Bissau está vulnerável ao tráfico de droga
Peritos da ONU consideram que o país continua a ser um potencial espaço para os traficantes
A Guiné-bissau continua com “potencial contínuo” para ser usado para o tráfico de cocaína por vários actores, refere o Escritório das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC), num relat ório ontem divulgado. “Desenvolvimento recentes, em particular alguns grandes carregamentos apreendidos em 2019, apontam para o potencial contínuo de aquele país ser usado para o tráfico de cocaína por vários actores”, pode ler-se no “Relatório Global sobre Cocaína 2023”, citado pela Lusa.
A Polícia Judiciária da Guiné-bissau apreendeu em Setembro de 2019 1.869 quilogramas de cocaína, a maior apreensão feita no país, e deteve 12 pessoas, entre nacionais e estrangeiros, que foram condenadas pelo Tribunal Regional de Bissau em 2020, incluindo Braima Seidi Bá e Ricardo Ariza Monges, alegados cabecilhas, que acabaram mais tarde absolvidos pela Câmara Criminal do Supremo Tribunal de Justiça. Uma outra operação, realizada em Março de 2019, levou à apreensão de 800 quilogramas de cocaína e à detenção de vários homens e um painel de peritos do Conselho de Segurança da ONU ligou aquela droga a um cidadão maliano sancionado por utilizar o tráfico de droga para financiar o terrorismo, nomeadamente a Al-mourabitoun, filiada da Al-qaida.
Uma terceira apreensão, de duas toneladas, foi feita no Senegal, em Outubro de 2021, que as autoridades senegalesas acreditam que teria como destino a Guiné-bissau. O UNODC cita igualmente relatórios que indicam que as duas apreensões feitas em Bissau envolvem redes às quais pertencem cidadãos da Guiné-bissau, Senegal, Mali e Guiné-conacri e sugere que os traficantes colombianos circulam frequentemente entre a Guiné-bissau e o Sene
gal e a Guiné-conacri.
“Um relatório de acompanhamento sugere que a Polícia Judiciária da GuinéBissau reúna provas que apontam para o surgimento de uma nova rede de actores locais que têm viajado para a América Latina e estão em negociações diretas com congéneres daquela região”, refere a agência das Nações Unidas. No documento refere-se também que o arquipélago dos Bijagós, na Guiné-bissau, parece ter um papel determinante como “ponto de entrada da cocaína”.
“Por exemplo, segundo fontes da imprensa, a ilha de Caravela foi usada como ponto de paragem para 1,9 toneladas de cocaína em Setembro de 2021”, salientase no documento, acrescentando que daquele local a cocaína terá saído por terra para o Mali, via Senegal e Guiné-conacri. “Nós últimos anos, a Gâmbia, o Senegal e Portugal classificaram a Guiné-bissau entre os principais países de proveniência de carregamentos de cocaína apreendidos”, refere o UNODC, acrescentando que a cocaína da Guiné-bissau chega ao Mali via Senegal ou Guiné- Conacri, utilizando a cidade senegalesa de Tambacounda.
No documento refere-se também que os dados apontam que o papel do continente africano, principalmente da África Ocidental e Central, como uma zona de trânsito da cocaína para o mercado europeu aumentou substancialmente em 2019. “A localização geográfica da África Ocidental e Central é uma paragem natural para a cocaína proveniente da América do Sul em trânsito para Europa, especialmente para embarcações que saem do Brasil”, explicase no relatório.
Segundo o UNODC, a curta distância entre a América do Sul e a costa africana é feita entre o estado brasi
leiro de Rio Grande do Norte e o rio de Casamansa, na fronteira entre o Senegal e a Guiné-bissau. A agência da ONU salienta que aquela rota, que inclui Cabo Verde, Guiné- Bissau, Gâmbia e Senegal, é uma das mais utilizadas, tendo em conta as apreensões registadas. No relatório refere-se igualmente que os grupos criminosos brasileiros parecem estar cada vez mais a virarse para países de língua portuguesa, como Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Presidente do Parlamento numa conferência em Moscocvo
O presidente do parlamento da Guiné-bissau, Cipriano Cassamá, viajou ontem para Moscovo para participar na Conferência Internacional Parlamentar Rússia-áfrica num Mundo Multipolar, anunciou a Assembleia Nacional Popular (ANP), citada pela Lusa.
Esta reunião do parlamento russo com a cúpula do poder legislativo dos países africanos insere-se na excelente relação de solidariedade e cooperação sedimentada ao longo de vários anos e visa traçar novas perspetivas políticas de aprofundamento dos laços de cooperação económica e política”, refere, em comunicado, a Assembleia Nacional Popular guineense.
A ANP salienta também que a conferência pretende igualmente “diagnosticar as áreas de intervenção contributiva dos respetivos parlamentos no círculo de uma conjuntura mundial multipolar”.
Cipriano Cassamá viaja acompanhado por três deputados e por um conselheiro jurídico. Durante a sua estada em Moscovo, o presidente do parlamento guineense vai reunir-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, e com homólogos de vários parlamentos africanos.