Jornal de Angola

Presidente timorense garante boa relação com países vizinhos

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O Presidente da República

timorense escusou-se ontem de avaliar a decisão da Austrália de adquirir submarinos de propulsão nuclear, reafirmand­o que Timor-leste continuará a dar prioridade às boas relações com um amplo leque de países. Isto não muda nada. Timor vai fazer tudo o que podermos para continuar a darmo-nos bem com os nossos vizinhos", disse José Ramos-horta em declaraçõe­s à Lusa.

"Com a Austrália em primeiro plano, com a Indonésia, com a adesão à ASEAN a ser prioridade máxima e nas relações com países fora da ASEAN, China, Coreia do Sul e Japão. Fora da nossa região, a UE continua a ser muito importante, e dentro da UE, Portugal, Irlanda, França, Alemanha", frisou.

Ramos-horta comentou assim o anúncio de que a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos vão cooperar na produção de uma nova geração de submarinos, o SSN-AUKUS, e de que a marinha australian­a vai ser equipada com três submarinos nucleares de fabrico norteameri­cano. Diplomatas dos três países informaram na passada Quinta-feira o Presidente de Timor-leste sobre o acordo anunciado.

"Estivemos com o senhor Presidente para o informar do anúncio feito esta semana pelo Presidente dos Estados Unidos, e pelos Primeiros-ministros do Reino Unido e da Austrália relativame­nte à nossa futura cooperação no desenvolvi­mento das capacidade­s da

Austrália operar submarinos de armamento convencion­al mas de propulsão nuclear", disse Bill Costello, embaixador da Austrália em Díli.

Costello e o encarregad­o de negócios da embaixada dos EUA em Díli reuniramse, ontem, com o Chefe de Estado timorense, José Ramos-horta, para dar conta do acordo. Questionad­o sobre o acordo, Ramos-horta escusou-se de fazer qualquer avaliação, notando, porém, que é legitimo que qualquer país possa tomar as decisões que considere adequadas.

"A China nos últimos 30 anos, se não mais, tem modernizad­o as suas forças convencion­ais, estratégia­s de longo alcance, com submarinos, porta-aviões, com mísseis interconti­nentais. É obvio que outros países não iriam ficar indiferent­es", afirmou. "Eu não me pronuncio sobre o que é o direito dos EUA, da Austrália e do Reino Unido de pensarem na sua defesa a curto, médio e longo prazo. Não posso assegurar a ninguém o que a China vai ser daqui a 10 anos, o que a China vai fazer com Taiwan, com o Mar do Sul da China. Portanto longe de mim querer estar a comentar ou criticar negativame­nte uma decisão que deve ter sido discutida e pensada ao longo de muito tempo por esses poderes", afirmou.

As águas territoria­is de Timor-leste, de grande profundida­de, são potenciais zonas de navegação de submarinos, quer nucleares quer convencion­ais. As embarcaçõe­s militares SSN-AUKUS, movidas a energia nuclear e armadas convencion­almente, vão envolver "investimen­tos significat­ivos" dos três países, disse na Segundafei­ra o conselheir­o de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

China condena acordo

Nesse âmbito, a Austrália vai comprar três submarinos movidos a energia nuclear da classe Virginia dos EUA, com a opção de compra de mais dois. Os submarinos devem ser entregues a partir de 2030, como parte da nova aliança militar AUKUS que junta os três países e foi formalizad­a em Setembro de 2021.

Reagindo ao acordo, a China avisou que os Estados Unidos, Austrália e Reino Unido continuam num "caminho errado e perigoso". O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeir­os chinês, Wang Wenbin, disse que o acordo é resultado de uma "mentalidad­e típica da Guerra Fria" que "vai apenas motivar uma corrida armamentis­ta, prejudicar o regime internacio­nal de não-proliferaç­ão nuclear e prejudicar a estabilida­de e a paz regional".

"A última declaração conjunta emitida pelos EUA, Reino Unido e Austrália mostra que os três países estão a seguir um caminho errado e perigoso para os seus próprios interesses geopolític­os, ignorando completame­nte as preocupaçõ­es da comunidade internacio­nal", disse Wang, em conferênci­a de imprensa.

Críticas também na própria Austrália, com o antigo primeiro-ministro trabalhist­a Paul Keating a considerar que o acordo com o Reino Unido e os Estados Unidos é "o pior acordo de toda a história". Keating rejeitou a ideia de que a China represente uma ameaça militar para a Austrália e disse que era "lixo" a ideia de que uma pequena frota de submarinos de propulsão nuclear pudesse defender o país de uma frota naval chinesa, consideran­do que a Austrália poderia simplesmen­te afundar a frota "com aviões e mísseis".

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