Jornal de Angola

Filme de Daniel Kwan e Daniel Scheinert deslumbra Hollywood com sete Óscares

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“Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” foi o grande vencedor de uma noite de Óscares histórica, iniciada no domingo e prolongada até a madrugada de ontem, ao levar sete estatuetas que incluíram Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Actriz Principal, Melhor Actriz Secundária e Melhor Actor Secundário.

Foi o filme mais premiado desde “Quem Quer Ser Bilionário”, em 2008, e consagrou Michelle Yeoh como a primeira asiática a ganhar o Óscar de Melhor Actriz Principal. Também deu a Jamie Lee Curtis o seu primeiro Óscar e premiou Ke Huy Quan com Melhor Actor Secundário, apenas o segundo asiático de sempre a ganhar esta categoria.

“Este é um momento histórico”, afirmou Michelle

Yeoh na sala de entrevista­s, após a vitória, dizendo que “quebrou o tecto de vidro” com um movimento de Kung-fu.

“Isto é para todos os que foram identifica­dos como minorias”, considerou a actriz. “Nós merecemos ser ouvidos, merecemos ser vistos e ter oportunida­des iguais, para podermos ter um lugar à mesa”, continuou. “Deixemnos provar que nós valemos a pena”. Yeoh venceu contra ‘pesos-pesados’ como Cate Blanchett (“Tár”) e Michelle Williams (“Os Fabelmans”).

Urgindo todos os que têm sonhos a “acender esse fogo na alma”, Yeoh, de 60 anos, também mandou um recado aos que têm preconceit­os contra as mulheres após uma certa idade. “Não deixem que vos ponham dentro de uma caixa, que vos digam que já não estão no auge”, afirmou.

A importânci­a da representa­ção e reconhecim­ento de actores asiáticos também foi abordada por Ke Huy Quan, que venceu um Óscar depois de andar afastado da indústria durante décadas por falta de oportunida­des.

“Quando comecei a representa­r em criança, lembrome de o meu agente me dizer que seria mais fácil se eu tivesse um nome que soasse americano”, disse Ke Huy Quan. Foi por isso que na fase inicial da carreira o seu nome aparecia como Jonathan Ke Quan.

“Quando decidi voltar à representa­ção há três anos, a primeira coisa que quis fazer foi regressar ao meu nome de nascimento”, explicou.

Quan foi o vencedor mais exuberante da noite na sala de entrevista­s, para onde entrou aos saltos e a gritar de alegria. “Conseguem acreditar que estou a segurar uma [estatueta] destas na mão?”, perguntou. “Isto é tão surreal”.

Pelos bastidores também passaram os ‘dois Daniéis’, a dupla de realizador­es responsáve­l por “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo”, que levaram para casa a estatueta de Melhor Argumento Original, Melhor Realização (batendo Steven Spielberg) e Melhor Filme. “Estamos numa crise de saúde mental, em especial a geração mais jovem, que não tem muito por que ansiar”, disse o corealizad­or Daniel Kwan. “Há uma desolação que se infiltra”, continuou, referindo que ele próprio passou por tempos muito difíceis na adolescênc­ia. “O poder radical e transforma­dor da alegria, do absurdo e de perseguir a nossa felicidade é algo que quero trazer às pessoas”, disse, “e este filme é um tiro de alegria, absurdo e criativida­de”.

O produtor Jonathan Wang acrescento­u que a intenção da equipa era que o filme culminasse num abraço caloroso, apesar de ser uma história de caos. “Decidimos dedicar a nossa vida a fazer filmes que são bons e que levam a algo bom, e não apenas a algo que vai obter atenção”, afirmou.

A Academia premiou o trabalho de uma forma que já não fazia há muito. São raras noites de consagraçã­o para um só filme, com poucas excepções, que incluem “Ben-hur” em 1959, “Titanic” em 1998 e “O Senhor dos Anéis: O regresso do rei” em 2004, com 11 Óscares cada.

“Há algo tão inspirador em fazer um filme que nos ensina coisas ao longo do caminho”, reflectiu o corealizad­or Daniel Scheinert. Também Paul Rogers, que levou o Óscar de Melhor Edição, sublinhou o incrível sucesso que esta história estranha e surreal teve.

“Vemos muitos filmes que contam histórias sobre certos tipos de pessoas, e tendem a f o c a r - s e n o h o mem branco”, disse. “E ter esta história linda de uma família emigrante foi incrível”.

A história de “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo” oscila entre o absurdo e o fantástico, centrando-se numa imigrante chinesa de meia-idade (“Evelyn Wang”) que se vê atirada para uma aventura em múltiplos universos e linhas temporais.

A 95ª cerimónia dos prémios da Academia decorreu na madrugada de ontem no Dolby Theatre, em Los Angeles.

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