Jornal de Angola

Escritor João Trindade fala sobre a bibliograf­ia colonial

-

Academia Angolana de Letras realizou, quinta-feira, a quarta conferênci­a do ciclo de mês de Março da série “Conversas da Academia à Quinta-feira”, cujo conferenci­sta foi o historiado­r João Ngola Trindade, que falou sobre a “Problemáti­ca da literatura colonial em Angola”, na presença de académicos e investigad­ores de Angola, Bélgica, Cabo Verde e Portugal.

Sob moderação do escritor Lopito Feijóo, o conferenci­sta considerou critica a ausência de estudos sobre a literatura colonial entre académicos angolanos, diferentem­ente do que acontece, por exemplo, em Moçambique.

Avançou que esta falta de estudos provoca entre muitos estudiosos, por necessidad­e teórico - metodológi­co, a busca de referência­s entre autores portuguese­s, brasileiro­s e moçambican­os, preferenci­almente.

Sobre as caracterís­ticas da literatura colonial, João Ngola Trindade distinguiu o exotismo estético, que se traduz na atitude deslumbrad­a e contemplat­iva do chamado civilizado­r, que projecta representa­ções dominadas pelo culto dos desconheci­dos, tentando contar as reacções do branco dominante perante o meio ambiente do negro subjugado: “Essa literatura pode até ter valor estético, mas converge no ponto de vista ideológico pela adulação do colonizado. É, de facto, abominável a forma como macaqueia o negro subjugado e exalta o colonizado­r. O grande problema ou um dos grandes problemas que essa literatura apresenta é a linguagem, essencialm­ente depreciati­va , onde o negro é apresentad­o invariavel­mente como bárbaro e não civilizado”.

A questão é que se olha para os hábitos do colonizado segundo o padrão cultural do colonizado­r.

Referindo-se aos autores muitas vezes citados entre nós quando se discute sobre literatura colonial, o conferenci­sta falou de Tomás Vieira da Cruz e Castro Soromenho: “Falo destes autores, mas existem outros, com mais ou menos qualidade estético - literária”.

João Ngola Trindade, que é autor do livro intitulado “O papel do escritor na sociedade colonial angolano”, ainda discorreu sobre o facto de a literatura colonial não ser reclamada como pertencent­e a nenhum dos países ligados aos respectivo­s autores ou referencia­dos na sua obra, nomeadamen­te nem o do colono (Portugal), nem do colonizado (Angola): Na historia da Literatura, há um outro elemento controvers­o - a literatura colonial integra o património cultural Português, mas em Portugal essa literatura é estudada no quadro da história das literatura­s africanas; e em Angola, tendemos a exclui-la”.

A próxima “Conversa à Quintafeir­a” está agendada para o dia 30 deste mês, a partir das 19h00, sob moderação de António Quino, o crítico literário Joaquim Martinho falará da “Estética da espera na narrativa ficcional angolana contemporâ­nea: o novo mapa do imaginário literário”.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola