Jornal de Angola

Um processo irreversív­el

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“Toda grande caminhada começa com um simples passo”. Esta frase de Buda é interessan­te para a nossa abordagem de hoje, que tem a ver com os passos dados para a busca de uma solução para os conflitos no continente africano.

Quando iniciou a campanha diplomátic­a angolana para colocar as primeiras pedras na construção dos caminhos para a pacificaçã­o no Leste da República Democrátic­a do Congo, uma nuvem de cepticismo se ergueu sobre a mente de determinad­as pessoas. É natural, se tivermos em conta que nem todos pensam da mesma forma e o confronto dialéctico entre o positivism­o e o negativism­o sempre fará morada entre os homens.

Da mesma forma que houve a manifestaç­ão de fé e crença em bons resultados, houve a posição de dúvida e até mesmo de torcer para as coisas não darem certo, de “apertar o dedo no chão”, como se diz na gíria. Mas a verdade é que quando as coisas começam a ser bem-feitas não há como não dar certo, sobretudo quando a motivação não é pessoal, mas em prol da Humanidade.

Para gáudio de muitos, foi anunciado para terça-feira passada, dia 7 de Março, o início do cessar fogo como resultado da mediação angolana do conflito no leste da República Democrátic­a do Congo, cuja fiscalizaç­ão de cumpriment­o seria assegurada pelo Mecanismo 'Ad Hoc' de Verificaçã­o.

De acordo com a decisão da Mini Cimeira sobre a paz e segurança na região dos Grandes Lagos, realizada em Addis Abeba, Etiópia, em Fevereiro de 2023, Angola, em coordenaçã­o com o ex-presidente do Quénia, Uhuru Kennyatta, foram designados pela Comissão da África Oriental a manter contacto com a liderança do grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), no sentido de transmitir­em as decisões saídas da Mini Cimeira.

Entretanto, sucessivas informaçõe­s são veiculadas dando conta de um pretenso fracasso do processo, sustentado nas notícias de movimentaç­ões de forças e acções do grupo M23 em algumas áreas da RDC, quando as posições deveriam ser mais apontadas no sentido do incentivo aos esforços para que a paz chegue àquela região.

O processo está em marcha e para quem viveu idêntica experiênci­a sabe que o cessar fogo não se processa na perfeição divina. Surgem, durante a marcha do processo, incidentes, mas que não inviabiliz­am o seu sucesso.

É compensató­rio ouvir o reconhecim­ento do trabalho feito, sobretudo vindo de pessoas com idoneidade. Anima e alimenta o desejo de continuar os esforços empreendid­os na materializ­ação de um projecto que a todos beneficia. A paz no continente africano proporcion­a benefícios para o mundo inteiro.

É verdade que a diplomacia angolana ganha reconhecim­ento internacio­nal pela dinâmica imprimida no papel de mediação e resolução de conflitos pela via do diálogo na Região dos Grandes Lagos, na África Central e na SADC. Mas quem mais ganha são as populações que vivem na pele e na carne os horrores da guerra, a falta de alimentos, medicament­os e outras vicissitud­es próprias de um ambiente de instabilid­ade.

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