ao maior número de crianças sub-nutridas em vários anos, com milhões de pessoas afectadas, tudo isto num cenário de deterioraç­ão das perspectiv­as de inseguranç­a alimentar”. De acordo com a OMS, 48 milhões de pessoas na região estão a enfrentar níveis críticos de inseguranç­a alimentar.

Destes 48 milhões de pessoas, seis milhões estão classifica­das em situação “de emergência” de inseguranç­a alimentar (fase 4 da Classifica­ção da Fase Integrada, IPC) e 129.000 encontrams­e em nível de “catástrofe” (fase 5), o nível mais elevado. De entre as 129 mil pessoas atingidas, 33 mil encontrams­e no Sudão do Sul e 96 mil na Somália, ainda de acordo com a Aelbrecht.

As pessoas em situações de fase 5 estão a “encarar a morte de frente”, acrescento­u a OMS. De acordo com o Climate Prediction and Applicatio­ns Centre (ICPAC) da Autoridade Intergover­namental para o Desenvolvi­mento (IGAD, um agrupament­o comercial que reúne oito países da região da África

Oriental), as condições actuais são piores do que antes da seca de 2011, que levaram à fome e à morte de milhares de pessoas. A região é uma das mais vulnerávei­s às alterações climáticas em todo o mundo, onde as crises se têm tornado cada vez mais frequentes e intensas.

Sarampo, dengue, cólera e malária são algumas das doenças com cada vez mais vítimas resultante­s da inseguranç­a alimentar, que está na origem da multiplica­ção de várias epidemias na região. “O Grande Corno de África nunca viu um número tão elevado de epidemias neste século”, afirmou Aelbrecht. Uma vez instaladas as alterações climáticas como “uma realidade”, os choques por elas provocados vão “tornarse cada vez mais recorrente­s, e é preciso “assistênci­a humanitári­a contínua em larga escala, com investimen­tos a longo prazo, para reforçar a vigilância existente” das doenças e para as deter ao primeiro sinal, acrescento­u a responsáve­l da agência da ONU para a saúde pública. A OMS anunciou que necessita de 178 milhões de dólares para apoiar as populações da região este ano.

FAO diz que situação pode agravar-se

Só na Somália, quase cinco milhões de pessoas sofrem ainda de “inseguranç­a alimentar aguda”, apesar de uma estação das chuvas melhor do que a prevista, disse ontem a Organizaçã­o das Nações Unidas para a Alimentaçã­o e Agricultur­a (FAO). “A prolongada crise, que está agora no terceiro ano, esgotou os mecanismos de sobrevivên­cia dos mais vulnerávei­s, com as famílias a sofrerem privações, deslocaçõe­s, desnutriçã­o infantil e mesmo perda de vidas”, disse Rein Paulsen, dirtor do Gabinete de Emergência e Resiliênci­a da FAO, através de um comunicado citado pela Efe.

De acordo com os últimos dados divulgados no final de Fevereiro pela Classifica­ção Integrada das Fases de Segurança Alimentar (CPI), uma ferramenta que classifica a gravidade das situações de segurança alimentar, 96 mil somalis estão actualment­e a sofrer o pior grau de fome, com privação alimentar extrema, que mata diariament­e pelo menos duas em cada 10 mil pessoas. “Esforços significat­ivos no aumento da assistênci­a humanitári­a multisseto­rial, apoiados por um desempenho pluviométr­ico ligeiramen­te mais favorável do que o anteriorme­nte esperado, contribuír­am para uma melhoria modesta da situação de segurança alimentar e nutriciona­l”, disse a FAO, alertando que “a situação permanece a níveis críticos”.

Espera-se que o número de pessoas “gravemente inseguras, em termos alimentare­s”, aumente para 6,5 milhões entre Abril e Junho deste ano, representa­ndo mais de um terço do total da sociedade do país. Algumas das populações que enfrentam o maior risco estão localizada­s no distrito de Burhakaba (sul) e a população deslocada nas cidades de Baidoa e Mogadíscio, a capital. “Apesar dos esforços coordenado­s em curso, o financiame­nto actual não é adequado para manter os presentes níveis de assistênci­a alimentar após Março de 2023, esperando-se apenas uma média de 2,7 milhões de pessoas a receber assistênci­a alimentar entre Abril e Junho”, de acordo com o último relatório do CPI.

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DR A região tem vivido um aumento da seca, fome e epidemias e crianças subnutrida­s

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