Venda do Manchester United com enorme expectativa
Ambas as candidaturas apresentadas levantam questões sobre o potencial conflito em torno da propriedade simultânea de vários clubes desportivos
Quem vai ser dono do Manchester United? Esta pergunta vale uns milhares de milhões de euros, potencialmente um valor recorde para um clube de futebol. O processo está rodeado de muitas dúvidas, desde logo quanto às verdadeiras intenções dos actuais donos. Mas está a avançar. Por estes dias, as duas candidaturas públicas entraram em discussões formais com o clube. E ouviram o presidente da UEFA abrir a porta a uma mudança nos regulamentos que pode facilitar este processo.
Ambas as candidaturas, uma do sheik Jassim bin Hamad Al Thani, membro da família real do Qatar, e outra do britânico Jim Ratcliffe, dono do Nice e do Lausanne, levantam questões sobre o potencial conflito em torno da propriedade simultânea de vários clubes. A UEFA tem em vigor regulamentos que pretendem impedir a participação na mesma competição de clubes que partilhem controlo por um accionista maioritário, em nome da integridade das competições.
Essa é uma tendência crescente. No último relatório sobre a realidade dos clubes europeus, a UEFA concluiu que o número de clubes que partilham donos aumentou perto de cinco vezes nos últimos dez anos, representando já um total de 180 clubes. No mesmo documento, o organismo admitia que essa tendência "tem o potencial de colocar uma ameaça material à integridade das competições europeias, com risco crescente, de vermos dois clubes do mesmo dono ou investidor defrontarem-se em campo". Mas agora Aleksander Ceferin admite rever a regra.
"Temos de repensar esta regulamentação", disse o presidente da UEFA numa entrevista ao programa de Gary
Neville no Youtube. "Há cada vez mais interesse neste tipo de propriedade. Não devíamos apenas dizer não à multipropriedade de clubes", prosseguiu, acrescentando que a decisão tem de ser rápida e admitiu que pondera mudar a regra não só, mas também, por causa do processo do Manchester United.
"Não estamos a pensar apenas no United. Tivemos cinco ou seis donos que quiseram comprar outro clube. Temos de ver o que fazemos, debater e levar o assunto ao Comité Executivo. As opções são ficar como está ou permitir-lhes jogar as mesmas competições. Não tenho certezas".
O fim da era Glazer?
O processo da eventual venda do clube foi desencadeado em Novembro, quando a direcção do Manchester United anunciou que ia considerar todas as alternativas estratégicas, incluindo novos investimentos, uma venda ou outras transacções, para potenciar o crescimento futuro do clube. Estava aberta a porta para o fim da era Glazer. Curiosamente, no mesmo dia em que foi anunciada a rescisão com Cristiano Ronaldo, que deixou o clube depois da entrevista a Piers Morgan em que disparou em várias direcções, incluindo a gestão dos Glazer, que acusou de não quererem saber do clube.
A relação dos adeptos do United com os actuais donos foi conturbada desde que o empresário norte-americano Malcolm Glazer entrou no clube, adquirindo sucessivas parcelas de capital até ganhar controlo total em 2005. Para o fazer, recorreu em boa parte a empréstimos, que se reflectiram em dívida para o clube. A hostilidade de vários sectores de adeptos nunca desapareceu e foi subindo de tom face à crescente quebra de rendimento do clube em campo nos últimos anos.
Depois da morte de Malcolm Glazer em 2014, a propriedade do clube passou a ser dividida pelos seus seis filhos. Alguns deles já venderam parte das suas acções e nesta altura, estima a imprensa britânica, a família tem 69 por cento das acções da empresa detentora do clube, cotada na bolsa de Nova Iorque, estando o restante disperso por vários investidores.
A dimensão do Manchester United, um dos clubes mais populares do mundo, justifica toda a expectativa em torno de uma eventual venda. Com muitos analistas a admitir que, a acontecer, ela se faça por valores recorde. O Financial Times, por exemplo, estimou que pudesse atingir os oito milhões de euros, bem acima do valor do negócio da venda do Chelsea no ano passado, 4.9 mil milhões de euros.
O Manchester United é um dos clubes com maior capacidade de gerar receitas – está em quarto lugar na lista dos mais ricos elaborada pela Deloitte. Mas na última época o clube teve prejuízos 115,5 milhões de libras (cerca de 132 milhões de euros), com o passivo a atingir os 590 milhões de euros.
A dimensão do Manchester United, um dos clubes mais populares do mundo, justifica toda a expectativa em torno de uma eventual venda. Com muitos analistas a admitir que, a acontecer, ela se faça por valores recorde